Precisamos levar em consideração para determinar a população de risco e vulneráveis ao coronavírus o fator raça e classe.

Maykalla Marcelina
Revista Negra Trama
3 min readApr 1, 2020

Teoricamente a população de risco e vulnerável ao vírus covid-19 são idosos a partir de 60 anos, demais pessoas com problemas de deficiência imunológicas, portanto, — aquelas que já tem a humanidade baixa- e quem têm doença crônicas, respiratórias e no pulmão que é o órgão no qual o vírus se instala.

O primeiro caso de coronavírus no Brasil foi trazido por um homem branco, de 61 anos, que contraiu o vírus em uma viagem que havia feito na Itália. De volta para o Brasil o mesmo foi internado e fez seu tratamento no Hospital Albert Einstein em São Paulo. Recentemente o caso dele foi considerado curado e o mesmo não apresenta mais sintomas da doença.

Por outro lado, a empregada doméstica, do Rio Janeiro, 63 anos, que pegou o vírus da patroa dela que também havia contraído o vírus em uma viagem que fez na Itália (ela, a patroa, não teve a decência de dispensar a empregada vulnerável ao vírus), e a mulher negra e pobre de 63 anos morreu pouco tempo depois de contrair o coronavírus.

Os dois casos que eu falei acima, ambos os pacientes fazem parte da considerada população de risco ao covid-19. A diferença é que o primeiro pertence a uma classe de elite branca que historicamente é a mais favorecida e privilegiada, possuem mais possibilidades de sobrevivência e por terem condições econômicas, consequentemente, tem acesso aos melhores tratamentos médicos. A segunda trata-se de uma mulher negra e empregada doméstica, parte da classe baixa e que historicamente foram excluídas e marginalizadas em nosso país, Brasil, de raiz patriarcal e escravista.

Quem realmente tem mais chances de vir a óbito por causa do novo coronavírus no Brasil, um país historicamente desigual que privilegia apenas uma certa elite, serão nossas mães e avós da classe desfavorecida que sustenta esse país trabalhando e dando seu suor todos os dias para essa mesma elite. Então a população de risco mais vulnerável mesmo tem cor e classe social definida, ou seja, negros e pobres.

E de modo geral, nós, mesmo que jovens e mais resistentes a esse vírus nos tornamos também vulneráveis por não dispor de recursos financeiros e acesso privilegiado aos melhores tratamentos de saúde.

O Bolsonaro, por mais que tenha sido infectado e sendo parte da população de risco por sua idade, têm mais chances de sobreviver a essa doença, não por seu histórico de “atleta”, mas sim por dispor de acesso aos melhores tratamentos de saúde e seu tratamento será também no Hospital Albert Einstein.

Ciências humanas e sociais orientam as políticas públicas de saúde, produzindo um extenso conhecimento e dados sobre nossa população o que facilita tomar as melhores decisões. As decisões políticas do governo Bolsonaro tem poder crucial para determinar o impacto da pandemia em nosso país.

Que tenhamos como exemplo as melhores decisões de países que já estão a mais tempo lidando com o coronavírus. Por exemplo a China, onde surgiu o vírus, conseguiu drasticamente acabar com a contaminação local e chegou a ter dias de nenhum caso novo registrado. E também temos exemplos de países europeus como a Itália, Espanha e Reino Unido que demoraram para adotar medidas combativas contra o coronavírus, por priorizarem primeiro a economia do país em relação a vida das pessoas, agora estão correndo contra o tempo perdido para conter a doença, entretanto, os números de novos casos e mortes só aumentam a cada dia.

Diante desse cenário atual, e sendo o coronavírus um problema mundial o qual afeta vários países do globo, temos muito a pensar sobre qual serão as melhores estratégias a serem adotadas no Brasil. Seguir as recomendações da OMS e se espelhar nas medidas adotadas pela China principalmente, é o melhor caminho a ser percorrido para sair desse caos. Para isso, é essencial que os governos saibam conduzir os processos políticos e tomar boas decisões. E esse não é o caso do governo brasileiro de Jair Bolsonaro, que vem tomando péssimas decisões e tratando a pandemia com total descaso e pondo em risco as vidas de milhões de brasileiros e brasileiras.

Quero só ver quando o sistema colapsar. O que será que vai acontecer no país e no mundo? Pior ainda o que será de nós negros e pobres historicamente desfavorecidos e oprimidos? Minha mãezinha, o que será da nossa gente ?

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Maykalla Marcelina
Revista Negra Trama

AfroTransfeminista, Cientistinha Política em formação (UNICAMP), Professora de filosofia e sociologia de cursinhos populares.