um discurso emocionado

Marina Maia
Revista Negra Trama
1 min readApr 6, 2021

As análises precisam ser imparciais
mesmo que nos rememorem um passado-pretérito-imperfeito,
não é permitido sentir quando, ao falar do outro, você for obrigado/obrigada
a lembrar do que te fizeram ontem, com você-com seu irmão.
Isso é ressentimento.
Aqui não é bem-vindo.
De você não é bem vindo
sentir errado sobre ele, que nunca te fez mal;
só seu pai, seu avô, seu conhecido.
Não ele, nem ela. Só seu vizinho. Mas, ainda assim,
com quem se pode conversar, resolver, em questão de anos,
via cartas escritas à lápis.
Ela não poderia saber que isso é dor, porque é sua dor.
E tudo bem, você falou sobre em 78… em 82… em 92.
Bastava uma vez para que tivessem olhado
e guardado no fundo de algo, mas 20–30 anos de dor?
Ressentidos não dizem palavras, eles choram sem razão.
Elas escrevem músicas-odes-cantigas-versos-cenas-quadros,
todos sob uma fórmula exaurida
que só de uma vítima viriam.
As letras devem ser belas, não doloridas;
tais quais os tesouros africanos com os quais nunca tivemos contato
e que vergonha, vocês não sabem de onde vieram.
A verdade, se sabemos verdades, é que a escrita, para vocês,
só funcionará nas entrelinhas,
sem apontar os dedos,
sem levantar os gritos,
sem dizer o que se deve.

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Marina Maia
Revista Negra Trama

Negra-vida — Cearense, professora de muita coisa, em constante formação; amante das literaturas que me falam.