SOBRE CAROLINA MARIA DE JESUS

Se tivesse uma palavra para destacar Caroline de Jesus seria empoderamento, essa palavra tão forte e perspicaz nos dias atuais se encaixa muito bem na contextualização dessa mulher que em tempos tão complexos, esta lutou diariamente para não deixar seus filhos famintos, e também detinha de uma visão de sociedade muito crítica e inteligente, onde não tinha medo de não se enquadrar dentro da comunidade em que estava inserida, e buscava lutar pelo o que acreditava de forma coerente com aquilo que acreditava ser o certo

Mulher negra da favela não abaixava a cabeça e não a deixavam ser intimidada pelo sistema opressor e preconceituoso, nos livros que lançou, relatava aquilo que ela sentia, presenciava, e não se deixou se deslumbrar com a fama que havia conquistada de forma meteórica com o lançamento do seu primeiro livro o Quarto de Despejo, onde narrava as condições em que estava inserida na comunidade

Carolina rompeu paradigmas impostos na sociedade, onde se destacou em âmbito literário, onde até então a elite predominava, autores brancos, ela conseguiu imprimir sua marca dentro deste ciclo, que até então era algo muito distante de imaginar uma mulher negra periférica adentrar nesse ambiente

O empodeiramento de Carolina era algo natural que ela demonstrava quando não se sujeitava a passar por certas situações como casamentos só conveniência, ela descreve no seu livro Quarto de Despejo que presenciava muitas mulheres da comunidade que estavam num relacionamento, que vivam como escravas indianas, muitas delas sofriam por abusos e violência, nessa questão Carolina dizia que ela não precisava de um marido, ela mesma tinha a capacidade de sustentar seus filhos com dignidade e perseverança

Outra fala que descreve bem seu posicionamento e clareza de suas raízes é “[…] eu adoro a minha pele negra, e o meu cabelo rustico. […] Se é que existe reincarnações, eu quero voltar sempre preta.” (JESUS, 1960, p. 40). Essa fala é muito claro do orgulho que ela tinha em ser uma mulher preta, mesmo em um período que o racismo predominava e que muitos pretos e pretas normalmente não teriam essa consciência e clareza de sua historicidade

Suas opiniões políticas eram críticas e argumentativa, pois nas suas falas notava a que os discursos era bem distinto das práticas, como moradora de uma comunidade viva na pele todo o descaso do poder público e a falta de interesse com a classe subalterna, na sua visão só procuravam-lhes quando havia algum interesse, assim como na realidade atual em que vivemos, onde se tem um descaso total pela a população pauperizada

Ademais a força e sua história é enriquecedor e admirável, que possamos sempre nos inspirar em personagens como Carolina de Jesus, que não se limitou com seu contexto social, e buscou ir além daquela realidade, que possamos sempre lutar por equidade perante a sociedade, respeito, e não deixar que o sistema enquadre-nos de forma padronizada e alienados, que mulheres negras sejam protagonistas de suas historias.

REFERENCIA:

JESUS, Carolina Maria de. Quarto de Despejo: o diário de uma favelada. 7. ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1960

Sobre a autora:

Me chamo Stella Da Silva Assis, tenho 27 anos e estou graduando o curso de Serviço Social \ 8º Período, na Universidade Federal Fluminense-UFF Campos.

Umas das coisas que marcaram minha vida foi relacionada a minha ingressão na instituição, desde de pequena sempre foi um dos meus sonhos e da minha família a realização de uma graduação, todo o processo que me ocorreu até o dia atual foi marcado por lutas e conquistas, na minha família eu sou a primeira a ocupar esse espaço de ensino. Chegando na UFF presenciei histórias inspiradoras, um local de muita diversidade com debates com temas necessários que só acrescentaram ainda mais meu processo de aprendizagem, como aluna dou muito valor a tudo o que estou obtendo na Universidade, pois sei que muitos gostariam de ter essa oportunidade e não conseguem, ainda me recordo das noites sem dormir me preparando para o processo seletivo, do dia da efetivação da matrícula, dos ônibus que tive que correr para chegar na sala de aula, das inúmeras sensações num dia de apresentação de algum seminário, das risadas e papos nos corredores, de alguns professores que me marcaram e ainda irão, enfim até o encerramento oficial creio que terei muitas histórias para contar.

** ESTE ARTIGO É DE AUTORIA DE COLABORADORES OU ORGANIZADORES DO NECS E NÃO REPRESENTA IDEIAS OU OPINIÕES DO VEÍCULO. POR MEIO DESTA REVISTA OFERECEMOS ESPAÇO PARA DIVERSOS PENSAMENTOS E CONTRIBUIÇÕES ACERCA DAS SOCIEDADE, GARANTINDO ASSIM A PLURALIDADE

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