Grammy 2021: Os bastidores da principal premiação da música
No último domingo, 14, foi realizada nos Estados Unidos a 63ª edição do Grammy, a principal premiação da música mundial. Em razão da pandemia da Covid-19, a cerimônia foi feita com ajuda da tecnologia, como já vinha acontecendo com outros eventos, a exemplo do Globo de Ouro, e mesmo com as adaptações a festa não deixou a desejar e contou com grandes performances de seus artistas, como Dua Lipa, Harry Styles e Billie Eilish. O ponto alto da noite, no entanto, ficou para a Queen B, que levou para a casa mais quatro gramofones e se tornou a mulher mais vencedora da premiação com 28 troféus. Se em cima do palco o Grammy foi sinônimo de sucesso e celebração, fora dele não é possível dizer o mesmo. Zayn e The Weeknd, que não receberam nenhuma indicação, fizeram duras críticas à Academia e ainda sugeriram corrupção por parte dos jurados.
Veja a lista com os vencedores das principais categorias do Grammy 2021:
- Álbum do Ano
Chilombo — Jhene Aiko
Djesse Vol 3 — Jacob Collier
Black Pumas Deluxe — Black Pumas
Everyday Life — Coldplay
Folklore — Taylor Swift
Women in Music Pt III — Haim
Future Nostalgia — Dua Lipa
Hollywood’s Bleeding — Post Malone
- Música do Ano
Cardigan — Taylor Swift
Circles — Post Malone
Everything I wanted — Billie Eilish
If The World Was Ending — JP Saxe Feat Julia Michaels
I Can’t Breathe — H.E.R.
The Box — Roddy Rich
Black Parade — Beyoncé
Don’t Start Now — Dua Lipa
- Gravação do Ano
Black Parade — Beyoncé
Don’t Start Now — Dua Lipa
Rockstar — DaBaby feat. Roddy Rich
Circles — Post Malone
Savage — Megan Thee Stalion Ft. Beyoncé
Colors — Black Pumas
Say So — Doja Cat
Everything I Wanted — Billie Eilish
- Melhor Clipe
Life is Good — Future feat Drake
Adore You — Harry Styles
Brown Skin Girl — Beyoncé
Goliath — Woodkid
Lockdown — Anderson.paak
- Artista Revelação
Noah Cyrus
Doja Cat
Ingrid Andress
Chika
D Smoke
Megan Thee Stallion
Kaytranada
Phoebe Bridgers
Grammy 2021
Com um total de nove indicações, Beyoncé era a artista com mais indicações na noite, seguida de Dua Lipa e Taylor Swift que somavam seis cada uma. Favoritas em todas as categorias que estavam, as cantoras disputavam em pé de igualdade as apostas de quem iria ser coroada a grande vencedora da premiação, mas quem realmente levou o título para casa foi a Queen B, que conquistou quatro gramofones, entre eles o de Melhor Clipe com “Brown Skin Girl”, a produção contou com a participação de Blue Ivy, 9, filha da artista, que com o prêmio se tornou a segunda pessoa mais jovem a ter um Grammy. Assim, Beyoncé chegou aos poderosos 28 troféus em 79 menções e assumiu o posto de mulher mais vencedora da história da premiação.
Dua e Taylor, por sua vez, ficaram com apenas uma categoria cada. A britânica faturou o troféu de Melhor Álbum Vocal Pop com “Future Nostalgia”, enquanto a americana triunfou no principal prêmio da noite de Melhor Álbum do Ano com Folklore, uma produção feita durante a pandemia da Covid-19 que traz ao público um lado diferente da cantora com uma vibe indie-pop. As novas faixas de Taylor trocam as batidas fortes e marcantes de seus álbuns anteriores por melodias calmas construídas sob a base do violão e do piano. Essa é a terceira vez que a artista leva o sonhado gramofone, em 2016 ela venceu com “1989” e em 2010 com “Fearless”, alcançando um total de 11 troféus na carreira.
Ainda na pauta dos vencedores do Grammy, outras duas artistas também merecem destaque, são elas: H.E.R. e Megan Thee Stallion. A rapper foi escolhida como a Revelação do Ano, superando sua colega de ramo Doja Cat, favorita ao prêmio. Já a cantora americana de 23 anos, cujo nome artístico significa “Having Everything Revealed” (Ter Tudo Revelado em tradução literal), ganhou o prêmio de Música do Ano com “I Can’t Breathe”, uma gravação feita em casa sobre os diversos ataques feitos contra a população negra nos últimos anos. O nome da canção, inclusive, faz referência a frase repetida inúmeras vezes por George Floyd quando um policial branco pressionava o joelho em seu pescoço.
“Nós escrevemos essa música pelo FaceTime e eu não imaginava que o meu medo e minha dor iriam gerar impacto e possivelmente mudança e eu acho que é exatamente sobre isso, é por isso que eu escrevo canções, é por isso que eu faço o que eu faço, eu sou muito grata (…) lembrem que nós somos a mudança que desejamos ver e aquela luta que tivemos no verão de 2020, mantenham essa mesma energia”, H.E.R. em seu discurso de aceitação do prêmio de Música do Ano.
Entre gramofones e agradecimentos, o Grammy também contou com performances dignas da grandiosidade da cerimônia, a começar com Dua Lipa, que apresentou um mix de “Levitating” e “Don’t Start Now”. Com uma coreografia bem montada e três figurinos impecáveis, a estrela pop mostrou todo seu talento na companhia do rapper Da Baby e entregou um verdadeiro show aos milhões de telespectadores que acompanhavam o evento de suas casas. Outra apresentação que não desapontou e fez a felicidade de muitos foi a estreia do Silk Sonic, o duo formado por Bruno Mars e Anderson .Paak. Cantando o seu primeiro single “Leave The Door Open”, que em menos de duas semanas já é um enorme sucesso com sua melodia perfeitamente produzida, a dupla fez o simples e por pouco não ficou com a melhor performance da noite.
Quem conquistou o título e fez justiça ao hit que explodiu na plataforma do Tik Tok em 2020, foi a Cardi B com uma apresentação no melhor estilo da rapper. Ao som de “WAP”, a cantora não poupou na produção e nem na coreografia, e em apenas cinco minutos marcou sua presença na premiação. Com participação na música, Megan Thee Stallion também se juntou à festa e dançou até o fim da performance, que ainda contou com um remix do artista brasileiro Pedro Sampaio. Porém, como não é só de sucessos e elogios que vive um artista, o show entregue pelas rappers não foi bem visto por algumas pessoas, em especial o Conselho Televisivo de Pais e o produtor Rick Bonadio, que desmereceu o funk e afirmou ser um estilo musical não digno de estar no Grammy.
“A performance de ‘Wet-Ass P*ssy’, e não vamos fingir que ‘WAP’ significa outra coisa, foi completamente inapropriado para uma transmissão de horário nobre de uma rede de televisão (…) especialmente durante um período quando crianças podem estar assistindo. Vergonha CBS.”, diz a nota publicada pelo Conselho Televisivo de Pais.
No total foram 22 apresentações no line-up da principal premiação do ramo da música. Por conta da pandemia da Covid-19, o evento teve que se adaptar aos novos protocolos de segurança e não pode ter plateia ou mais de um acompanhante por convidado, por exemplo. O Grammy, tradicionalmente realizado no Staples Center, em Los Angeles, foi organizado em um ambiente aberto, com mesas espaçadas e exigência de máscaras em todos. As performances, antes feitas sob os olhos do público, foram levadas para outro local, com palcos sendo montados e desmontados a cada 45 minutos, e algumas foram, inclusive, gravadas para evitar a circulação de muitas equipes. Totalmente diferente de suas edições passadas, a Academia espera que a versão 2021 seja a única em sua história, até a parte das polêmicas.
Boicote ao Grammy?
Uma vez que a câmera liga e o show começa pouco se fala do que acontece nos bastidores do Grammy ou de qualquer outra premiação. Com bancas de jurados secretas e diretorias formadas pelas elites de cada ramo, as Academias, que escolhem e julgam os nomes que estarão em suas listas douradas anualmente, dizem fazer um trabalho justo, sem preferências a não ser a técnica. No entanto, nos últimos anos algumas divergências em relação a quem deveria ou não estar entre os indicados, a falta de representatividade e critério tem gerado certos atritos de artistas com a organização.
Neste ano, a ausência que causou mais repercussão foi a do cantor The Weeknd em todas as categorias do Grammy, mesmo após o lançamento de um álbum de sucesso em vendas e em crítica, e um show no valioso Super Bowl LV. A voz por trás do hit “Blinding Lights”, que quebrou diversos recordes em 2020, não recebeu qualquer indicação ou menção por parte da Academia, ficando de fora até do line-up da premiação, enquanto o seu compatriota Justin Bieber recebeu três nomeações individuais pelo trabalho razoável no álbum “Changes” e uma com a dupla Dan+Shay pela colaboração na música “10,000 hours”.
Em entrevista concedida ao famoso jornal The New York Times, The Weeknd afirmou que não irá mais se envolver com o Grammy e nem permitir que sua gravadora submeta seus trabalhos à premiação. Além disso, o cantor canadense ainda sugeriu que o comitê responsável pelas escolhas dos indicados são corruptos e nada “transparentes” ao não revelar o motivo da ausência nas categorias. A mesma acusação foi feita pelo ex-membro do grupo One Direction, Zayn Malik, que através de sua conta pessoal no Twitter criticou a Academia e seus “critérios”, dizendo que “enviaria uma cesta de doces” aos membros da organização na próxima edição. Em outro post, ele também cita a falta de inclusão e representatividade, um problema antigo que o Grammy insiste em esbarrar ano após ano.
“F*da-se o Grammy e todos os associados. A menos que você aperte as mãos e mande presentes, não há a consideração de nomeação. No próximo ano eu enviarei uma cesta de doces para vocês.”, publicou Zayn em uma rede social.
Nomes grandes e importantes da Indústria Musical como os rappers Drake, Kendrick Lamar e Nicki Minaj, e os cantores Elton John e Halsey estão entre os que acusam a premiação de não ser representativa e justa. Para eles, a Academia não faz questão de observar o que de fato está sendo produzido no mercado e simplesmente decide ignorar trabalhos importantes para valorizar aqueles que os convém. Além disso, a ausência de negros não só de categorias importantes, assim como de diversas edições do Grammy também tem desgastado a imagem do evento no meio artístico. O rapper Tyler The Creator foi um dos que comentou o assunto, dizendo que a organização só os indica para categorias pequenas e sem protagonismo.
“Deveríamos parar de nos chocar todo ano pela desconexão entre as músicas que nos impactaram e esses prêmios (…) o que uma vez foi a maior forma de reconhecimento talvez não tenha mais importância para os artistas”, disse o rapper Drake.
Com muitos problemas a serem resolvidos, a Academia de Recordes enfrentará mais um ano delicado. Após sua 63ª edição, que aconteceu neste último domingo, 14, o Grammy terá muito o que melhorar para seu próximo evento se quiser continuar no papel de principal premiação da música mundial, a começar com a falta de transparência no momento de escolha dos indicados. O importante posicionamento tomado por The Weeknd, ao dizer que não se envolveria mais com o Grammy, pode ter sido o alerta necessário para iniciar uma mudança interna, porém, a resposta para essa dúvida só será dita no fim de 2021, quando uma nova lista dourada for divulgada.