Por todas as mulheres

Jennifer Telles Toledo
Revista Letraset
Published in
7 min readMay 10, 2018

uma experiencia sobre autoestima, fotografia, design e mulheres. Um breve texto sobre o desenvolvimento do projeto que originou o meu TCC, intitulado “ A fotografia e a (auto) narrativa no desenvolvimento editoral de um livro temático com ênfase na autoestima feminina”

Foto de: Jennifer Toledo e Natália Silveira

A fotografia existe há muitos anos tendo seu valor e sua utilização alterados ao longo do tempo, de modo que se faz cada vez mais importante compreendermos sua aplicação nas mais diversas áreas da vida dos indivíduos, como por exemplo, na construção da autoestima, em uma sociedade fortemente atrelada a padrões de beleza.

Sabemos que a autoestima está diretamente ligada na forma que cada indivíduo vê a si mesmo, neste sentido, autoestima é um sentimento singular e subjetivo, desenvolvido em cada pessoa, mas que recebe influência de fatores externos, sobretudo em cobranças midiáticas e sociais.

Em face de tal realidade, surgiu o interesse de compreender de que modo a fotografia pode exercer um papel positivo sobre a autoestima de mulheres com as mais variadas características, visto que, entre as mulheres, os padrões de beleza imputados pela sociedade e a mídia são mais pautados do que entre os homens.

A Definição do tema

Baseando-se nos fatos já citados, surgiu o livro Venus: por todas as mulheres, que conta com fotografias e relatos de histórias de vida e experiência de mulheres ao serem fotografadas, no intuído de contribuir em sua autoestima, através do retrato das mesmas e de tantas mais que desfrutem desse livro.

A ideia do livro surgiu de uma vontade, vontade essa de mostrar o real sentido de ser mulher, de contar histórias de mulheres extraordinárias, e mostrar que elas existem de todas as formas. Elas não são as mulheres “para casar”, não são só as belas, recatadas e dos lares, e nem só aquelas que negam todos os estereótipos de gênero impostos pela sociedade.

Fotos de: Jennifer Toledo e Natália Silveira

As mulheres extraordinárias são as que lutam contra uma doença, que superam uma deficiência, são as que assumem cargos de chefia, são as donas de casa, são as que desafiam os padrões impostos pela sociedade, são as orgulhosas de seus biótipos, são as que enfrentam de cabeça erguida todas as situações do dia a dia, elas são todas as mulheres que estão ao seu lado.

Todas essas mulheres, fortes, reais e com voz própria, com suas histórias, desafios, qualidades e defeitos, formam uma amálgama verdadeiramente interessante e verossímil que contribui imensamente para a riqueza do nosso cotidiano. E o que é mais lindo e incrível é que elas são várias e, acima de tudo, imensamente variadas. Nenhuma delas pode ser substituída por outra. Todas são únicas e tem seu próprio valor, que independe de qualquer situação em que estejam inseridas. E isso, em um mundo que teima em desmerecer o verdadeiro valor da mulher, é algo que merece ser reconhecido. Elas mudaram, erraram, venceram, perderam, aprenderam e para outras mulheres e meninas esses exemplos são imensuráveis.

Fotos de: Jennifer Toledo e Natália Silveira

Metodologia de pesquisa

Neste projeto foi utiliza-se da metodologia projetual, estabelecida por Archer (1961) como a proposta de aliar um conjunto abrangente de princípios e, por intermédio de sua metodologia, denominada Systemic Method for designer sugere que o procedimento de design, de forma geral, é constituído fundamentalmente por três etapas, são elas: a fase analítica, fase criativa e a fase executiva.

Fase Criativa

Durante a idealização do projeto gráfico do livro por meio de wireframes, foi determinado o uso de 5 fotos para cada participante. Posterior a essa etapa, iniciou-se a elaboração de todos os elementos gráficos fundamentais para o planejamento editorial do livro, tais como: tamanho/formato, fontes, cores e fotos.

A fonte estabelecida para o corpo de texto foi a FS Sally. É uma fonte serifada, possui uma família completa. É uma fonte paga, resultado de um design clássico, porém assimétrico, discretamente elegante, descomplicada e traz sofisticação ao texto e ao tipo de exibição, pois oferece uma legibilidade distinta para volumes grandes e pequenos de texto, as serifas das letras “a”, “d” e “u” adicionam movimento ao ritmo.

Para títulos, textos e frases em destaque, foi definida a fonte Gobold, é uma fonte sem serifas, é o mais simples e legível dos tipos de fontes, pois a ausência de serifas dá-lhes uma própria distância. A Gobold possui uma combinação entre altura e espessura que lhe atribui uma determinada força, fator esse que coincidiu plenamente com o tema proposto para o projeto, é uma tipografia gratuita e apresenta uma família completa.

A diagramação é a etapa de concepção do livro, em que o designer pode dar livre curso às mais variadas manifestações de bom gosto, e está intimamente ligada à composição gráfica, e possui alguns fatores distintos que lhe são próprios.

Considerando a temática feminina atribuída ao projeto, a cor determinada como predominante é a rosa claro ou rosê quartz, que foi definido em 2016 como a cor do ano pela Pantone Inc., é um tom que está repleto de significado político e existencial como resgate das lembranças da infância e a moda sem gênero, além de evocar romantismo, ternura e conforto. De acordo com a psicologia das cores, o rosê quartz é um tom persuasivo, mas também suave, que transmite compaixão e certa compostura.

De acordo com a marca Pantone Inc. em muitas partes do mundo há uma indefinição entre os gêneros masculino e feminino, especialmente na moda que, por sua vez, impacta as tendências de cores em todas as outras áreas do design. Essa abordagem unilateral da cor coincide com movimentos sociais em relação à igualdade de gêneros e fluidez, com uma maior liberdade do consumidor no uso da cor como uma forma de expressão.

Neste projeto, a fotografia exerceu papel fundamental, já que o estudo realizado pretendia relatar de que modo à execução de um ensaio fotográfico poderia auxiliar para o aumento da autoestima das mulheres.

Durante o processo criativo também foi definido que todas as fotos passariam por tratamento e edição de imagem, de modo a torná-las preto e branco. A fotografia em preto e branco reserva sempre a essência e sentido das coisas, visto que, sem a possibilidade de distração que as cores carregam, é possível preservar o objetivo, foca nos conceitos e na comunicação com o leitor.

Na seleção de imagens, a preocupação foi a expressão natural, confortável das participantes. O intuito com as imagens destacadas foi de demonstrar que se sentiram à vontade, escolheram as poses que gostariam de demonstrar e foram respeitadas nesse intuito.

Conclusão

Os relatos destas mulheres apontaram que a autoestima é um fator altamente influenciável, pode aumentar ou reduzir de acordo com a própria pessoa, mas também em face de fatores externos, fazendo-as acreditar que não se enquadram socialmente em função de aparência ou outras características e, assim, podem ter diferentes âmbitos de sua vida atingidos.

No caso da fotografia, esta ferramenta auxilia as mulheres a perceber que cada uma delas apresenta uma beleza singular e específica, que não precisa ser comparada a outras pessoas, deve ser valorizada por elas como uma especificidade positiva e diferenciadora, não um fator de inferiorização.

Através dessa experiencia pude afirmar que a fotografia e os relatos pessoais documentados em um livro podem ser capazes de se transformar em importantes ferramentas para a autoestima feminina, espelhando de forma positiva na construção de um bom relacionamento das participantes com a sua própria imagem. Do mesmo modo que o design editorial contribui para que este projeto possua aspectos visuais e estéticos condizentes com a proposta.

Nós, como mulheres, estamos juntas nessa luta, vamos lutar para mostrar que somos muito mais do que corpos, e corpos são muito mais do que aparência estética, precisamos auxiliar as mulheres a perceber que cada uma delas apresenta uma beleza singular e específica, que não precisa ser comparada a outras pessoas, deve ser valorizada por elas como uma especificidade positiva e diferenciadora, e não como um fator de inferiorização.

Esse projeto fez parte do meu trabalho de conclusão do curso de Design, com habilitação em Design gráfico, se quiser saber mais é só acessar nesse link.

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