Século XXI: A Era dos Streamings
Dentro de poucos dias estará disponível ao público brasileiro o mais novo serviço de streaming de filmes, desenhos e séries: o Disney +. A plataforma da maior companhia de entretenimento do mundo chega ao Brasil para disputar mercado com as já consolidadas no setor, Netflix, Amazon Prime e Apple Plus. Em meio ao sucesso da modalidade, que já soma mais de 300 milhões de assinantes espalhados pelo planeta, os canais de televisão, das mais diversas temáticas, estão se reinventando para conseguir acompanhar a nova demanda de seus consumidores, hoje mais onlines do que nunca.
Porém, antes de começar a apontar as razões pelas quais o universo do streaming conquistou um lugar privilegiado dentro das casas de milhões de pessoas, é preciso entender o que o termo significa. Em linhas gerais, streaming é o ato ou ação de transmitir qualquer tipo de mídia, ao vivo ou gravada, por meio de computadores, smartphones e outros dispositivos, com auxílio da internet. Músicas, filmes, séries, desenhos e reality shows são alguns dos conteúdos mais reproduzidos através da tecnologia, que apesar de recente já causou grandes mudanças ao seu redor, principalmente na maneira como se consome tais produtos midiáticos.
Antes, para você ter acesso a certos canais em sua televisão era preciso contratar uma empresa, que, através de um aparelho e de uma antena, transmitia os sinais privados à sua casa. Antes, para você conseguir assistir as grandes produções do cinema mundial era preciso esperar, ansiosamente, suas estreias nas telonas ou seus lançamentos em DVD. Antes, para você poder escutar suas músicas favoritas era preciso comprar um disco ou um CD. Antes. Antes da internet os hábitos eram outros, não existia a comodidade e a praticidade que hoje são encontradas sem esforço algum por nós.
O início
Pode-se dizer que a internet trouxe, além de tantas outras facilidades, conforto e por isso assumiu um papel tão importante na vida das pessoas. Hoje é possível acessar qualquer tipo de conteúdo em questão de segundos, basta uma busca rápida no Google, um toque no smartphone ou um click no computador para sermos inundados de informações. Em poucos anos, observamos o mundo se adaptar às novas tecnologias e às novas ferramentas, entre elas o streaming, que surgiu pela primeira vez na década de 2000.
Hoje amplamente utilizado, o streaming não foi um sucesso logo que surgiu no mercado. A nova tecnologia precisou de alguns anos até ser vista como uma opção de negócio, sendo a Netflix uma das pioneiras neste sentido, quando em 2007 lançou o serviço nos Estados Unidos. Até então, a gigante do entretenimento funcionava apenas como uma espécie locadora de DVDs, os quais eram entregues aos clientes por meio dos correios. Com a migração para o universo online, a empresa fundada em 1997 viu seu público crescer consideravelmente no país, e logo expandiu seu alcance para o Canadá. Naquele momento começava uma verdadeira revolução na forma em como a mídia seria distribuída.
Após o lançamento da Netflix no país vizinho, em 2010, a plataforma disparou e em poucos anos já estava presente em mais de 40 nações, com cerca de 50 milhões de assinantes. A rápida ascensão do streaming, de modo geral, pode ser associado a dois fatores principais. O primeiro é a ausência de uma programação, então o usuário, diferentemente do que acontece com a “TV a cabo”, pode assistir ao seu conteúdo a qualquer momento, sem um horário pré-determinado pelo canal, além de já ter acesso prévio a temporadas completas em caso de séries, por exemplo. O segundo é a inexistência de intervalos comerciais interrompendo a mídia, que apesar de necessário para o mercado da publicidade, acaba sendo visto como um problema pelos consumidores na maior parte do tempo.
Presente também na música
Além dos tradicionais filmes, séries e desenhos, o streaming também encontrou seu caminho rumo ao mercado da música. Pioneiro nesta fatia do negócio, o Spotify segue narrativa parecida a da gigante Netflix. Fundada em 2008, a empresa sueca começou devagar e apenas em território nacional. Com a proposta de distribuir faixas sem a necessidade da compra de discos ou CDs, o aplicativo foi aos poucos conquistando usuários e logo cresceu pela Europa, alcançando a marca de um milhão de assinantes dois anos mais tarde. Atualmente com mais de 240 milhões de contas ativas e 110 milhões de assinantes pagantes, o Spotify hoje lidera o mercado da música via streaming, sendo o Deezer seu principal concorrente no momento.
Entre os tantos acertos do streaming, existe um problema sério que afeta o nicho da música especificamente. O pagamento de royalties é considerado o principal empecilho para as donas das plataformas. A exigência de acordos e contratos individuais com cada artista para ter a licença de distribuir as faixas, cujo direito quem detém é a gravadora, torna a missão de construir um catálogo vasto extremamente difícil, uma vez que divergências no valor pago pelas empresas podem ocorrer, como foi o caso envolvendo a cantora Taylor Swift e o Spotify. Na época, a artista disse não concordar com a porcentagem repassada pela plataforma aos criadores de conteúdo, alegando que a queda nas vendas de discos físicos em contrapartida ao aumento do streaming deveria ser refletido no pagamentos dos royalties.
Apesar de ainda existirem conflitos como este, dificilmente um cantor deixa de lançar seus conteúdos nos serviços de streaming. A baixa comercialização de discos e CDs, tanto online quanto físico, já é algo considerado pelas gravadoras, que, com o advento da tecnologia, passaram a medir o sucesso do trabalho de seus artistas pela quantidade de reproduções que eles acumulam nas plataformas e não mais através do número de álbuns vendidos, como antes era reconhecido o “tamanho” do(a) cantor(a).
Distribuidora e Produtora
Criado inicialmente com o intuito de facilitar o acesso a produtos midiáticos, o serviço streaming, hoje, também assume o papel de criador de conteúdo. Novamente pioneira, a Netflix começou a lançar suas produções entre os anos de 2012 e 2013 como uma aposta no entretenimento. Caminhando a passos curtos, o principal desafio da plataforma, no início desse processo de se tornar uma produtora, era conseguir brigar com os grandes estúdios, aqui representados, principalmente, pela Universal Pictures, pela Warner Bros. e pela 20th Century Studios, que comandam o cinema mundial.
Com orçamentos bem menores do que seus já consolidados concorrentes, a Netflix sofreu para conseguir nomes de peso que aceitassem arriscar a sorte em uma produção original de um estúdio em crescimento. Seu primeiro conteúdo de sucesso foi a série House of Cards, que estreou no ano de 2013 e traz a história de um político ambicioso em busca do cargo de presidente dos Estados Unidos. Atualmente com seis temporadas, o seriado estrelado por Kevin Spacey foi um dos responsáveis por lançar, de vez, a plataforma no universo das produções.
A aposta foi tão certeira, que ano passado a, agora, produtora anunciou o plano de ter 50% de seu catálogo composto por conteúdos originais, além de um investimento de cerca de US$ 12 bilhões, algo em torno de R$ 64 bilhões na cotação atual, para novas produções. A Netflix, com essas novidades, se posiciona como a marca a ser alcançada pelos demais serviços de streaming, entre eles Amazon Prime, Hulu (não disponível no Brasil) e Apple Plus. Por já ser uma gigante, com todas as honras possíveis, a Disney + não entra nessa disputa necessariamente, sendo o número de assinantes seu verdadeiro desafio frente às “rivais”.
Pode-se dizer, então, que para ter sucesso no mundo dos streamings não basta apenas distribuir títulos terceirizados, é preciso, também, ser original e criar seus próprios conteúdos. No Brasil, a Globo Play, plataforma da maior emissora do país, já segue a tendência mundial. Com suas famosas novelas e minisséries, antes disponibilizadas apenas na televisão, migrando para o universo online, a Globo espera aumentar sua audiência, pois agora seus espectadores não estão “presos” a uma programação e podem consumir seus produtos a qualquer hora do dia, principal vantagem oferecida pela tecnologia.
O fim da TV a cabo?
Um dos principais motivos por trás da unanimidade em torno do streaming está no seu baixo custo. Por funcionar exclusivamente a partir da internet, empresas como Amazon Prime, Apple Plus, Spotify e Deezer, conseguem oferecer preços atrativos -a partir de 10 reais no Brasil- a seus clientes e, assim, ampliar com certa facilidade seus negócios. A estimativa é de que, hoje, mais de 300 milhões de pessoas sejam assinantes de pelo menos uma plataforma, sendo a Netflix, com cerca de 195 milhões de usuários, a maior do ramo do entretenimento nesta modalidade.
Por conta do enorme sucesso que o streaming vem conquistando ano após ano, já é discutido quando será o fim da televisão por assinatura. O modelo de negócio, que existe desde a década de 90, já não consegue mais ter a exclusividade dos canais oferecidos, os quais, ao perceberem o novo comportamento do consumidor, passaram a vender seus conteúdos de modo separado e mais barato. Assim, o que antes era prático por reunir tudo em um único lugar, hoje é tido como caro e nada confortável. Um pacote de TV pode sair na média dos 150 reais mensais.
A expressão “se não pode vencê-los, junte-se a eles” nunca fez tanto sentido para o mercado da “TV a cabo”. No Brasil, por exemplo, empresas como Net, Claro, Vivo e Oi, estão tendo que se reinventar para não perder seus clientes com a chegada do streaming. Uma das principais estratégias que vem sendo utilizada é a venda dos pacotes com as assinaturas inclusas. Agora é, relativamente, fácil encontrar uma opção que te ofereça tanto os canais privados quanto o catálogo da Netflix, por exemplo. Para a proposta funcionar, no entanto, as empresas também tiveram que baixar o valor de seus planos, visto que o custo-benefício oferecido pelos streamings é enorme atrativo. Com preços menores e algumas promoções é esperado que o modelo de negócio ainda consiga se manter por mais alguns anos, mas, caso o avanço do streaming continue neste ritmo acelerado, não serão muitos.