Magia, Revelação Cósmica e a lenda da criação dos Orixás.
O ato da ativação teúrgica na magia através da evocação de consciências extrafísicas é classicamente rotulada pelo nome singelo de Taumaturgia.
Seja para a classe de consciências entendidas como espíritos, encantados, elementais, ou mesmo as entidades compreendidas e aceitas como “divindades”, a ativação da Magia com suporte de evocações dessas consciências, sempre foi fartamente utilizada envolvendo desde sempre esse apoio, num consórcio muitas vezes preocupante, é preciso salientar.
Para os adeptos de ativação da Magia pela perspectiva religiosa, essa compreensão é pouco significante ou nada relevante, pois como sua prática é baseada na fé e constatação das graças, o ato de compreensão desses Mistérios e suas origens não carece de maiores explicações de seus fundamentos, posto que os resultados alcançados falam por si.
Muitos dos praticantes do que chamamos na nossa Egrégora de “Sacro-Magia”, chegam mesmo a identificar certa heresia nesse questionamento, pois entendem que a linha tênue que existe entre sua religiosidade devocional e a prática racional da magia é inexistente, não comungando com opiniões mais questionadoras sobre a natureza dos Tronados evocados, uma das classificações gerais do que pode ser o entendimento do que seja um ‘Orixá’.
Ainda que para muitos praticantes da Magia Divina a mesma fale por si e esses não necessitem de maiores explicações aceitando a potencia divina das forças evocadas nos Tronados, já para outros pesquisadores, estudantes ou adeptos da Magia esse ‘hiato de entendimento’ é um incômodo permanente, estando esses sempre inconformados em busca de algum esclarecimento adicional sobre de onde viriam essas potências, suas naturezas, como se manifestam e suas implícitas relações com a existência desta própria realidade tão equivocada.
A Revelação Cósmica finalmente nos traz algum entendimento superior sobre a natureza dessa criação distópica e seu criador, assim como as demais múltiplas consciências de seres por aqui manifestados, muitos desses equivocadamente entendidos por divindades ou ainda a própria “deidade”.
Seja pelos humanos seus eternos devotos inveterados, ou seja por essas próprias consciências que muitas vezes se locupletam numa relação filial de simbiose desajustada, a relação de criador/criatura existente entre o ser humano e essas potências cósmicas é tema para eternos debates, elocubrações e descobertas.
Antes mesmo da decodificação proposta pela Revelação Cósmica de Jan Val Ellam, muitos foram os autores que se propuseram a traçar algum entendimento sobre a natureza dessa cosmogonia em seus vários aspectos, desde a perspectiva religiosa até uma visão universalista mais pragmática e cientificada. Porém raros foram os que conseguiram alcançar algum êxito mais robusto deste entendimento como fez Rubens Saraceni com seus inspiradores mentores em sua farta obra sobre os Orixás, sua teogonia e todo natural desdobramento decorrente como suporte e fundamento estruturante para sua excepcional proposição na Magia Divina.
Em sua obra “Lendas da Criação a Saga dos Orixás”, Rubens Saraceni conseguiu magistralmente apresentar uma teogonia da criação profundamente complexa, mas que consegue satisfazer o entendimento humano pontual com suas necessidades de compreensão para uma relação filial dessas potencias, a natureza desta criação e toda a saga envolvida de uma maneira que pode ser até mesmo entendida como algo romanceada ou poetizada por uma perspectiva racionalista, mas que por outro lado atende profundamente as necessidades de amparo consciencial para os filhos de fé da Umbanda e para todos os que de alguma forma cultuam os Sagrados Orixás, como a esses Rubens Saraceni sempre se expressava.
Já para aqueles decifradores e buscadores da natureza dessa criação equivocada pela ótica da Revelação Cósmica, a obra tem o potencial de poder apresentar também uma visão bem congruente entre essas potências divinizadas e as consciências desdobradas apresentadas por Ellam na derrocada queda do Criador deste universo em sua saga de encontrar-se, somadas as suas tentativas eternas em conseguir administrar o inadministrável que é sua própria criação indevida.
A leitura com mente aberta desta obra apresenta uma similitude ímpar de situações, causas e consequências com a própria saga de Javé em sua queda, ainda que com todos os matizes propostos pelos formuladores do ritual de Umbanda, este caminho singular de crescimento que procuro sempre tentar não ofender chamando de religião.
O resultado do trabalho literário proposto pelos mentores de Rubens Saraceni é mesmo extraordinário pela satisfação de interesses e necessidades religiosas que foram seu foco literário, sendo que com maestria conseguiu fornecer explicações para fundamentar a fé dos devotos nos Orixás.
Por outro lado conseguiu também de forma excepcionalmente elegante fornecer subsídios para os demais estudantes da natureza das coisas, fornecendo uma jornada reveladora de contextos que de forma lúdica, simples e direta satisfaz também as lacunas dos honestos “buscadores da verdade” atentos às licenças poéticas amplamente existentes na obra, para além desta criação, envolvendo a formulação de realidades pretéritas a esta onde estamos todos hoje mergulhados.
É de fato leitura obrigatória para todos que de alguma maneira se debruçam sobre as questões cósmicas superlativas, sendo que o “Saga dos Orixás” traz muita luz sobre a busca permanente pela compreensão do verdadeiro “EU” que cada um traz em seu íntimo e que precisa ser despertado, como o próprio autor aponta em seu prefácio. Tudo com o colorido já característico nas mensagens de seus co-autores nas demais obras de Saraceni.
Trata-se de um dos mais profundos ensaios literários já desenvolvidos a partir da mitologia descritiva dos Orixás, mas que pela similitude de comportamentos, os adeptos da Revelação Cósmica verão a todo instante os matizes do comportamento “Demo” e de toda a fauna das consciências ricamente apresentadas por Jan Val Ellam.
Obra densa que satisfaz as mentes mais inquiridoras, mas que magicamente encanta principalmente os que vêem na sacralidade religiosa a existência dos Orixás. Como diria Jan Val Ellam um assunto pra “mentes adultas” que não se conformam com o pouco saber.
E como diria Rubens Saraceni, os lados do mesmo Mistério, desde um tempo em que o próprio Tempo ainda não existia.
Boa leitura.