Sobre a Arte de Talhar: Gil Galante

Revista Letraset
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4 min readAug 8, 2019

Gil Galante mostra como a madeira possui versatilidade, criando artefatos que vão desde as esculturas aos instrumentos musicais.

Gil Galante carrega consigo mais de 35 anos dedicados à arte. Já tendo percorrido o mundo, o artista plástico criciumense escolheu uma casa na zona rural da cidade em que nasceu para levar uma vida tranquila ao lado de seus dois cachorros e de suas numerosas obras de arte.

Ao longo da carreira, Gil já trabalhou com várias ramificações da arte. Desde a música, a dramaturgia, até o estilo hippie. “Vivi como artista de rua, viajando o país. Embarquei no cicloturismo e fiz quatro países de bicicleta. Conheci a cultura Inca, conheci com detalhes várias culturas da América Latina que permitiram ampliar a minha identidade”, lembra.

Contrário à vida controlada por rotinas, Gil embarcou nesta empreitada cedo. Sem se arrepender, tem dentro de si o mesmo espírito da época da juventude.

“Eu saí de casa com 16 anos, não concluí meus estudos. Saí pra conhecer um pouco mais do que seria essa tal de Arte… E aí, desde então, não parei mais. Continuo até hoje, com 55 anos de idade e vivo tentando ser artista. Tentando aprender com as pessoas que eu encontro no caminho. Tudo é aprendizado nessa sequência de ser artista, de ver a vida de uma maneira diferente”, conta.

Além da rotina, um outro substantivo que não existe em seu vocabulário é o limite. A partir do desafio de se reinventar, Gil passou a ser escultor. Depois, começou a esculpir em madeiras. E agora, se dedica a luthieria, fabricando violões, dentre outros instrumentos musicais.

“Eu entrei em um processo que venho passando de uma coisa para outra. Tipo na madeira, conhecendo outros materiais. Aos 55 anos, hoje eu me pergunto ‘cara, qual é o meu limite?’ A minha liberdade eu conheço. Então, começo a conhecer o outro limite da madeira: vamos fazer violão”, explica.

Esse autodesafio o transformou em um dos únicos luthiers em Criciúma. Gil misturou o seu próprio estilo com os ensinamentos que recebeu de escultores mais experientes em seu início de jornada para chegar ao trabalho que exerce hoje.

“Digamos que eu passei por mãos de caras que eu não sabia que eram, e hoje, olhando para trás, eu digo ‘caramba, aquele cara me ajudou muito.’ A escultura minha já veio comigo. Então, quando eu era um artesão de rua, um hippie, como todos chamam, eu caí na joalheria, no mundo das minúcias. Foi aí que aprendi a usar outros tipos de ferramentas que hoje acabo usando na escultura também. Foi um processo natural dentro de mim, que foi crescendo, como um rio que vai fluindo”, aponta.

Fugindo mesmice, Gil chegou a um cenário novo, em que lutou para se adaptar. Foi assim que surgiu a ideia de fazer violões, trabalhando com outros tipos de madeira. “Vou testando meus limites como artesão. Tem uns dois anos que to começando como luthier, e já tem saído umas peças interessantes.”

LUTHIERIA: UM NOVO DESAFIO

Na luthieria se utiliza muitas madeiras importadas, pelas propriedades do material. Porém, Gil busca traçar um caminho diferente, fazendo uso com o que temos em nosso país. “A madeira europeia tem mais resistência e sonoridade, mas venho pesquisando mais as madeiras locais, que temos aqui: canela-preta, peroba, o nosso cedro, enfim… Tento fazer uma composição que seja interessante pra dar um timbre próprio, tentando não só mais um instrumento, mas um instrumento que agregue um pouco mais”, relata.

O que o motiva a continuar vivendo a arte de forma intensa? A resposta é simples. “É o aprendizado diariamente. É que talvez eu consiga fazer um trabalho bom para deixar de referência para alguém. Eu sinto algo que pulsa diariamente dentro de mim, como algo constante, algo que pode transformar uma sociedade, pode agregar muito valor a uma sociedade. Por isso que não largo a arte”, afirma.

A chance de deixar um legado aos futuros artistas plásticos, escultores ou luthiers é a melhor recompensa que Gil pode receber. Além disso, ele também quer que seu estilo de vida possa servir de exemplo para que mais pessoas incorporem o espírito “livre e explorador” que Gil Galante é.

“Quero deixar o melhor de mim melhor a essa sociedade e ao meu tempo. O que eu posso deixar para as pessoas é encorajar elas a enxergar a vida de uma maneira diferente, e não essa maneira cartesiana que conhecemos”, conclui.

Fotos: Gustavo Bosa/Entrevista: Bruna Pereira, Daniela Anzolin, Fernanda Milioli e Gustavo Milioli/Matéria: Gustavo Milioli

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