Mudança na Petrobras e os efeitos na economia

Maria Tereza Ribeiro
Revista Provisória
6 min readFeb 26, 2021

Depois de dias insinuando mudanças e assegurando reduções nos preços da energia elétrica e do combustível, Jair Bolsonaro, sem partido, deu seu primeiro passo em direção ao objetivo traçado. Na última sexta-feira, 19, foi anunciado pelo mandatário sua indicação ao cargo de presidente da maior estatal do Brasil, a Petrobras. No documento divulgado pelo Governo Federal, o nome que aparece é o do general da reserva Joaquim Silva e Luna, ex-ministro da Defesa e atual diretor-geral da Itaipu Binacional. Caso seja aprovada a troca de comando, essa será a primeira vez em 32 anos que um militar assume a presidência da empresa.

“O governo decidiu indicar o senhor Joaquim Silva e Luna para cumprir uma nova missão, como conselheiro de administração e presidente da Petrobras, após o encerramento do ciclo, superior a dois anos, do atual presidente, senhor Roberto Castello Branco”, diz a nota publicada pela Assessoria de Comunicação Social do Ministério de Minas e Energia.

Joaquim Silva e Luna, atual diretor da Itaipu Binacional que em breve poderá assumir a Estatal — Imagem: Alan Santos/PR

A escolha de Bolsonaro reforça duas características que em pouco mais de dois anos de mandato ficaram claras em relação à sua forma de governar. A primeira é a preferência por militares, tanto em posições importantes da administração nacional, como em postos tradicionais. Um levantamento realizado no ano passado pelo Tribunal de Contas da União, TCU, apontou mais de seis mil indivíduos com funções ativas dentro do Governo Federal, algo visto como ruim por alguns membros do alto escalão. A segunda é a intensa busca por controle dentro e fora do Planalto. Esta não é primeira vez que o presidente tenta intervir em uma instituição externa. Em abril de 2020 foi revelado pelo ex-ministro Sérgio Moro que Bolsonaro o pressionou pela troca de comando na Polícia Federal, PF, com o intuito de “proteger” aliados e parentes alvos de investigações.

Com a indicação de Silva e Luna ao cargo máximo da Petrobras, hoje ocupado por Roberto Castello Branco, o Chefe do Executivo almeja cumprir com a sua palavra e reduzir o valor dos combustíveis, além de desacelerar os reajustes, que segundo ele estão sendo “fora da curva”. No entanto, ao intervir na petroleira, Bolsonaro vai contra o seu discurso disseminado durante as Eleições de 2018, o qual afirmou que não faria nada parecido ao longo de seu mandato. Então, o que motivou a quebra da promessa? Apenas em 2021 já foram promovidos quatro atualizações no preço da gasolina e três no do diesel, o que representa um aumento de mais de 27% em ambos os combustíveis em pouco menos de 60 dias.

Presidente Jair Bolsonaro busca a troca de comando na Petrobras para reduzir o valor dos combustíveis — Imagem: Pablo Jacob/Agência O Globo

Os constantes reajustes causaram desconforto não só na população, como também em Brasília, onde a manutenção dos valores dos combustíveis é apontada como um dos medidores de popularidade do governo. Considerando o atual momento que o país enfrenta, de recuperação da economia frente à pandemia da Covid-19, que completou um ano em solo nacional nesta semana, tornar o diesel e a gasolina entraves para os setores dependentes do transporte poderia significar o surgimento de um complicado problema para a gestão Bolsonaro. Se, de certa maneira, a intervenção foi vista com bons olhos por caminhoneiros e outros profissionais, há quem não tenha apreciado muito a decisão do presidente, a começar pelo Ministro da Economia, Paulo Guedes.

Castello Branco está no comando da Petrobras desde março de 2019, quando assumiu para um mandato de dois anos após ser nomeado no fim do ano anterior. Indicado por Guedes ao cargo, o mandatário da estatal vinha realizando um trabalho eficiente e de recuperação após os eventos recentes envolvendo o nome da petroleira. Sua recondução para mais dois anos de gestão era tida como certa e já vinha sendo discutida nos bastidores, uma deliberação, inclusive, estava marcada para esta última semana para encaminhar um segundo mandato, entretanto, ela teve sua pauta substituída pela indicação de Silva e Luna à presidência, que depende de aprovação do Conselho Administrativo para ser concretizada.

Atual madatário da Petrobras, Roberto Castello Branco recebeu críticas de Bolsonaro por estar de Home Office durante a pandemia da Covid-19 — Imagem: MAURO PIMENTEL/AFP

Além da derrota de Guedes em tentar a manutenção de Castello Branco na posição, a intervenção de Bolsonaro gerou graves consequências para a estatal e o mercado financeiro. Na própria sexta-feira, dia em que foi divulgada a nota contendo a escolha do presidente e teve início a crise, a Petrobras sofreu uma queda de cerca de R$28 bilhões no seu valor de mercado na Bolsa de Valores, um recuo considerável que já sinalizava como seria a segunda-feira para a petroleira. Logo no primeiro pregão do dia, momento dedicado à compra e venda de ações, a empresa encolheu outros R$74,2 bilhões. Esta foi a segunda maior queda diária sofrida pela Petrobras desde 1994, quando foi implementado o Plano Real.

Observando a tendência do mercado, bancos e corretoras de investimentos já orientavam seus clientes a não comprarem ações vinculadas à empresa, recomendando, no lugar, a venda desses títulos. Para os economistas podem ser apontadas como as principais causas para o enorme recuo da empresa a incerteza em torno do futuro do negócio, a insegurança, a falsa sensação de independência em relação ao governo, além do aumento do risco do investimento. E não foi somente a Petrobras que sofreu com as consequências da intervenção de Bolsonaro, outras estatais também tiveram seus valores de mercados reduzidos em razão do receio dos acionistas de que algo similar possa acontecer com as empresas.

Enquanto a Petrobras somou mais de 20% de redução na Bolsa de Valores entre sexta, 19, e segunda-feira, 22, a Bovespa chegou próximo aos 5%, chegando a casa dos 112.667 pontos no começo da semana. No sentido contrário, o dólar abriu em alta, ultrapassando os R$5,45 para a moeda comercial, para turismo era encontrada por R$5,62, totalizando 1,3% de aumento. De acordo com especialistas, podemos apontar como motivadores para a alta da moeda americana: a retirada de investimentos estrangeiros e a busca de ativos mais seguros, como o dólar, pelos acionistas. No momento de fechamento desta matéria, tanto a Bolsa de Valores, como a estatal, estão em ritmo de recuperação, com a Petrobras alcançando o valor de mercado de 294 bilhões e a Bovespa os 115.668 pontos.

Fachada da estatal — Imagem: Alexandre Cassiano/Agência O Globo

Apesar de saber dos efeitos que sua decisão causou na estatal, Bolsonaro parece não estar arrependido ou minimamente preocupado, sendo seu único foco conseguir satisfazer a classe dos caminhoneiros, que há pouco tempo haviam ameaçado entrar em greve. O Chefe do Executivo, inclusive, anseia o término do mandato de Castello Branco. Durante uma live realizada em uma rede social, o presidente questionou o “alto” salário recebido por Roberto, além de sua ausência na empresa, afirmando que “o ritmo de trabalho de muitos servidores lá é diferenciado”. Em decorrência da pandemia de Covid-19, o mandatário está de Home Office por fazer parte do grupo de risco da doença.

“O atual presidente da Petrobras está há 11 meses de casa, sem trabalhar. Trabalha de forma remota. O chefe tem de estar na frente, bem como seus diretores. Isso para mim é inadmissível.”, disse Bolsonaro.

Ainda não há uma data definida para quando será confirmada a troca de comando na estatal. Na reunião realizada na terça-feira, 23, foi apenas aprovada a convocação de uma assembleia para votar se Castello Branco sairá para a chegada de Silva e Luna. Foram seis votos a favor e três contrários, dos 11 membros do conselho, o atual mandatário da estatal e Nívio Ziviani não votaram. Com a mudança, Bolsonaro espera conquistar uma maior liberdade na Petrobras e, assim, efetivar a redução dos valores dos combustíveis. Ainda nesta semana, durante uma conversa com apoiadores, o presidente afirmou que também irá “meter o dedo na energia elétrica”, não se sabe como nem quando, sendo a única certeza a ânsia por controle do mandatário.

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Maria Tereza Ribeiro
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Estudante de jornalismo apaixonada pelo mundo da comunicação e, pelo esportes e suas histórias!