Simplesmente Laertella

Revista Letraset
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5 min readMar 11, 2019

Apaixonada por moda desde sempre, Laertella faz jus a personagem criada há um ano. Junção do próprio nome Laertes com Donatella (em referência a estilista da Versace), a drag queen se intitula uma “Diva Melancólica Fashionista”. Nesta entrevista, ela afirma que ser drag vai muito além de uma manifestação artística, é um ato político. Mencionou projetos futuros, lembrou da participação do São Paulo Fashion Week do último ano e falou sobre inspiração para as suas criações.

Você se considera Drag Queen ou Transformista? Fale um pouco sobre a diferença entre as duas.

Laertella — Drag Queen é um termo mais artístico, homens que se vestem femininamente e de forma mais exagerada, é algo mais teatral.

Transformista é aquele homem que se veste como mulher, mas não tem nenhuma intervenção cirúrgica em seu órgão genital, aqui temos algo que é mais a ver com identidade.

Por que o nome “Laertella”?

Laertella — Como eu sempre tive esse lado de gostar de moda mais aflorado, um amigo meu me chamava de Laertella que é a mistura do meu nome Laertes com o da estilista Donatella Versace. Sempre achei divertido, e quando comecei a pensar na possibilidade desse personagem existir, já pensei de cara em usar esse nome.

Quais as características da sua identidade Drag e da sua própria identidade, e como você consegue separar tudo isso, no seu dia a dia?

Laertella — Bom, minha personagem não é muito exagerada no jeito de ser, sempre sorrir e ser educada é algo que levo bastante a sério quando estou montado, precisa ser cativante! No meu dia a dia eu sou mais quieto, mais introspectivo. Naturalmente com o tempo você vai amadurecendo e construindo o seu personagem, que acaba tendo alguns traços seus, mas potencializados ao luxo de estar sendo uma drag!

Quando a Laertella surgiu em sua vida? Há quanto tempo você trabalha com ela?

Laertella — Surgiu há um ano e desde então não parei.

Como você constrói seus personagens?

Laertella — Eu sou bastante exigente em relação ao visual, preciso estar impecável porque você está sempre em contato direto com o público. Eu tenho uma linha de Diva Melancólica Fashionista que permeia entre estilos diferentes… mas é sempre a mesma identidade da Laertella.

Ao sair na rua como drag, você já sofreu algum tipo de preconceito?

Laertella — Não, pelo menos ninguém teve coragem de falar na minha cara e o que é dito pelas costas eu não fico sabendo. Acho que consegui levar meu trabalho muito além do universo LGBTQ, o que fico muito feliz porque precisamos pensar em drag como algo universal também. Mas ainda tem muito o que se fazer sobre isso, não estamos ilesos!

Fale um pouco sobre os bastidores?

Laertella — É correria, dor, calor e cansaço. Tudo aperta, são vários elásticos, cintas de aperto, meias... Fora o período que antecede o evento que é onde costuramos, colamos, fazemos ensaios e nos preparamos para a lacração!

Houve algum acontecimento marcante durante suas apresentações?

Laertella — Sempre é marcante, porque é sempre único! A troca de energia com as pessoas, conhecer pessoas diferentes com histórias diferentes são oportunidades maravilhosas! Mas sem duvida ir ao São Paulo Fashion Week montado e dar as minhas primeiras entrevistas como Laertella foi surreal!

Participação no São Paulo Fashion Week em 2018.

Como você avalia sua trajetória até agora? E quais são suas expectativas para o futuro?

Laertella — Acho que ainda estou em construção. Ainda tenho muito aaprender e melhorar. Meu próximo passo com a Laertella é um projeto de Drag Queen performer com Dj set, está em construção mas em breve irá estrear!

Ser drag nos últimos tempos é mais do que uma manifestação artística, mas também política. O que Laertella acha sobre este tema?

Laertella — Acredito que sim, é uma manifestação artística que vai muito além dos limites da arte, porque mexemos com um sentimento que todas as pessoas têm em comum. Um sentimento de liberdade, de ir além dos seus limites. É preciso muito auto conhecimento para se libertar e assumir um personagem, você abdica de várias coisas do seu dia a dia comum e ganha uma permissão que você não tem para fazer certas coisas, ser quem você quiser, e isso provoca pessoas, instiga, politiza porque elas se questionam sobre, e acho que todo mundo tem dentro de si esse anseio por ser quem realmente é.

Quais são as drags nacionais e internacionais que representam a sua personagem e porquê?

Laertella — Olha, acho que temos estilos completamente diferentes, mas eu me inspiro muito nas nacionais Hallesia Rockfeller, Bianca Dellafancy e nas internacionais como Rupaul, Violet Chachick, Miss Fame, Pearl. Elas tem o perfil de estética para qual eu mais tenho como referencial.

Na sua opinião o que a cultura Drag precisa para continuar?

Laertella — Mais Drags. (Risos) Acho que no Brasil isso está começando a ter visibilidade e apoio de pouco tempo pra cá. Eu sou dessa geração nova, que veio conhecer essa arte recentemente, e de cara me apaixonei e me senti encorajado a assumir! Precisamos de apoio, de lugares para show, lugares para podermos atuar com nosso trabalho, aos poucos isso vem mudando…

As produção feita em suas apresentações são criações suas?

Laertella — Normalmente são sim, são looks que eu desenho e tenho alguns comprados prontos, mas sempre crio algo para deixá-lo mais exclusivo como acessórios, uma peruca mais exagerada… O visual precisa ser sempre exclusivo!

Qual sua relação com seus fãs? E como você lida com os haters ou críticas nas redes sociais?

Laertella — É um contato maravilhoso que só tem crescido cada vez mais. A cada evento eu sinto mais o amor das pessoas comigo e com o meu trabalho, é gratificante!

Bom, haters e críticas sempre vão existir, críticas construtivas, negativas… gente espalhando ódio gratuitamente, mas acho que é sempre importante fazer uma reflexão e ver o que realmente vale a pena… mas não me preocupo com haters, normalmente são pessoas que precisam de amor e encorajamento.

Deixe um recadinho, um “fica a dica” para os leitores da revista Letraset.

Se você tem vontade de se montar, se monte! Experimente, vivencie! Se tem algo em você precisando sair independente do que seja, assuma isso para si, assuma a sua verdade! Não existe nada mais gostoso do que viver a vida com auto conhecimento, sabendo quem você realmente é e fazendo o que gosta!

Texto de Filipe Fraga, Sofia Donato, Roberta Geremias e Joice lumertz, acadêmicos de Design da Faculdade Satc.

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