Campanhas de incentivo são última esperança do TSE para aumentar eleitorado jovem em 2022

Guilherme Paladino
Revista Provisória
5 min readMar 30, 2022
(Foto: Divulgação/TSE)

O mês de março foi marcado por campanhas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para incentivar jovens de 16 e 17 anos a tirarem o título de eleitor, cujo prazo para a emissão se expira no dia 4 de maio. Os esforços da instância jurídica máxima da Justiça Eleitoral brasileira visam reverter a projeção do baixo engajamento desta faixa da população nas eleições deste ano.

Dados oficiais de fevereiro de 2022 apontam que, até então, 834.986 jovens de 16 e 17 anos se cadastraram para poder votar nas eleições de outubro. Este número representa cerca de apenas 15% dos 6 milhões de adolescentes nesta faixa etária no Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística — IBGE. Tal índice pode denotar um baixo interesse das novas gerações na política.

A fim de mudar este panorama, o TSE realizou, entre os dias 14 e 18 de março, a Semana do Jovem Eleitor, uma campanha direcionada ao público jovem que envolveu a publicação de notícias, artes e posts nas redes sociais com informações gerais sobre o processo eleitoral. A mobilização também contou com a participação de influenciadores digitais, artistas e até mesmo times de futebol para amplificar o alcance das mensagens. Nomes como Anitta, Juliette Freire, Whindersson Nunes, Zeca Pagodinho, Gil do Vigor, Felipe Neto, Luísa Sonza, Lázaro Ramos e Taís Araújo, entre outros, aderiram à campanha nas redes sociais e mobilizaram seus fãs de 16 e 17 anos a se engajarem com as eleições.

A campanha ganhou ainda mais coro no evento musical Lollapalooza Brasil, ocorrido nos dias 25, 26 e 27 de março. Artistas como Marina Sena, Emicida e Criolo se manifestaram durante suas apresentações, pedindo ao público jovem para que fossem atrás de tirar o título eleitoral. “Se você tem de 15 a 18 anos, tira a po**a do título de eleitor”, afirmou o rapper Emicida, no início de seu show. Vale ressaltar que os adolescentes de 15 anos que completarem 16 anos de idade até 2 de outubro (data do primeiro turno das eleições de 2022) também podem participar da votação, desde que façam o alistamento no TSE até o dia 4 de maio.

Emicida e Criolo convocam público a votar nas eleições de 2022 durante apresentação no Lollapalooza Brasil (Foto: Reprodução/Multishow)

Primeiros resultados e panorama geral

De acordo com o TSE, a Semana do Jovem Eleitor apresentou resultados imediatos: somente no período de cinco dias entre 14 e 18 de março, 60.903 jovens de 15 a 17 anos se alistaram para participar do processo eleitoral. Como parâmetro para comparação, a média de inscrições nesta faixa etária em janeiro e fevereiro foi de 100 mil para cada mês. Nos próximos dias, o balanço completo de março deve ser divulgado pelo Tribunal.

Contudo, apesar da possibilidade de um crescimento tardio acima do esperado devido às campanhas, a tendência é que o número total de votantes nesta faixa etária ainda seja tímido em comparação ao que já foi na última década. Com pouco mais de um mês até o encerramento do prazo para a emissão do título de eleitor à população apta e cerca de 900 mil títulos contabilizados até o momento para jovens de 16 e 17 anos (incluindo os emitidos na Semana do Jovem Eleitor), o mais provável é que o eleitorado desta faixa etária se assemelhe ao de 2018, que contou com 1.400.236 alistamentos.

Tais números são consideravelmente inferiores aos de outros períodos, como 2016, que teve 2.311.120 títulos emitidos para jovens de 16 e 17 anos, ou ainda 2012, cujo número se aproximou de 3 milhões (foram 2.902.621 títulos naquele ano). Entretanto, caso o atual aumento tardio realmente se confirme e seja considerável, há a possibilidade de 2022 superar 2020, que foi um ano mais ‘tímido’ e contou com apenas 1.030.563 de jovens votantes nesta faixa etária.

(Foto: Divulgação/TSE)

Razões para queda recente da participação de jovens nas eleições

Alguns motivos podem ajudar a explicar as quedas históricas nas taxas de participação dos jovens nas eleições. Contextualizando, a taxa de jovens de 16 e 17 anos cadastrados para as eleições de 2022 até o momento representa apenas 0,56% do eleitorado total — o menor índice desde o fim da ditadura.

Em entrevista à CNN Brasil na última segunda-feira (28), o analista do TSE Diogo Crunivel citou alguns dos fatores que podem estar contribuindo para a baixa adesão nas eleições de 2020 e 2022, como o fenômeno da inversão da pirâmide etária brasileira verificado nas últimas décadas: “Nossa população está envelhecendo, e o número de jovens está diminuindo.” De acordo com dados do Censo, as crianças e adolescentes de 0 a 14 anos representavam uma faixa de 38% da população brasileira em 1980, sendo que esta taxa caiu para cerca de 24% em 2010 (um intervalo de apenas 30 anos).

Além disso, Crunivel citou que a pandemia também impactou as atividades do TSE voltadas à conscientização em contatos diretos com os jovens. Ele lembrou que a Justiça Eleitoral fazia campanhas presenciais nas escolas, algo que não pôde ser repetido nos últimos dois anos devido ao distanciamento social exigido para a prevenção do contágio do Sars-CoV-2.

Além disso, especialistas vêm apontando um aumento da falta de interesse dos jovens em relação à política. Este fenômeno, na realidade, vem se ampliando à população geral, haja visto o índice de 20,8% de abstenção nas eleições de 2018 — o maior desde 1998. As razões para tal distanciamento, no geral, estão ligadas ao aumento da descrença nos políticos brasileiros (que pode estar ligado à maior divulgação de escândalos de corrupção nos jornais) e à sensação de que as demandas da população não são levadas em conta por seus representantes.

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