A fotografia de moda de Renata Cechinel

Revista Letraset
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7 min readApr 2, 2019

Para conhecer um pouco do universo da fotografia de moda, conversamos com a fotógrafa de moda Renata Cechinel para conhecer um pouco da sua história, suas inspirações e um pouco do seu trabalho, curte aí!

RENATA CECHINEL — renatacechinel.com

Por que você escolheu a fotografia?

Renata — Sinto que nasci para esse universo, contar histórias através da imagem de moda, de produção criativa, do diálogo visual. Descobri essa paixão aos 14 anos (2004) quando ganhei minha primeira cyber-shot. Até os 20 era hobby, tentei fugir da profissão iniciando outra graduação, não adiantou, acabei abandonando minha primeira faculdade — antes de concluir ela — para estudar fotografia. Simplesmente não me imagino atuando em outro mercado. Meu lifestyle é totalmente focado nisso, na pesquisa e aplicação de identidades visuais através da moda e fotografia.

Há quanto tempo você atua no mercado fotográfico?

Renata — Minha primeira experiência no mercado de trabalho foi em 2008 como assistente de figurino em um longa-metragem catarinense (Criciúma). No início da faculdade de fotografia em 2011 (Florianópolis), comecei a atuar como stylist, me inserindo cada vez mais no ciclo criativo no norte do estado. Somente após a finalização da minha graduação em fotografia (2014) que iniciei minhas atividades profissionais na área. Tive um crescimento especial nos últimos 2 anos, quando retornei para Criciúma e construí meu próprio estúdio, focando profissionalmente no mercado de moda do sul de SC — além de atender clientes de todo o estado, outros estados e outros países.

Na sua opinião, quais são os maiores desafios encontrados no seu caminho estando inserida em um mercado composto majoritariamente por homens?

Renata — Só quem é mulher sabe o quanto é difícil se inserir, conquistar a confiança, ter credibilidade no mercado. Para os homens, sempre será mais simples, mais rápido, nós mulheres temos que fazer o trabalho em dobro, 3x mais, 4x mais que eles, só assim conseguimos nos destacar entre empresas e empresários. Em um mercado masculinizado e contraditório (contraditório porque a maior parte da demanda fotográfica de moda, é para o consumo do público feminino), nós mulheres somos frequentemente subestimadas. A fotografia de moda e publicidade são segmentos mais técnicos, envolve maior domínio, muitos equipamentos, resultados mais complexos, investimento financeiro maior por parte das empresas e muito mais responsabilidade com o resultado final por parte do contratado(a). Esses são alguns dos motivos que — infelizmente — fazem muitos empresas ainda não ter confiança na contratação de mulheres para esses serviços, o pré conceito de que nós não somos tão capazes quanto os homens de gerenciar um trabalho de tal complexidade e guiar grandes equipes nessa trajetória. Muitos talentos reais são perdidos por conta dessas atitudes, um grande atraso para todo o cenário artístico, visual e publicitário.

Como iniciou sua relação com a moda?

Renata — Foi uma construção de anos: das fotos antigas da minha avó, dos retalhos de tecidos para criar roupas de boneca, das antigas revistas Cláudia anos 80 da minha mãe, da minha pré adolescência usando internet discada e pesquisando imagens referência e catalogando elas no antigo Windows, dos tempos de ouro da minha família, da falência, da necessidade de ser criativa sem grana, dos brechós aos 17 anos, da descoberta da boa música, do cinema antigo, dos grandes designers, do jazz… tudo isso me fez ter uma ligação intima com todos os temas relacionados a moda, além do constante estudo e pesquisas independentes, em livros, sites, vivendo entre curiosos e especialistas. Como falei anteriormente, minha relação com moda e fotografia é de identidade.

O que você busca em seus trabalhos?

Renata — Embasamento, consistência, informação, criatividade e bom gosto sempre — sem precisar cair no clichê do luxo. Trabalho comercialmente com fotografia, vivo da profissão, aprendi a dançar a dança do mercado, mais profissionalismo e menos utopia, mas tanto fotografia quanto moda são formas de comunicação, elas expressam tendências, comportamento, psicologia, momento social e político. Estou sempre buscando inserir pontos de informação e debate, seja em projetos autorais ou campanhas, acredito que isso seja o meu diferencial, a forma como o meu portfólio se apresenta é mais completa.

Como você define o seu trabalho?

Renata — Nem o melhor, nem o pior, apenas meu, minha perspectiva, minha identidade pessoal e visual, minhas inspirações, e isso fica nítido toda vez que produzo novo material e componho ele com o portfólio já existente, seja autoral ou comercial. Mais uma vez tenho um álbum de imagens que conversam entre si, nas cores, na direção, na produção, da edição, em todos os elementos. Isso para mim é enriquecedor, especialmente por conseguir atender o mercado comercial sem perder esse feeling pessoal, sem perder quem eu sou! Até alguns anos atrás muita gente falou que eu nunca daria certo na profissão, que eu não sabia entender o que as empresas queriam. Nesse momento posso falar com bastante felicidade, que todas elas chegam até mim pois querem minha identidade visual em seus catálogos, e o fluxo e crescimento só aumentam, considero isso uma vitória, minha perspectiva vencendo a preguiça de muitos outros profissionais, que nunca tiveram real talento, visão e persistência.

Como foram suas experiências fora do Brasil?

Renata — É sempre maravilhoso viajar para fora do país, passar um tempo morando em outro local, outras perspectivas, outras culturas, outras formas de organização, trabalho e contato social, é enriquecedor para qualquer ser humano disposto a desapegar de suas crenças e visualizar o mundo de maneira ampla. Minhas experiências morando fora do país, viajando para diversos lugares e inclusive fotografando campanhas no exterior, são ótimas, de puro crescimento pessoal e profissional.

Sobre meu trabalho especificamente, aprender a respeitar a cultura local, a forma de trabalho e organização deles, saber se comunicar com os cidadãos e autoridades, respeitar os limites e as exigências, é fundamental para fazer dar certo. Para quem pensa em crescimento sólido e a longo prazo, cuidado sempre para não trocar os pés pelas mãos!

Você se arrepende de algum ensaio fotográfico? Como você acha que podemos melhorar através de nossos erros?

Renata — Estamos sempre dispostos a dar o nosso melhor, mas nem sempre você gosta do resultado, é inevitável. Nesse momento é importante entender o que te desagrada: a luz? o cenário? a modelo? o stylist? a maquiagem? você teve tempo o suficiente para criar? em caso de externa, a previsão foi favorável? você tinha todos os equipamentos necessários para a melhor execução? Enfim, são N fatores. O profissional precisa observar e descobrir “qual das frutas azedou o suco”. São essas observações que fazem a gente crescer, se tornar expert, errar cada vez menos. Me arrependo de alguns trabalhos antigos, de quando iniciei na carreira de forma ainda amadora. Talvez de alguns novos — mas muito poucos. Praticamente não existe arrependimento quando o trabalho é para empresas comerciais, onde todo o processo é pré definido e confirmado pelo cliente na pré produção, como questões de direção de arte, direção de modelo, luz, enquadramentos etc. Nesse sentido, todo o resultado final já é esperado.

Melhoramos sempre que estamos dispostos a enxergar nossos erros, reavaliar e aplicar de maneira diferente. Melhoramos quando profissionalizamos, quando criamos um senso de responsabilidade com nosso trabalho e com quem contrata ele.

Quais fotografias marcaram sua carreira?

Renata — Difícil lembrar só de uma. Mas de maneira geral, todas as fotografias que fiz e que mais gosto, que mais representam minha identidade visual — seja autoral ou comercial — estão na seleção de 100 imagens disponíveis no meu site, compondo um mural de cores, formas e estilos.

Quais são as suas inspirações?

Renata — Minhas inspirações são bem diversas e ao mesmo tempo bem definidas. Costumo lembrar que criei meu senso de estilo aos 15 anos (2005), quando iniciei pesquisas independentes na internet sobre moda, música, cinema e artes em geral, além de garimpos no armário da vó, da mãe e logo depois em brechós. Sempre fui muito curiosa e persistente e sempre me dediquei a entender muito sobre os temas que mais me interessavam. Por conta disso, fui adquirindo uma bagagem cultural cada vez maior, o que reflete em cada trabalho que faço. Fico feliz quando amigos, seguidores e até clientes, citam o quanto é fácil reconhecer uma fotografia minha, isso é feito de maneira totalmente inconsciente, mas representa o quanto minha identidade visual é forte e consistente. De maneira geral, sou apaixonada por jazz, por cinema antigo, por roupas vintage, pela boemia, por viagens, por culturas de todo o mundo, pelos signos de todas as décadas, pela história da arte, por pessoas que conquistaram coisas incríveis sem se corromper. Estar cercada de cada uma dessas inspirações me deixa confortável e preparada para o próximo passo.

Qual é a sua perspectiva do futuro?

Renata — Todos nós sabemos os nossos próprios limites, o importante é sempre estar confortável na sua própria situação. Auto conhecimento ajuda muito nesse processo de aceitação do passado, de realização do presente e de perspectivas para o futuro. Tanto a ambição quanto o ócio podem ser pontos positivos para o profissional, basta entender os limites e aplicações saudáveis de cada um deles na sua vida. Sigo sempre em frente, com minhas convicções, meu esforço e respeito por quem me cerca.

Confira Alguns de seus trabalhos:

Texto de Filipe Fraga, Sofia Donato, Roberta Geremias e Joice lumertz, acadêmicos de Design da Faculdade Satc.

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