Capa do álbum Claudinho e Bucheca Ao-Vivo (1999)

Relato de um fã

Sinfrônio
Revista Negra Trama
3 min readOct 24, 2023

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O ano era 1999, meu irmão mais velho e eu ganhamos, cada um, “bermudas do Claudinho e Buchecha”, já que a gente gostava de dançar suas músicas e, por aqueles minutos, éramos esses dois funkeiros. Ele era Claudinho e eu, Buchecha. Já me identificava com aqueles dois, mesmo sem saber o motivo. Hoje, eu entendo que a representatividade de pessoas parecidas com a gente, na época, era bastante rara, principalmente com pessoas que animavam e, como na música “Xereta”, nos fazia dançar.

Em 2002, veio a triste notícia da trágica morte de Claudinho e o vazio, que agora existia na antiga dupla, passeava na minha mente, de como seria a partir dali. 21 anos depois, Nosso Sonho, o filme que conta a história desses dois cantores, estreou nos cinemas do Brasil e, claro, fui assistir cheio de expectativas, afinal, nunca deixei de ser um fã. Já com um clima pesado, do que viria a acontecer ao final do longa, a trama começa e, por um segundo, pensei ter visto o Buchecha, através da performance do ator Juan Paiva, que dispensa comentários, sobre sua atuação (esse rapaz vai longe).

Lucas Penteado e Juan Paiva como Claudinho e Buchecha, no filme Nosso Sonho (2023)

Logo somos levados à infância dos pequenos Claudinho e Buchecha e entendemos que aquele que leva o primeiro nome da dupla, sempre teve a personalidade de alguém que não seria mais um nome que sumiria com o tempo. Entre fatos ficcionais e verdadeiros, o diretor Eduardo Albergaria, nos mostra um lado além do artístico, desses dois garotos que, desde cedo, sempre se preocuparam em viver e não só sobreviver, sempre trabalhando, e indo atrás dos seus sonhos. Lucas Penteado, não entrega apenas mais uma atuação, ele nos entrega o próprio Claudinho e, sempre que ele não está em cena, você torce pra que ele apareça com a sua energia contagiante e presença de cena. Talvez tenha sido assim, com Buchecha, depois da partida de seu companheiro de palco teve que voltar a se apresentar sozinho: a plateia sempre esperando que, por algum milagre, ele voltasse com sua energia contagiante. Mas, infelizmente, é Buchecha sem Claudinho. Nosso sonho, nos coloca dentro da vida dos protagonistas de forma natural, sem forçar, e quando a gente vê, estamos tão envolvidos com essa história emocionante, que pensamos estar assistindo a um filme sobre alguém próximo. A gente ri, a gente canta as músicas, junto com os personagens, a gente chora… é, a gente chora e sente a dor que foi a perda e a falta desse grande talento da música brasileira.

Agora, imagina aquela criança, que cresceu no anos 90 e ganhou a “Bermuda do Claudinho e Buchecha”, assistindo a esse filme, e todo esse tempo que passou, e todas as lembranças vindo à sua mente. A emoção é inevitável. É, a história deles virou cinema e foi uma obra de arte, assim como o que eles faziam nos palcos. Claudinho nos deixou cedo, mas a sua representatividade em cada garoto preto que se viu neles, estará viva. Nosso Sonho não vai terminar!

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