Precisamos falar sobre Identidade

Letícia Cozoli
Revista Plural
Published in
3 min readNov 28, 2017

Problemas com acessibilidade não estão unicamente ligados a deficientes físicos; o preconceito social leva à marginalização de grupos sociais por inúmeros motivos. O gênero pode ser essa barreira. Segundo a Associação Nacional das Travestis (Antra), 90% das travestis e transexuais brasileiras se prostituem. Isto não é por escolha, mas sim porque o mercado não lhes dá espaço.

Franthiesco Cardoso, aluno do curso de Ciências Sociais e homossexual, resolveu trazer esses problemas à luz de uma discussão mais ampla. Ele, que já participa da ONG Movimento Diversidade de Viçosa, resolveu dialogar com um público maior. Assim, foi o organizador do evento Identidade, Diversidade e Gênero, que esse ano teve sua segunda edição na UFV.

“O evento fala sobre diversidade de gênero e é um ato político. Foi pensado muito mais para fazer uma discussão do que para pesquisa. A vontade de fazer o evento surgiu de um interesse próprio. Essa não era uma discussão feita institucionalmente, apesar de ter grupos estudantis envolvidos nessa discussão, como DCE e Primavera nos Dentes. Queríamos propor outras visões de outros campos, outras áreas de conhecimento, e não uma discussão das ciências sociais para as pessoas das ciências sociais.”

A resolução 12/2015 do Conselho Nacional de Combate à Discriminação LGBT permite a alteração de nome conforme o gênero sem a obrigação de cirurgia de transgenitalização. A burocracia imposta anteriormente determinava o reconhecimento do uso de nome social em documentos, formulários e sistemas de informação de escolas e universidades. Além disso, a resolução permite a utilização de banheiros, vestiários e uniformes, segundo a identidade de gênero.

Porém, casos recentes como da menina trans que foi impedida de renovar matricula na sua escola, ou os constantes protestos de Indianara Siqueira revelam que essa resolução tende a ficar somente no papel. Além do mais, não existe nenhuma lei específica que reconheça identidade de gênero. Sobre isso, Franthesco ainda ressalta:

“Independente de posições políticas, o Estado tem que reconhecer que nós fazemos parte da população brasileira, fazemos parte como qualquer outro cidadão. Nós não exigimos privilégios, nós exigimos respeito. E é claro, reconhecimento da nossa realidade.”

Novelas como A Força do Querer, que apresentou a transição da Ivana para Ivan, trazem essa discussão à tona, para toda a sociedade. Isso já é uma coisa que a acontece há décadas, como Beijo no Asfalto, uma peça rodriguiana de 1941 que foi adaptada ao cinema duas vezes e que trata de um beijo homossexual. Sobre fomentar essa discussão, Franthiesco ainda enfatiza:

“Lugar de fala não pode ser confundido com exclusividade de fala. Lugar de fala é prioridade de fala, por que eu vivo a minha realidade, ninguém melhor que eu para falar dela. Mas a sociedade não é composta apenas por um grupo de pessoas, a sociedade é plural, ela é diversa. São políticas públicas que precisam envolver a educação e a formação de todo cidadão. Ela não pode ser exclusiva por que você tem “N” tipos de pessoas vivendo numa mesma sociedade.”

Resolver o problema da falta da igualdade de gênero não é responsabilidade somente de movimentos LGBTQ+, mas sim da sociedade como um todo. Fomentar e expandir esse dilema é o começo da solução, um passo a mais a caminho da igualdade e justiça.

Por Carolina Louback, Julice Carvalho e Letícia Cozoli

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