Desafios na educação de pessoas com deficiência visual

Polly Rioga
Revista Plural
Published in
4 min readDec 6, 2017

Trabalhar com uma educação inclusiva ainda é um grande desafio no Brasil. Já discutimos aqui na Plural como a audiodescrição pode tornar o material audiovisual mais acessível para as pessoas com algum tipo de deficiência visual. Hoje contamos a história de Larissa, filha de 13 anos de Priscila Medina. No 5º mês de gravidez foi descoberta uma má formação no bebê. A menina nasceu de cesaria, forte, mas com “olhos sempre fechados como se apertassem para não abrir”, como descreveu a mãe. Logo Priscila teve a confirmação de que Larissa portava microftalmia severa em ambos os olhos.

Aos 13 anos, Larissa tem o notebook como uma de suas formas de lazer (Foto: imagem retirada do youtube)

“Larissa foi crescendo saudável, graças a Deus, e fizemos de tudo para ser uma criança normal. Andou com 1 ano, não engatinhou e nunca foi de cair ou parar com medo dos obstáculos, mas caminhava com dificuldade, como se não enxergasse.”- nos disse Priscila. Por meio da busca de institutos, médicos, tratamentos que pudessem ajudar nas dificuldades iniciais da filha, Priscila sempre se preocupou com o aprendizado e desenvolvimento da filha, procurando fornecer as melhores formas de auxílio.

Aos 4 anos Larissa foi matriculada em um colégio particular, mas a primeira escola não sabia muito como dar suporte e seu avanço no aprendizado foi pequeno. “Conversando com minha tia Magna resolvemos matricular a Larissa em outra escola, que se mobilizou através da sec. Municipal de Educação, visto que era uma aluna com necessidades diferenciadas” relata Priscila. “Contei muito com a ajuda da professora Maria Célia que passou a ser personagem da nossa vida, superou o medo do novo e encantou com o mundo que estava descobrindo.”

A princípio foi oferecido pela escola uma professora de apoio em sala, em tempo integral, e paralelo, uma capacitação para os professores em braille, o que possibilitou um método de ensino adequado para Larissa. Diante disso, Larissa usou materiais táteis para entender tamanhos, formas, quantidades, espessuras, e outros aspectos que não conseguia perceber devido à ausência de visão. Com quase 6 anos, a menina ganhou uma máquina Braille de presente, que facilitou ainda mais sua vida. A cada dia, Larissa descobria mais de um mundo repleto de possibilidades. Hoje ela cursa o 8º ano no ensino fundamental, tem seu notebook com os programas NVDA, DOSVOX e Mecdaisy.

No ensino superior, programas que realizam a leitura de tela de computadores, tablets ou smartphones ainda são muito pouco acessíveis a estudantes com pouca ou nenhuma visão. Segundo informações do coordenador da Unidade Interdisciplinar de Políticas Inclusivas (UPI), Vinícius Catão, a universidade pode designar algum suporte para alunos com deficiência visual.

“Em relação aos estudantes cegos e com baixa visão, eles são assistidos quando demandam da Universidade o atendimento educacional especializado, o que acontece por meio da abertura de processo junto a Secretaria de Graduação” explica. “De posse dessa informação e do laudo médico, buscamos realizar as adaptações necessárias para que eles tenham a equiparação de oportunidades ao longo do curso e se sintam incluídos na Universidade, considerando a sua condição diferenciada. Para isso, temos na UPI, equipamentos e pessoas que favorecem essas adaptações, tais como lupas, ledores (para provas e produção de materiais em audiodescrição), scanners para ampliação de livros/materiais didáticos e impressoras Braille. Além disso, temos materiais didáticos impressos em Thermoform que nos foram cedidos pelo Instituto Benjamim Constant, do Rio de Janeiro”

Também na UFV se encontra em desenvolvimento uma nova ferramenta que pode auxiliar no aprendizado dos estudantes com deficiência visual. O setor de Conteúdos Interativos da Cead (Coordenadoria de Educação Aberta e à Distância) está trabalhando com um projeto chamado Ebook. O projeto vai beneficiar tanto estudantes com deficiência visual, como também estudantes surdos. O Ebook vai possuir um dicionário em Lingua Brasileira de Sinais (Libras) e uma ferramenta que possibilita converter arquivos em formato PDF, por exemplo, adaptando-os para um formato de texto legível em programas e aplicativos de leitura para pessoas cegas ou com pouca visão.

Isso é necessário pois, segundo o técnico em tecnologia da informação, Pedro Sacramento, um dos desenvolvedores desse software, a maioria dos programas leitores de tela não consegue realizar com precisão a leitura de arquivos em formato PDF ou apresentações de Power Point, por exemplo.

“Pra um cego, se você pegar tudo que está na tela e converter em texto, o leitor de tela que ele utiliza já vai ajudar ele” explica.

Depois de desenvolvida, a nova ferramenta deverá passar por testes com estudantes cegos, e se estiver funcionando corretamente, pode ser uma realidade em um futuro próximo.

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