Os debates que rondam a área da Copa América no Brasil

Leticia Araújo Linhares
Revista Provisória
4 min readJun 10, 2021

A Copa América de 2021 ainda nem teve o seu início, mas já vem desenvolvendo polêmicas. No dia 13 deste mês, no Mané Garrincha, em Brasília, Brasil e Venezuela se enfrentam às 18h para abrir o campeonato. Logo depois, às 21h, Colômbia e Equador jogam na Arena Pantanal.

A seleção brasileira é, atualmente, a campeã do torneio, e há uma alta expectativa dos torcedores. O time não se reúne desde novembro de 2020 por conta da pandemia, mas se mostrou comprometido nos últimos jogos das eliminatórias da Copa do Mundo, com bons resultados e alto desempenho. O elenco irá se assemelhar ao atual, mas ainda é esperado que mais três atletas entrem na lista que será divulgada hoje.

Cronologia das polêmicas

O torneio de 2019 aconteceu no Brasil, devido à pandemia no ano passado, os jogos foram suspensos e retomados apenas este ano. Era esperado que acontecesse na Colômbia e na Argentina, porém a Confederação Sul-Americana de Futebol, Conmebol, decidiu no dia 20 de maio que, devido à pandemia e a crise política, social e econômica que atinge o povo colombiano, não seria possível iniciar uma competição no território.

Foto: Victor R. Caivano/AP

O governo do país havia solicitado que o torneio fosse adiado para novembro, mas a confederação não concedeu o pedido. “Por razões relacionadas ao calendário internacional de competições e à logística do torneio, fica impossível transferir a Copa América 2021 para o mês de novembro; A Conmebol agradece o entusiasmo e o compromisso do Presidente da República da Colômbia, Iván Duque, e seus colaboradores, assim como do Presidente da Federação Colombiana de Futebol, Ramón Jesurún, e de sua equipe” disse a Conmebol em nota.

10 dias depois, no dia 30 de maio, o governo argentino também decidiu por não continuar sediando os jogos devido à grave situação que o país se encontra. O Ministro do Interior, Wado de Pedro, afirmou que seria inviável continuar com o evento, já que o país é o terceiro no ranking de mais mortos por covid-19 na América Latina, com 11 a cada um milhão de habitantes.

Mas sem sede a Copa América não ficou. A Conmebol convidou o Brasil para ser palco dos jogos da disputa, e o governo prontamente respondeu com um retorno positivo. O país foi escolhido devido à infraestrutura já existente e as experiências anteriores como sediando o próprio campeonato e alguns outros.

Mesmo que a confederação afirme que a Copa América é atualmente o “evento esportivo mais seguro do mundo”, muitas reclamações vieram por parte da população brasileira, visto que a situação da pandemia no Brasil também não está controlada. Outra contestação foi relacionada à CPI da pandemia, que descobriu 53 e-mails da Pfizer ao governo sem respostas. A farmacêutica estava oferecendo doses da vacina contra a covid-19 mas não recebeu a atenção devida da administração do país, enquanto isso, a Conmebol obteve sua resposta em horas.

O Presidente Bolsonaro afirmou em conversa com apoiadores que, se depender dele e de seus ministros, a Copa América acontecerá aqui. “Japão, se eu não me engano, 3% foram vacinados pela segunda dose. E vão fazer Olimpíada. Copa América aqui não pode, quer dizer, não querem”, comparou o presidente no mesmo discurso. No Brasil, 10,87% da população está completamente imunizada.

Foto: Carl de Souza/APF

A decisão não aborreceu apenas a população em geral, os personagens principais dos jogos também não ficaram muito contentes com a ideia de jogar no seu próprio país. Houve, inclusive, um debate sobre um boicote com outras seleções sul-americanas, entretanto a ideia não foi para frente, segundo jornalistas do G1.

No jogo das Eliminatórias contra o Equador, no dia 4 de junho, Casimiro, capitão e volante do time, fez uma declaração superficial sobre o sentimento da seleção, mas deixou claro que nem eles e nem a comissão técnica concordam com o que foi decidido, também afirmou que ocorreria um pronunciamento oficial após o jogo contra o Paraguai. Isso porque o assunto não foi bem tratado por Rogério Caboclo, presidente da Confederação Brasileira de Futebol, a CBF, além de, claro, a situação da pandemia no Brasil.

Com esse comentário, os jogadores e o treinador Tite foram criticados, inclusive por defensores do governo atual, fazendo com que Rogério Caboclo cogitasse a demissão do técnico, chamando Renato Gaúcho para assumir em seu lugar, segundo informações de André Rizek, jornalista do grupo Globo.

Entretanto, o time concordou em disputar a competição, logo após o anúncio de afastamento de Caboclo da CBF. O mesmo ficará fora do cargo por 30 dias após acusação de assédio sexual e moral do mesmo, por uma funcionária da confederação. Rogério Caboclo nega todas as acusações, entretanto, foram divulgados áudios que provam o contrário.

No pronunciamento de ontem após o jogo, a equipe afirmou que continuará na competição. Marquinhos, capitão do jogo de ontem, negou que a equipe havia pensado em não jogar o campeonato. “Isso aqui é nosso sonho de criança, estar vestindo a camisa da seleção brasileira. Esse é o nosso orgulho, um dos maiores orgulhos para mim. Em momento algum a gente disse que se recusaria a vestir essa camisa” disse o zagueiro.

Na sua declaração, o jogador ainda negou que foram influenciados a continuar na disputa após o afastamento de Caboclo e que essa não era uma decisão de cunho político. Nas redes sociais, todos os jogadores convocados publicaram um manifesto mostrando insatisfação com a Conmebol.

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Leticia Araújo Linhares
Revista Provisória

Jornalista em formação tentando se descobrir no mundo da comunicação.