Um divórcio, uma história verdadeira ou quase

Por Jozias Benedicto

Revista Rosa
Revista Rosa #3
2 min readJun 8, 2014

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Eles casaram muito jovens, ela fez questão de deixar registrado nos autos. Ela casou virgem, e quando falou sobre isso enrubesceu. Ele quis deixar claro, bem claro, de que se dependesse dele, não se separariam, nunca. Nunca.

Meu pai era muito rico e ele era apenas um engenheirinho, ela disse, e ele foi o meu primeiro e único homem e conquistou a confiança do meu pai e por isso ficou com a empresa e o dinheiro todo que era meu e de minha família, e por isso eu quero acabar com a vida dele, quero deixar ele sem nada.

Nós casamos muito jovens, ele contou, ela uma menina mimada, e o pai um louco, gastava o que as empresas não rendiam, ia perder tudo com as amantes jovenzinhas se eu não tivesse ajudado a controlar, a diminuir as despesas e a investir, graças a meu trabalho é que os negócios foram pra frente, ela teve esta vida de perua, dondoca, Daslu, eu pagava todas as contas, e queria continuar assim, um divórcio é traumático, dividir os bens, fortuna nenhuma resiste.

Ela falou, as mensagens no celular. Nunca tinha desconfiado até ler as mensagens, os torpedos, os e-mails, os WhatsApp, os Viber, sem contar outros aplicativos piores. Piores. Se fossem mulheres. O senhor sabe que existe um tal de Grindr, que mostra homens a fim de sacanagem, sacanagem entre homens, uma coisa nojenta, o que querem fazer e a distância que estão e eles então se trocam mensagens? mensagens sujas? fotos também, tudo isso no celular dele, foi fácil, só entrar, a senha é fácil, ele é bobo, um engenheiro, um empresário, mas é tão bobo, a senha do celular é o numero do telefone fixo de nossa casa, de minha casa, eu entrei no celular dele e vi as mensagens todas.

Ele retrucou, ela está fazendo uma tempestade com as mensagens arquivadas no meu celular. Algumas poucas podem até ser de verdade, outras são brincadeiras. Brincadeiras, um celular hoje em dia é como um joguinho, relaxa a tensão e se diverte trocando. Mensagens. Eu digo que um homem precisa se divertir. Ela é fria. Ela só goza com uma bolsa Louis Vuitton entre as pernas. Casamos muito jovens. Um homem como eu precisa expandir as empresas, expandir os interesses, até os sexuais. Depois de uma certa idade. Não vou negar. Que tenho. Interesses. Por alguns. Rapazes. Mas isso nunca perturbou meu relacionamento com ela, minha mulher, esposa, mãe dos meus filhos, continuo o provedor de sempre. Tudo o mais é uma brincadeira, uma diversão, mas o casamento é sagrado.

Ela diz, eu quero acabar com a vida dele.

Ele diz, o casamento é sagrado.

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Revista Rosa #3

Revista de arte e literatura com temática Queer/LGBT