Cotidiano

Cotidiano, ou diário, é tudo o que rola enquanto um dia se sucede ao outro. Cotidiano é o brilho reluzente de estrelas como o Sol, diário é bem verdade, mais que diário, trata-se da própria sucessão dos dias, e das noites. Trata-se do “diano” ao qual se refere o cotidiano.

Cotidiano é o que vemos todos os dias, perfeitamente igual. É o que não vemos todos os dias, e somos indiferentes, é o que acontece aos outros, a quem nós não somos diferentes. Cotidiano é o que acontece sem brilho, cor ou expressão.

O cotidiano acontece enquanto os dias se sucedem, se sucedem as estações, as erupções solares, os colapsos de supernovas, a expansão do universo até a morte térmica do mesmo, cotidiano é um instante cosmológico que não se repete.

Cotidiano não é só acordar e seguir com a vida até a hora de dormir, é a vida que se vive e não se vive enquanto se vive, ou sobrevive. É tanto estar atento a cada momento, quanto ignorar o que não se está atento, ou o que se finge ignorar. Cotidiana é a vida de cada um e de todos.

À medida que as coisas se repetem tornam-se regulares e ignoráveis. Os dias são ignoráveis, o trânsito, as notícias e as pessoas. A alegria torna-se ignorável, a surpresa, o encontro e a intimidade. No cotidiano o tempo passa devagar sem novidade, em marcha passo a passo, dia a dia, volta a volta até parar.

Cotidiana é a busca de novidade, a frustração, o tédio, a fuga da regularidade, fuga de tudo o que já se sabe e que não se quer saber. Cotidiano é por a culpa no outro ou buscar alguém para nos livrar da culpa, remorso, preguiça e desânimo, mesmo que seja um herói da Marvel ou DC. Cotidiano é saber que não há um herói.

Cotidiano são os dias ficarem mais curtos, mais quentes e mais chatos. Assim como chatos são os piquetes dos manifestantes nas ruas, chatos são os discursos e as reclamações, é saber que tudo isto é cotidiano e muda sem mudar, muda ficando mais chato e insuportável.