Oráculo: por que o governo não pode imprimir dinheiro para pagar contas ?

Pedro Sousa
Revista Jabuticaba
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3 min readMar 13, 2019

Um dos princípios básicos que rege a economia de mercado, ensinado para os estudantes logo no início da graduação, é o preço de equilíbrio. De modo bem geral, utiliza-se os conceitos de oferta e demanda de um determinado bem ou serviço para tentar definir por onde deve caminhar um preço adequado, dentro da lógica capitalista, tornando possível a comercialização do produto em questão.

A oferta é dada pelos produtores, são eles que decidem o quanto de produto estará disponível no mercado, e os consumidores são os demandantes de uma quantidade suficiente de bens e serviços que satisfaça suas necessidades e/ou vontades. Esse modelinho básico é comumente ilustrado por um gráfico, sendo que a união entre demanda e oferta, representada pelo ponto exato que essas curvas se encontram, gera um fruto: quantidade e preço de equilíbrio. É o casamento perfeito, até que haja excesso de algum dos lados.

O que de fato importa em toda esta lógica é que os recursos são limitados, não dá pra produzir chocolate indefinidamente, por mais que essa seja uma ideia interessante. Oferta e demanda precisam caminhar numa trajetória equilibrada, pois se um bem está em excesso, há uma desvalorização no seu preço. E o contrário também é válido, se a quantidade de chocolate disponível diminuir, a escassez deste produto o tornará mais valioso, portanto, seu preço será elevado.

A validade dessa regra se dá também para o lado monetário da economia, quando começamos a investigar qual a quantidade de moeda necessária para realizar relações de compra e venda, sem que isso signifique um descontrole de preços e inflação. Em suma, a oferta e demanda de moeda (no lado monetário) precisam variar de acordo com a disponibilidade de bens e serviços que serão comercializados (lado real da economia). Novamente, é preciso que essas variáveis estejam equilibradas, afinal é relação entre o que é produzido e a moeda disponível que determina o equilíbrio ou desequilíbrio monetário.

Agora vamos tratar da moeda, o real nosso de cada dia, como um produto qualquer. A entidade responsável por controlar o volume de dinheiro que circula na economia é o Banco Central, e cabe a este definir o quanto de moeda estará disponível para o país. É por isso que a oferta aqui é apresentada como uma reta.

O que ocorre no gráfico acima é que, de uma hora para outra, o Banco Central resolveu aumentar a oferta de moeda em circulação, da curva 1 para 2, mas a demanda pela mesma não variou. Você pode argumentar que as pessoas sempre demandam mais dinheiro, e eu até concordo, mas consideramos o quanto as pessoas demandam o dinheiro para realizar transações, e não no sentido de enriquecimento. O que importa aqui, afinal, é a relação entre a oferta e demanda. Como resultado, tem-se que o excesso de moeda provoca um aquecimento da demanda agregada e, consequentemente, desvalorização do real, que cai de V1 para V2. Por um lado, os consumidores estão com mais dinheiro e querem comprar mais, por outro, mais dinheiro sem um aumento de produto significa aumento de preços. Sim, a temida inflação!

Com o real valendo menos, o consumo e o poder de compra das pessoas diminui. E agora quando você for ao mercado fazer compras, precisará de um quantidade maior de dinheiro. Relativamente, a quantidade de moeda aumentou numa proporção maior que a quantidade produzida de bens e serviços, e o brinde para quem consome é que agora você pode levar um produto pelo preço de dois.

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