Eleições israelenses de 2021: poucas respostas e mais incertezas

Leticia Araújo Linhares
Revista Provisória
5 min readMar 31, 2021

A 4ª eleição de Israel, realizada em menos de 2 anos não atingiu as expectativas dos israelenses e causou novas dúvidas

Há pouco mais de uma semana, os eleitores israelenses se dirigiram às urnas para votar pela quarta vez em apenas 2 anos.

Essa situação, que indica uma instabilidade política, se deu após a formação de um governo de coalizão, regime que consiste no costume de se aliar a diversas forças políticas a fim de um objetivo. Os acordos, que teoricamente indicariam uma governança sólida, não obtiveram resultado e algumas situações chamaram mais a atenção, resultando em diversas eleições em um curto período.

O sistema político israelense

O país asiático tem como sistema político a república parlamentarista, nesse caso, o poder fica nas mãos do chefe de governo, ou primeiro-ministro, que no caso de Israel é representado por Benjamin Netanyahu desde 2009.

O presidente (ou chefe de estado) não é escolhido por meio de eleições diretas, a decisão fica nas mãos dos parlamentares, o chamado Knesset, e é o representante do cargo quem escolhe o primeiro ministro. Atualmente, o posto é ocupado por Reuven Rivlin há quase 7 anos.

Foto: Motti Kimchi

Os mandatos dos políticos do parlamento duram 4 anos, mas a convocação de novas eleições não é incomum nesse sistema de governo, principalmente em casos em que não há uma boa coalizão formada, ou quando acordos não são facilmente decididos entre eles, o que é a circunstância atual do país.

A política do país é composta por diversos partidos, por isso é muito difícil que apenas um alcance a maioria das cadeiras do Knesset (61), obrigando-os a realizarem negociações e acordos entre si. Em março do ano passado, a coalizão foi formada entre dois rivais, Netanyahu, escolhido pelo presidente, e Benny Gantz.

Em 2019, Gantz havia sido escolhido como primeiro-ministro, mas seu partido de centro Azul-Branco, apesar de ter muitas cadeiras no parlamento, não conseguiu formar uma coalizão com mais nenhum representante do parlamento, o que gerou a 3ª eleição durante a pandemia.

Governo Netanyahu e Gantz

O acordo entre os dois políticos foi, entre diversos motivos, feito para que fosse evitada uma 4ª eleição em um curto período de tempo. Na negociação foi decidido que Benjamin Netanyahu governaria por 18 meses, enquanto Benny Gantz faria o papel de vice. Depois desse período, Gantz teria o mesmo tempo no poder.

Foto: Reprodução El País

O governo, que pretendia ser estável, a pedido do presidente Reuven Rivlin, foi marcado por desavenças. Gantz chegou a criticar Netanyahu publicamente por ter o enganado, por não cumprir promessas e principalmente por não aprovar o plano de orçamento nacional.

O vice-primeiro-ministro chegou a citar ainda que Netanyahu tenta se esquivar de seu julgamento de 2019, quando foi acusado por Avichai Mandelblit, o procurador da república do país, por suborno, fraude e quebra de confiança.

No pacto firmado entre os dois políticos e seus respectivos partidos, era necessário que um orçamento de 2020 e 2021 fosse aprovado até o dia 23 de dezembro. A proposta apresentada pelo Likud, partido de direita de Netanyahu, fazia referência a dois orçamentos diferentes, e por isso não foi aprovada pelos parlamentares. Caso o prazo não fosse estendido, a lei do país exigia que o Knesset fosse dissolvido e que novas eleições fossem convocadas.

Com o parlamento desfeito, Benjamin Netanyahu seguiu como primeiro-ministro interino por 3 meses, até o dia das novas eleições.

As eleições

Foto: POOL/AFP

A 24ª formação do parlamento israelense em toda a história do país, trouxe a expectativa de que a instabilidade fosse finalmente finalizada e que o próximo primeiro-ministro escolhido teria um governo estável.

A esperança dessa vez eram os partidos políticos de menor porte. Eles precisavam atingir o limite mínimo eleitoral (3,35% de eleitos) para que conseguissem ter vaga no Knesset e assim apoiar e criar acordos com os partidos maiores. Os principais que estavam na corrida eleitoral eram o Ra’am e Partido Sionista Religioso que apoiavam Netanyahu, Yamina, partido de direita mas sem apoio declarado, o Meretz e o Partido Trabalhista de ideologia social-democrata e o Azul-Branco, partido de centro de Benny Gantz.

Durante as pesquisas de boca de urna e as apurações, havia ainda uma dúvida sobre a continuidade de Netanyahu no poder. Após 90% das urnas serem apuradas, o político ainda estava com 8 assentos a menos do que era esperado. Nem com o apoio do Yamina seria possível que se atingisse o esperado, ainda faltaria 1 cadeira para que os 61 assentos fossem ocupados por apoiadores do primeiro-ministro.

Apesar das acusações criminais, Netanyahu não obteve a maioria necessária, mas conseguiu o maior número de apoio no parlamento. O resultado se deve principalmente à sua gestão na pandemia, que fez com que Israel fosse líder mundial em vacinação contra a covid-19, além de ter sido o responsável por aproximar Israel com alguns países árabes.

O que esperar para o futuro político do país

Ainda é esperado que o impasse político não chegue ao fim. Houve troca de farpas entre o primeiro-ministro e o chefe do partido de direita que ainda não havia demosntrado apoio à ele. Netanyahu pediu para que Naftali Bennett assumisse o compromisso de não apoiar a oposição. Em resposta, Bennett disse que “compromissos para Netanyahu não valem nada”.

O atual primeiro-ministro tem a esperança de que algum bloco da oposição ofereça apoio a ele, como é o caso do Ra’am, um partido árabe.

Caso a oposição inteira se junte, a maioria de 61 cadeiras é atingida e abriria a esperança de um novo governo, mas para que isso seja feito, é preciso que árabes e judeus entrem em um acordo e apoiem a coalizão.

Foto: Dunand/AFP

Ainda assim, o Reuven Rivlin ainda é o responsável pela escolha do primeiro-ministro e precisa decidir, junto com o parlamento, se irão continuar apostando em Netanyahu, o que pode levar dias ou até semanas. É esperado que haja uma nova chance para o atual primeiro-ministro, junto com uma coalizão diferente da anterior. Se o novo governo não der certo, o país irá seguir rumo a outra eleição, a 5ª desde 2019.

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Leticia Araújo Linhares
Revista Provisória

Jornalista em formação tentando se descobrir no mundo da comunicação.