Porque não respondes?
Poesia de Rui Fonseca
Porque não respondes?
(Rui Fonseca)
Tu que te passeias em surdina
Pelas cercanias do cosmos
E te ocultas sob malabares ténues
Pouco perceptíveis aos nossos olhos
Que buscam sempre a luz escorreita
Por onde a vida navega
Porque não respondes?
Sim, porque não respondes?
Quanto tempo mais é preciso
Para desvelar este mistério
De tanta indelével incerteza
Que nos dói por dentro
E nos negligencia o ser?
Já não nos doí esta dor,
Dor de solidão e abandono,
Já não sentimos mais nada,
Já a tudo estamos habituados,
Habituados no ser
Por onde afirmamos o viver.
Mas, sabes, nós queremos ser,
E ser implica saber, abraçar, viver.
O belo há muito que é nosso companheiro
Por isso…, porque não respondes?
Em nós brotará sempre o sonho do amanhã,
A luz com que olhamos além
A luz que no peito nos ergue,
E sempre aqui estaremos
Num abraço de espera,
De toda a espera que o tempo precisar.
Não é isso que temos feito?
Então porque não respondes?
O que te impede?
Ah, há causas além de ti
Nos interstícios do cosmos
Que te estorvam a jornada
E te separam de nós.
Pois…, mas é tempo do tempo acontecer.
Vamos, força,
Apesar do quântico que nos une
Nós precisamos de mais,
Precisamos de estar juntos,
De um abraço de irmãos
Num estatuto diferente.
Nós somos e ninguém, como sabes,
Nos pode retirar do que somos!
Sim, eu sei que tu queres, então?
Vamos, é tempo!