Ver a vida passar e seus dois sentidos
Por Elisama Nunes.
Andamos cansados. Eu, pelo menos, ando muito cansada. Sinto como se o tempo estivesse passando muito rápido nesses dias. Como se eu estivesse correndo para algo inútil. Salomão parecia ter essa sensação quando falava que tudo era correr atrás do vento. Mas, recentemente, parei para pensar: correr atrás do vento diz respeito a sua vida não estar apontando para Deus.
Cecília Meireles, em um de seus poemas fala:
Eu canto porque o instante existe
E a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
Sou poeta.
(parte do Poema Motivo, de Cecília Meireles).
Bem, mas o que esse poema tem a ver com Salomão e com o cansaço dos nossos dias?
Vamos tentar pensar juntos: a bíblia fala que em Deus “vivemos, e nos movemos, e existimos” (Atos 17, 28), ou seja, nossos dias, nosso tempo, nossas escolhas estão todas se movendo em Deus. Mas o que pergunto para você e para mim hoje é: será que temos corrido, vivido, existido apenas para satisfazer os nossos anseios maus?
Se assim estamos vivendo, há uma grande chance de que não temos notado os dias passando porque simplesmente não nos deleitamos em Deus.
E como é preciso deleitar-se no Senhor.
Cecília Meireles parece ter compreendido isso em seu poema, pois ela diz que sua vida está completa naquele instante. O instante de poetizar.
E sabemos que os teólogos e místicos já pincelaram esse assunto dos poetas falarem sobre aquilo que está além da linguagem. Sendo assim, tente ser um poeta dos seus dias.
Tente tornar a simples paisagem que você vê todos os dias em um momento a sós com seu Criador. Um momento valioso que faz com que seu tempo seja gasto de forma valiosa.
Tente ouvir a melodia de uma música com atenção. Sinta o que o momento diz sobre seu Criador.
Observe uma obra de arte com cuidado. Busque prestar atenção às pequenas coisas que ali tocam em seu coração.
Convido você, leitor, a parar sua rotina pesada e se perguntar:
A quem isso aponta?
Não deixe que a ideia de “super produzir” de “super possuir” consuma seus minutos tão breves nesse mundo. Cito Saint-Exupéry, para terminar:
“(…) o essencial é invisível aos olhos”.
Ressignifique seus dias e habite poeticamente o mundo (assim como o filósofo Heidegger já dizia), mantenha seus olhos naquilo que é eterno. E para terminar de verdade:
Por isso não desanimamos. Embora exteriormente estejamos a desgastar-nos, interiormente estamos sendo renovados dia após dia, pois os nossos sofrimentos leves e momentâneos estão produzindo para nós uma glória eterna que pesa mais do que todos eles. Assim, fixamos os olhos, não naquilo que se vê, mas no que não se vê, pois o que se vê é transitório, mas o que não se vê é eterno (2 Coríntios 4:16–18).