Foto: © Tim Franco

Expresso de Chongqing

Por dentro da desconhecida megacidade chinesa

Daniel Salgado
Revista Poleiro
Published in
5 min readApr 21, 2015

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Por Richard Macauley
Tradução por Daniel Salgado

Tim Franco, um fotógrafo parisiense que hoje vive em Xangai, passou os últimos cinco anos documentando a intensa transformação que a urbanização trouxe à megacidade chinesa de Chongqing.

Até 1997, Chongqing era uma cidade esquecida na pobre província de Sichuan, estando a duas horas de avião de qualquer uma das outras cidades chinesas mais famosas ou ricas, como Pequim, Xangai ou Shenzhen. Ela briga por espaço entre montanhas e rios — o gigantesco Rio Azul corta caminho por dentro da cidade — e, por boa parte de sua história, foi deixada de lado por sua geografia tornar o comércio com o resto da China em uma tarefa complicada.

Foto: © Tim Franco

Muitos dos moradores de Chongqing foram realocados para a cidade após suas antigas aldeias e pequenas cidades terem sido inundadas para a criação da Hidroelétrica das Três Gargantas, que desalojou mais de um milhão de pessoas. Várias de suas antigas casas agora estão submersas.

Foto: © Tim Franco

Os que são jovens o suficiente para adquirir novas habilidades têm chances de prosperar na cidade, que apesar de ser conhecida por sua indústria automobilística, também depende bastante da exploração de recursos naturais. Já os mais velhos acabam por recorrer ao que conhecem melhor: lavrar a terra em pequenas propriedades.

Chongqing tem sido descrita como a “maior cidade de que você nunca ouviu falar”, “Detroit chinesa”, “Chicago do Rio-Azul” e a “cidade que cresce mais rápido no mundo”. Mesmo com sua imensa urbanização, em alguns cantos a vida por lá continua sendo levada da mesma maneira que se vive há séculos.

Foto: © Tim Franco

Desde 1997, porém, ela tem se beneficiado do fato de o governo tê-la elevado ao status de “município”, fazendo com que Chongqing passasse a gozar de posição especial entre as demais cidades chinesas e de oportunidades extra de investimento.

Foto: © Tim Franco

Diferentemente das cidades planas e extensas de outras partes da China, como Pequim e Shenzen, Chongquing é uma cidade de alta densidade. Suas montanhas e rios são difíceis de transpor, o que faz surgir uma necessidade de se crescer verticalmente, criando grupos de arranha-céus em cada espaço disponível.

Foto: © Tim Franco

No fundo da imagem acima, tirada em 2012, está Jiefangbei, o centro da cidade. Em primeiro plano está Shibati, um bairro operário e o primeiro lugar que vários trabalhadores migrantes encontraram para se estabelecer ao chegar em Chongqing. Era um caldeirão para os migrantes regionais, mas hoje a vizinhança já não existe mais e, em breve, luxuosos prédios residenciais tomarão seu lugar às margens do rio.

Hoje, a cidade é parte central de um dos maiores projetos internos do governo chinês: o de trazer riqueza e oportunidades às centenas de milhões de pessoas que vivem na China Ocidental, a parte maior do país que ainda não se beneficia plenamente da imensa riqueza gerada na costa leste.

Foto: © Tim Franco

Chongqing se situa na confluência dos Rios Azul (à esquerda, na foto) e Jialing (à direita). No meio está a península de Yuzhong, casa de Jiefangbei e coração da cidade.

Foto: © Tim Franco

A escala da cidade é imensa. Chongqing é dona de algumas das maiores pontes do mundo, muitas delas que seriam marcos na maioria das cidades ocidentais. Em Chongqing elas são apenas ferramentas para o ir e vir cotidiano.

Em 2014 a população oficial do município cresceu em mais de 4.000 pessoas por semana, chegando até 29,9 milhões (link em chinês). Oficialmente, a população da parte central de Chongqing é de quase 8 milhões, mas trabalhadores sem registro aumentam em muito os números. No ano passado, o PIB cresceu em 12,3% — bem acima da média nacional de 7,4% — para 1,3 trilhões de yuan (204 bilhões de dólares), aproximadamente tanto quanto o do Quatar.

Foto: © Tim Franco

A construção civil também nunca para. A criação de novos túneis, pontes e linhas de metrô faz com que a geografia física e cultural da cidade permaneça em fluxo constante. Bairros desaparecem da noite para o dia sem nenhum alarde enquanto novos são construídos no mesmo ritmo com a abertura de novas estradas de acesso.

Fotos: © Tim Franco

O metrô e o tráfego de carros passam por cima do Rio Jialing (esquerda). Ao fundo está uma divisão não edificada do distrito central de Yuzhong. O distrito de Jiangbei (direita), uma parte nova da cidade ao norte do Rio Jialing, era uma área majoritariamente de cultivo agrícola há apenas 15 anos. Em meio a gigantes canteiros de obra, fazendeiros continuam a plantar nos poucos lotes ainda não tomados pelas novas construções.

As imagens de Franco, que irão aparecer em seu próximo livro, Metamorpolis, capturam a maciça urbanização de Chongquing e detalham como ela interage com a população da cidade, seja ela nativa ou recém-chegada. (Nota: eu colaborei com alguns textos para o livro de Franco)

Outros Voos é a seção de traduções da Poleiro. Esta matéria foi originalmente publicada no Quartz. Sua tradução e adaptação para o Medium foram previamente autorizadas pelo autor original.

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