O segundo impeachment de Trump

Victória Roberta
Revista Provisória
5 min readJan 15, 2021

Após invasão ao Capitólio por apoiadores do presidente, processo de destituição segue para o senado

Foto: Gerald Herbert/AP Photo

No último dia 06 de janeiro centenas de extremistas apoiadores do presidente Donald Trump invadiram o Capitólio, sede do legislativo norte-americano, durante uma manifestação contra o resultados das eleições de novembro em que Trump perdeu para Joe Biden. A entrada no prédio gerou uma grande confusão ocasionando em 5 mortos e mais de 90 detidos.

Na ocasião, os manifestantes ultrapassaram barreiras policiais e ingressaram no Capitólio. Donald Trump afirma não aceitar o resultado e em seu discurso acrescenta que ganhou por muito do adversário. Além do negacionismo, Trump pressionou o vice-presidente Mike Pence para que não certificasse a vitória de Biden. Antes da invasão ao Capitólio, Trump afirmou que marcharia junto aos manifestantes e pediu ao legislativo que aprove mudanças nas eleições incluindo a exigência de apresentação de documento de identidade e o fim de envios pelos correios.

Invasão a sede do legislativo norte-americano. | Foto: Saul Loeb/AFP

O acontecimento ocorreu porque Donald Trump derrotado nas urnas não admite a vitória de Joe Biden. Por conta da invasão, os congressistas precisaram migrar para áreas seguras e até mesmo abandonarem o prédio. Com a chegada da Guarda Nacional a sessão foi retomada e Biden foi confirmado para tomar posse no dia 20 de janeiro. O ataque foi avesso pelo país, inclusive pelos companheiros de partido de Donald Trump. Graças às declarações do atual presidente em apoio às invasões, houve uma pressão por renúncia ou destituição do cargo.

No último dia 13 de janeiro, um vídeo divulgado de Trump afirma que o atual presidente ficou chocado e triste com a calamidade acontecida no Capitólio dias antes, e afirma querer uma transição segura. O presidente não mencionou a questão de seu segundo processo de impeachment em tramitação pela Câmara, ocasionado pela violência apoiada no dia 06.

“Quero ser bem claro: eu inequivocamente condeno a violência que vimos semana passada. Violência e vandalismo não tem lugar em nosso país. E nenhum lugar em nosso movimento… a violência em bando vai contra tudo que eu acredito e tudo que nosso movimento representa”, afirmou o presidente.

Almejando distanciar o acontecimento da imagem negativa gerada sobre si, Donald Trump citou “os dois lados”, insinuando que ambos os partidos geraram manifestações no ano passado. Ao final do vídeo, Trump pede união do povo americano.

Donald Trump sofreu várias consequências após a invasão por seus apoiadores. O presidente-executivo do Twitter, Jack Dorsey, afirmou em sua própria conta na plataforma para comunicar a decisão do bloqueio permanente da conta de Donald Trump que obtinha 89 milhões de seguidores e era o principal canal de comunicação do presidente. Além do Twitter, o Facebook e o Instagram bloquearam a conta de Trump por tempo indeterminado. Já a plataforma de vídeos, Youtube, suspendeu o canal por violar a política de incitação à violência, impedido de enviar novos vídeos e fazer lives por 7 dias. Outras plataformas como o Snapchat e Twitch desativaram a conta do presidente.

Toda a confusão gerada no Capitólio não saiu impune. Donald Trump caminha para ser o único presidente norte-americano a sofrer dois impeachments. A Câmara dos Estados Unidos da América aprovou na quarta-feira (13) o processo de destituição por Donald Trump incitar à insurreição ao discursar momentos antes da invasão ao Capitólio. O segundo, após 13 meses, revela as consequências do enfraquecimento da base republicana com Trump. Já os democratas estavam determinados em impor o impeachment do presidente.

No final de 2019, Donald Trump sofreu seu primeiro impeachment na Câmara por conta do telefonema pressionando o governo ucraniano a fornecer artigos contra Joe Biden, porém Donald foi inocentado pelo senado. O impeachment segue para o Senado mas não implicará na destituição de Donald Trump, tendo em vista que o processo chegará ao Senado após o atual presidente deixar o cargo porque os deputados precisam entregar formalmente a acusação.

Membros da Guarda Americana antes de iniciar a sessão de impeachment Foto: Joshua Roberts/Reuters

Diferente do Brasil, nos EUA o presidente não é afastado ao iniciar o processo de impeachment no senado. Para alcançar a maioria de dois terços favoráveis ao impeachment, dezessete senadores republicanos precisarão ser convencidos, caso haja confirmação, as consequências da destituição serão simbólicas ou, segundo a imprensa americana, uma nova votação será feita para o tornar inelegível e não receber sua aposentadoria como ex-presidente, já que a aprovação do Senado não é capaz de suspender os direitos políticos.

O Senado terá o poder exclusivo de julgar todos os impeachments. Quando se sentarem para esse propósito, eles estarão sob juramento ou afirmação. Quando o Presidente dos Estados Unidos for julgado, o Chefe de Justiça deverá presidir: E nenhuma pessoa será condenada sem a concordância de dois terços dos membros presentes. (Constituição dos Estados Unidos: Artigo 1, Seção 3)

Reunião dos deputados sobre o processo de impeachment — Reprodução/G1

Como em 2019, a Câmara precisará nomear deputados responsáveis para apresentar a acusação contra Donald Trump. Após, os senadores votam sobre sua condenação. Geralmente, as cadeiras são bem divididas no Senado e dificilmente um presidente terá o mandato cassado, fato inédito na história do país. O presidente eleito, Joe Biden, evitou atrito em respaldar o movimento contra Trump, liderado pela presidente da Câmara, Nancy Pelosi e pelo líder no Senado, Chuck Schumer. Biden não quer reacender os ânimos dos republicanos e uni-los em torno de Donald em um momento de enfraquecimento do Partido Republicano. Fugindo do desgaste político, Joe espera a paralisação do processo no Senado para não colocar em risco os planos para combater a pandemia.

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Victória Roberta
Revista Provisória

Jornalista em formação. Paulistana e estudante da UNESP. Pseudo artista. Adoro conjugar verbos nos mais diversos tempos.