Cinemas passam por transformações e voltam as cidades do interior

Lucas Honorato
Revista Mercatus
Published in
4 min readJun 27, 2018

Os cinemas de rua foram migrando para os shoppings center a partir da década de 1990. Com isso, as cidades do interior perdiam esses espaços de entretenimento e apenas voltariam salas de exibição anos mais tarde

Os cinemas migraram para os shoppings centers e atualmente os dois termos são considerados praticamente sinônimos (Foto: Lucas Honorato)

Por vários anos, os espaços de exibições cinematográficas estavam localizados nas regiões centrais das capitais, em bairros circunvizinhos e em cidades do interior do estado. A combinação entre expansão dos shoppings centers pelo país; perda de significação daquelas localidades; e surgimento de mídias, aparelhos de exibição domésticos e videolocadoras contribuiu para a redução do público que frequentava esses espaços, culminando no encerramento das atividades dos conhecidos cinemas de rua. As salas de exibição migraram para os novos centros comerciais.

Mas essa migração foi desigual e centralizou os espaços de exibição em algumas poucas localidades, assim como ocorreu em terras sergipanas. Os diversos cinemas que existiam na região central da capital como o Cine Palace, Cine Teatro Rio Branco e Cine Vitória, tiveram seus tempos áureos até que o Centro de Aracaju perdesse o brilho que possuía, a cidade se expandisse e as famílias que ali frequentavam passassem a residir em outras localidades. No interior do estado, os fatores que culminaram no fim das atividades também estão atrelados a queda de público, a pouca diversidade de filmes e posteriormente às fitas de vídeo VHS.

Diante desses cenários, em cada última noite, o cinemas iniciaram seus projetores e, ao final das sessões, apagaram as luzes e fecharam as portas, dessa vez em definitivo. A partir de 1989, com a inauguração do primeiro shopping de Aracaju, no bairro Coroa do Meio, vieram as duas primeiras salas de cinema dentro de um centro comercial sergipano. Acontecimento que traria nos anos seguintes o conceito de multiplex — vários cinemas reunidos em um único local, um complexo — para o estado.

A capital crescia. No ano de 1997 foi inaugurado o segundo shopping, a poucos quilômetros do outro, no bairro Jardins. Dois anos após, a maior rede de cinemas do país, a norte-americana Cinemark desembarcava no Nordeste. O primeiro sistema multiplex da rede na região trouxe nove novas salas de cinema para Aracaju. Diante da chegada da nova rede, o primeiro shopping construiu um novo complexo com cinco salas inauguradas em 2003. A administração ficou por conta da rede Moviecom.

As cinco novas salas foram construídas no modelo stadium — em formato de arquibancada. Diante da inovação, três das nove salas da Cinemark foram reconstruídas no mesmo padrão. De 2003 até janeiro de 2013, a quantidade de salas, no chamado circuito comercial — excetuando-se as salas destinadas aos filmes de arte, ou do circuito alternativo — continuou sendo a mesma em todo o estado. Os dois shoppings possuíam as 14 salas.

Ironicamente, cinco anos após a inauguração, com a queda na movimentação, aquele encerramento das atividades aqui narrado para os cinemas de ruas, também repetiu-se em 2008. Naquele momento, após cinco anos de funcionamento, as então modernas salas stadium do Moviecom foram fechadas e a rede deixou o estado. Por um ano, Sergipe retornou as nove salas, reabertas em 2009 pela Cinemark.

Novas salas, expansão e reformas

Com o passar do tempo novas tecnologias foram sendo agregadas à produção e exibição cinematográfica. A palavra stadium praticamente passou a ser suprimida, pois as novas salas já eram construídas apenas em formato de arquibancada. Os filmes ganharam novos formatos de projeção, como a projeção digital e os efeitos em três dimensões (3D) que criam a ideia de profundidade ou de objetos vindo para fora da tela. No entanto, em Sergipe, a quantidade de salas continuava a mesma e presentes apenas na capital.

Depois de vários anos, eis que surgiu o primeiro cinema fora da capital: na Região Metropolitana, em Nossa Senhora do Socorro. Em outubro de 2011, foi inaugurado o Shopping Prêmio. No ano de 2013, o empreendimento passou por uma ampliação que trouxe quatro salas da rede Cinesercla. Após uma década, o total de salas de cinema passou para 18 em Sergipe.

Mas ainda faltavam outras localidades do estado. Apenas pouco mais de três anos depois da chegada do Cinesercla é que, nessa nova fase dos cinemas, as primeiras salas do interior de Sergipe foram inauguradas. Em abril de 2016 foi a vez de Nossa Senhora da Glória, distante 126 km da capital. O Grupo MobiCine trouxe duas salas para o mini-shopping da cidade, o Avelan Shopping.

Posteriormente, com a inauguração do primeiro shopping do interior do estado, o Shopping Peixoto, a cidade que recebeu um complexo de cinemas foi Itabaiana, a 54 km da capital. A partir de junho de 2017, a CineLaser abriu seu maior complexo e levou para a cidade serrana quatro salas de cinema.

Nesse meio tempo, os complexos localizados na capital passaram por modernização tecnológica e reformas visuais. O hall de entrada foi reformulado, adotando as novas cores e padrão de disposição das bilheterias utilizados pela Cinemark em seus novos complexos. As salas também ficaram similares às de um cinema recém inaugurado. A rede substituiu os revestimentos das paredes e as luminárias das salas.

Com o surgimento de novos projetos de shoppings centers, tanto na capital quanto no interior, a perspectiva é que haja um aumento no número de salas de cinema no estado. Para Aracaju há dois novos empreendimentos previstos, um em construção na zona norte com sete salas; e outro, em fase de aprovação de licenças, na zona de expansão, com cinco salas. No interior, a próxima cidade a ganhar um shopping center e, por consequência, salas de cinema é Lagarto. O projeto contempla cinco salas.

Mesmo ainda sendo um cenário em processo de montagem, com as novas telas estando — aparentemente — um pouco longe de serem vistas pelo público; a presença dos complexos de cinema continuará sendo ampliada, na capital e no interior do estado. Atualmente, são 20 salas em operação. Com as 17 idealizadas nos projetos de novos shoppings centers, esse número chegará a pelo menos 37 salas de cinema no estado.

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