Girlboss: como as mulheres têm deixado sua marca no empreendedorismo nacional

Victória Roberta
Revista Provisória
6 min readMar 12, 2021

Luiza Trajano e Sônia Hess são gestoras de sucesso no Brasil

Foto: Divulgação/Fórum Econômico Mundial

O dia 8 de março comemora tantas mulheres, e aumenta a cada ano as celebrações femininas. Uma festividade oriunda da luta pelo direito ao trabalho recorda a intensa luta das mulheres pelo posto profissional. A história das mulheres no mercado de trabalho é recente se formos comparar a história da civilização. O esforço e a dedicação das mulheres ao trabalho caminham a passos lentos, baseados em décadas de trabalho duro para conquistar direitos básicos trabalhistas, e assim serem inseridas no mercado. Durante os tempos agrícolas, as mulheres desempenhavam papéis como moer grãos e carregar água, além do cuidado com a prole. A Revolução Industrial foi um importante marco na história para que a inserção feminina no mercado de trabalho acontecesse. Até então o cuidado do lar e a criação dos filhos eram as principais tarefas da grande maioria das mulheres. A necessidade de trabalhadores nas fábricas nascidas na Revolução Industrial, foi a porta de entrada para que as mulheres trabalhassem fora.

Longe do ideal, uma dura realidade enxergada até os dias atuais, as mulheres recebiam ainda menos do que os homens, que já recebiam muito pouco por exaustivas jornadas de trabalho. Esposas, mães e agora trabalhadoras, as jornadas eram cada vez mais cansativas, fora as mais de 14 horas que passavam nas fábricas, ainda era necessário cuidar de casa e dos filhos. Após a Revolução Industrial, outro grande momento em que foi necessário a saída para o mercado de trabalho, fui durante às duas Grandes Guerras. Por necessidade, muitas mulheres foram inseridas no mercado de manufaturas e armamento, para substituir os homens que estavam na guerra e com a autonomia, muitas mulheres tornaram-se independentes.

Mulheres trabalhando em fábrica durante a Revolução Industrial (Getty Images)

No Brasil, em 1943, houve o primeiro passo para que os direitos fossem garantidos. Com a promulgação da Consolidação das Leis Trabalhistas, CLT, homens e mulheres tiveram seus direitos respaldados pela legislação, validando a atividade empregatícia feminina. No ano seguinte, em sua primeira modificação, a CLT admitiu que mulheres maiores de 18 anos pudessem trabalhar em período noturno. As leis trabalhistas foram fundamentais para que direitos como a licença maternidade fossem conseguidos, marco importante para tantas mulheres. Em 1945, a Organização das Nações Unidas (ONU) assinou o primeiro acordo internacional sobre a igualdade entre homens e mulheres.

Não é novidade para ninguém que a desigualdade ainda hoje, 76 anos depois, afeta muitas mulheres, e principalmente, no que diz respeito ao trabalho. Apesar de qualificação profissional e jornada de trabalho similares aos homens, o sexo feminino recebe bem abaixo do masculino. Além de salários menores, as oportunidades de ser escolhida para uma vaga torna-se ainda menor quando considerada a vida pessoal da candidata. Gravidez? Licença maternidade? Tudo isso atrapalha a contratação de mulheres. Coisas pertinentes e comuns na vida, são vistas com maus olhos por exigir que a mulher esteja ausente durante certo período. Fora os inúmeros casos de denúncias de assédios sofridos por funcionárias por seus superiores. Quando não, a pressão sofrida pela exaustiva dupla jornada, precisando além de ser uma boa profissional, ser uma boa dona de casa e mãe. Estes fenômenos acontecem a tantas mulheres, e muitas têm optado por empreender, sendo donas de seus próprios negócios. Muitas vezes o empreendedorismo é visto com maus olhares, já que é uma longa escada a subir sem certeza alguma de sucesso. Muitas pessoas optam por seguir suas vidas como funcionárias de instituições privadas, outras buscam segurança através de concursos públicos que os oferecem segurança.

Luiza Trajano é de detentora de uma fortuna estimada em U$4,9 bilhões segundo a revista americana Forbes Foto: (Flavio Santana/Biofoto)

Luiza Helena Trajano é um fenômeno singular. Proprietária da Magalu, a empresária está entre as mulheres mais poderosas do Brasil. O Magazine Luiza foi fundado pelo casal Pelegrino José Donato e Luiza Trajano Donato na cidade de Franca, interior paulista, em 1957. Luiza Helena, sobrinha de Luiza Donato, começou a trabalhar logo cedo com os tios. Quando tinha apenas 12 anos, aproveitava suas férias escolares para trabalhar na loja. Quando completou 18 anos, Luiza ingressou de fato no trabalho com os tios. Luiza passou por todos os departamentos da loja até assumir a presidência, assim ficando por 24 anos. Atualmente, seu filho, Frederico Trajano, ocupa o cargo. E Luiza atua como Presidente do Conselho de Administração do Magalu. Ao longo de sua trajetória, Luiza recebeu centenas de premiações como empreendedora, mulher e líder. Ficou em primeiro lugar como líder de negócios com a melhor reputação no Brasil pela Merco e também foi a única executiva brasileira a integrar a lista global do World Retail Congress.

“Empreendedorismo, para mim, é fazer acontecer, independentemente do cenário, das opiniões ou das estatísticas. É ousar, fazer diferente, correr riscos, acreditar no seu ideal e na sua missão.”

- Luiza Trajano.

Outra mulher empreendedora de sucesso, foi Adelina Clara Hess de Souza, que ao ver seu marido, Duda, comprar metros de tecidos a mais, pensou em transformá-los em camisas. Evitando o desperdício, que naquela época fazia muita diferença no bolso, Lina conseguiu vender rapidamente as peças que fez. Vendo uma oportunidade de empreender, surgiu assim a Dudalina, empresa de confecção muito conhecida no Brasil. Uma das filhas do casal, Sônia Hess, assumiu o comando da empresa em 2003. Sônia desempenhou um excelente papel à frente da empresa, sendo responsável pelo crescimento de 30% ao ano desde 2009. Em 2013, foi eleita pela revista Forbes como a sexta mulher de negócios mais poderosa do Brasil. Após a morte de Adelina, fundadora da empresa, Sônia se reuniu com seus 15 irmãos para decidirem o futuro da empresa. Obedecendo ao pedido da mãe, para que a família não fosse desfeita e nem acometida por discórdias perante ao dinheiro, decidiram vender 72,27%do capital da Dudalina por R$650 milhões. Em 2014, a empresa foi unida ao grupo Restoque, nascendo assim a maior loja de roupas varejista do Brasil.

Luiza e Sônia são exemplos de mulheres de sucesso que construíram verdadeiros impérios através do empreendedorismo. Elas representam milhares de mulheres que ganham a vida através de seus próprios negócios. Talvez estes não sejam tão luxuosos ou lucrativos como os delas, mas na venda de salgados, bolos, cosméticos, na prestação de serviços como as cabeleireiras, milhares de famílias chefiadas por mulheres garantem seu sustento através de pequenas empreendedoras. Em 2020, segundo a Rede Mulher Empreendedora, houve o aumento de 40% de empreendedoras quando comparado ao ano anterior. A pandemia apenas revelou aquilo que muitas mulheres já fazem há tempos.

Sônia esteve a frente da Dudalina por 13 anos | Foto: Reprodução

Outro fenômeno observado nos últimos meses foi o aumento de mulheres jovens empreendedoras. Milhares de jovens iniciam suas lojas onlines e surfam na onda do marketing digital. O marketing de conteúdo tem se tornado o melhor amigo destas jovens, que são vendedoras de produtos e serviços de diversos nichos. Dentistas, esteticistas, designers, lojas de roupas, acessórios, cosméticos, todas lançam sua marca e fazem sucesso atraindo novos clientes. Fora as #girlboss responsáveis pelas mentorias e conhecimentos de estratégias digitais. O empreendedorismo tem sido o caminho encontrado por tantos profissionais decolarem e construírem sua carreira e patrimônio.

--

--

Victória Roberta
Revista Provisória

Jornalista em formação. Paulistana e estudante da UNESP. Pseudo artista. Adoro conjugar verbos nos mais diversos tempos.