Uma caminhada pela acessibilidade

Mirele Moreira
Revista Plural
Published in
2 min readNov 7, 2017
Zé do Pedal empurrando a cadeira de rodas (Foto: arquivo pessoal)

Tentar transformar um pouco do Brasil a partir de uma indignação. Essa foi a ideia do ativista social viçosense, Zé do Pedal. Conhecido por fazer longas viagens, pedalando, ele vivenciou, em León, algo que o chamou a atenção: uma jovem dizia que não podia. Quando olhou para trás, viu que a menina não conseguia subir uma rampa porque nela havia um degrau. Zé ficou pensando que se um país considerado desenvolvido tinha essas barreiras, como poderia ser no Brasil?

“As barreiras naturais são obstáculos para todos. Porém, as arquitetônicas, instaladas em concretos nas calçadas, edificações e ruas de cidades são obras do homem. Se o homem consegue interferir nas obras de Deus, porque não interferir nas ‘fabricadas por ele’, o homem?”

Motivado, também, por uma amiga cadeirante e suas dificuldades, Zé do Pedal teve a ideia de um novo projeto: Extremas Fronteiras, Barreiras Extremas — Cruzada pela Acessibilidade. A caminhada teve início no ano de 2015 e terminou em 2016, passando pelos 20 estados representados no mapa a seguir:

“A maior dificuldade nem era de logística como selva, chuva, frio, calor, comida ou lugar para dormir… A maior dificuldade foi lidar com as barreiras atitudinais: motoristas na calçada, em frente à rampa de cadeirantes, calçadas sem rampas, etc.”

Durante o trajeto, ele entregou uma proposta, criada por ele, de Projeto-Lei contendo Normas de Acessibilidade e uma outra para a criação de Conselhos Municipais dos Direitos da pessoa com Deficiência, nas Câmaras Legislativas que passou. Seu objetivo principal foi conscientizar as pessoas, principalmente aquelas com poderes de decisão, a terem mais respeito com as pessoas deficientes. Ao final, Zé do Pedal caminhou 10.700km, empurrando uma cadeira de rodas.

“Mesmo não havendo, por parte dos gestores um feedback aos projetos apresentados, houve sim uma mudança de pensamento. A pessoa com deficiência percebeu o alcance do projeto e passou a ter uma confiança maior de que alguma coisa estava sendo feita. Que ela não estava sozinha!”

O ativista finaliza:

“Também houve, por citar Viçosa, uma mudança. Conseguimos formar e dar posse ao Conselho Municipal e hoje ele é um dos conselhos mais atuantes do município”.

--

--