Mas por que economia?

Pedro Sousa
Revista Jabuticaba
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3 min readFeb 18, 2019

Desde que caí no curso de Ciências Econômicas venho ouvindo essa pergunta. Flutuei de disciplina em disciplina durante os períodos iniciais, esperando o momento em que aqueles gráficos, preços, consumos, fórmulas matemáticas, fórmulas estatísticas, demandas e todo aquele arsenal de conceitos consolidados na literatura econômica pudesse fazer sentido lógico e ainda manter meu interesse na graduação.

Mas não foi nada como eu esperava e, apesar de ter conseguido avançar no curso, não conseguia compreender como todos aqueles pontos desconexos sobre micro e macroeconomia se movimentavam e influenciavam a direção dos ventos econômicos. E por muito tempo minha preocupação foi se me faltava algo fundamental para o bom entendimento dessa ciência. Porque parecia, nos períodos iniciais, que a coisa toda se resumia a o quão bom você é em otimizar algumas funções e entender umas regrinhas matemáticas. Na sala de aula, era mais importante o entendimento da estatística e posteriormente apareciam algumas observações sobre o funcionamento do sistema de trocas. Mas a questão é que discutia-se economia depois que o método já fora todo explorado. Era sempre posterior, nunca prioritário.

E assim veio o tempo de algumas frustrações se instalarem. Não era interessante continuar num curso que debatia tão pouco seu conteúdo, mas que a todo momento reafirmava a necessidade de dominação de algum método. E aqui me refiro somente à matemática da coisa mesmo, ainda não havia o menor sinal no horizonte de uma discussão que abrisse o diálogo sobre metodologia num aspecto amplo, abordando técnicas de pesquisa em economia ou ainda entrando no mérito das implicações sociais do funcionamento de todos aqueles conceitos. Teoremas e gráficos organizados numa perfeita métrica que, até então, me parecia bem pouco aplicável e ainda mais difícil de ser comunicada para alguém que só queria uma resposta simples sobre meu interesse em cursar economia.

Dados e números consolidados constituem parte fundamental e necessária na construção de toda e qualquer teoria econômica respeitável, mas tudo isso precisa estar organizado de uma maneira lógica, didática e aplicável para que a mesma possa ser compreendida e, acima de tudo, aceita. No fim, essa transação entre o saber provido pelo método — e às vezes nem isso, mas a dúvida que aquele método pode suscitar — e encontrar uma linguagem que torne possível entender essas noções na vida prática é a grande contribuição dos cientistas econômicos para a sociedade. Os dados e os números são importantes para construir a aparelhagem e definir quais são as melhores peças a serem utilizadas, mas a lubrificação e sua capacidade de operar determinam o funcionamento da máquina.

E entendendo essa “troca fundamental” ficou mais fácil explicar que o porquê de eu estudar economia era, finalmente, tentar compreender o comportamento e a relação das pessoas por meio do Estado, dos mercados, dos consumidores, dos produtores, dos juros e de todos os outros anjos ou demônios econômicos. Porque é a partir da relação entre esses agentes que nasce a economia, nasce a partir da troca. Não que essa seja a definição oficial dos livros-texto, mas é a perspectiva que eu escolhi adotar e que mudou a forma como eu me relaciono com essa ciência. E para mim a ciência não deve ter apenas sentido lógico, deve também me envolver de um forma pessoal.

E cá estamos nós para trocar, seja uma ideia, um dúvida, um conselho, uma informação qualquer ou banalidade. Gosto de pensar nos economistas, ou nos aspirantes como eu, como agentes responsáveis pelas trocas, e foi um pouco disso que nos motivou a escrever sobre o tema. Nós estamos vindo com as jabuticabas, o que pode você oferecer em troca?

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