Manifesto Gordx

O punk nunca fará dieta

Revista Rosa
Revista Rosa #1

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Anarkorporeos

O punk nunca fará dieta

Nosso corpo, o primeiro inimigo

é agora, no presente, Gordx

Porque ninguém nasce gordo, se torna..

Declaramos, “algumas garotas são maiores do que outras”

Somos xs anarKorporeos.

Nós proclamamos;

antes de tudo, reconstruiremos nossas vidas a partir do que somos, do que importa,

o transbordamento, o leitão que deseja viver,

Somos gulosxs e tentadxs, puro Eros transformado em prazer por boa comida e bacanal

Gostamos do calor que a gordura nos fornece nos dias de inverno

E frente a uma cultura de modéstia, boa aparência e boas maneiras,

Nós somos a trincheira do fascismo e ditadura da pele

Somos vida transbordada de prazer oral

Porque nós amamos comer e não queremos reprimir nossos desejos

Apenas para agradar a família, ou algumx parceirx sexual aleatórix, ou aquele chefe que não quis me contratar pela má aparência

Somos a denúncia ambulante das inconsistências da democracia dos corpos,

a qualquer custo.

Por que nós não comprometemos os prazeres do nosso estômago,

Nós somos aquelxs que não resistem a desaparecer perante o emagrecimento das diferenças corporais,

Porque a pessoa gorda não é uma coisa engraçada, ela é política, contra o estabelecido,

O que não serve, aquilo que excede, quebrando barreiras, costuras e zíperes, assentos de ônibus. Fronteiras, ficções, desejos.

Aqui estão minhas dobras, aqui estão minhas dobras gordas, aqui está o corpo, este que não corresponde, este que aparentemente ninguém quer foder, este corpo doente.

Falamos como Gordxs, a partir de nossas marcas de estrias, celulites e dobras sebosas que correm por e sobre os nossos corpos, o eterno apelido da escola, como proletários da beleza e da saúde, desejando mais do que sendo desejadxs.

Nós discursamos como gordxs transfeministas, radicais,

porque não basta destruir o gênero se não dinamitarmos também as normas do corpo.

Porque no fundo, nós enojamos o seu sistema de vigorosidade, força e fertilização (de trabalho e militar).

Falamos aqui por todxs xs gordxs que não comem carne, aquelxs que creem que o racismo o sexismo o heterossexismo e o especismo devem ser destruídos.

Aquelxs que não querem trabalhar, xs que desejam deixar de ser, abortar. Xs que não querem parir, estar em greve. Também falamos em nome dxs gordxs peludxs, hediondxs, xs feixs, veados hiperfemininos, aquelxs que não são vistxs em materiais pornográficos, ou que são vistxs apenas como fetiche, as caminhoneiras, xs relaxadas, xs que arrotam na mesa, asquerosxs, pertubadorxs, excessivxs, nunca quietxs ou impecáveis.

Éramos a garota gordinha, a que nunca era tirada para dançar, aquela que nunca conseguiu fazer dieta, a envergonhada, que precisava se cobrir toda, a vaca gorda, essa que sempre queriam tapar a boca, a leitoa, a obesa, bola de sebo, oleosa, baleia, Jabba, a “Gonzalo Cáceres”, a bola, gorda. Para os outros, nosso corpo é um grande globo deformado, gorduroso.

Porque todos nós somos potenciais gordxs anoréxicxs.

Não queremos nos modificar ou que nos aceitem pelo o que somos “por dentro”, nem nos auto-torturarmos com dietas e exercícios pesados, queremos desensinar desejos e queremos que nossos corpos se tornem potências de desejo pelo simples fato de serem corpos.

Nós falamos para todas aquelas garotas gordas que ainda se encontram no espaço do silêncio, da vergonha, do escárnio… Nós não as convidamos a sair do armário do tamanho, mas a destrui-lo.

O espelho não é um reflexo da realidade, o que vemos nele não é mais do que uma construção social que precisa ser desconstruída.

Colocamos nossas garras de fora, uivamos como lobas e deixamos o espaço do silêncio.

HOJE GORDA

ONTEM PUTA

AMANHÃ LOBA

Manifesto escrito e publicado por Constanza A. Castillo e Samuel Hidalgo. É possível assistir ao vídeo-performance que dá ainda mais vida ao texto no site www.missogina.tk.

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Revista de arte e literatura com temática Queer/LGBT