É como Gal Costa disse: livre do amor para amar

Batismo/Renascimento

Rafael Oliveira
Revista Subjetiva
4 min readMay 3, 2021

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O amor vence tudo, mas o tempo vence o amor — Pierre Mignard

1- “Só não se esquece que eu também te amo… Quando você olha pra ela eu viro areia. Curva seu corpo pra ela pra mim, montanha

2- Digo-lhe pela terceira vez: você não ira entender nada. Olhe as datas, numerologia nunca foi tão importante.

3- Dizem que continuar amando é apenas uma questão de escolha.

4- Tenho um pesadelo recorrente ambientado em uma suíte. Fragrância de intimidade, polimerização corporal, conjunção carnal. Alumbramento (como não? Esse momento foi expectado por anos), êxtase. A história é feita. À partir desse momento, não há mais volta. Aconteceu. Deus sabe o quanto chorei pois, a milhas de distância, pude ouvir o seu espasmo, seus olhos revirando, e soube (ah! como soube) que não havia mais volta (o inevitável, implacável, ponto de não retorno).

5- Um ser humano, 6 palavras: Cais, herói, álibi, nêmesis, algoz, colonizador.

6- Noite de 14/11/2020 — Madrugada de 15/11/2020 (uma certeza meio duvidosa. Um ponto de partida).

7- O amor vence tudo, mas o tempo vence o amor.

8- A cada palavra, a cada fragmento de futuro, é mais metamorfose e menos amor (ou é paixão?).

9- I wrapped in cellophane… the feeling that I have.

10- Tenho medo de achar que vai ser sempre essa via de mão única. Paguei essa fatura quando disseram que juntos dividiríamos a conta (acho que interpretei errado).

11- Venho usando a tentativa e erro para contornar essas mudanças intrínsecas. Tudo parece tão novo. Podar o contato, rispidez (que sempre me causa náusea), obliterar sua presença em meu museu, não perguntar por curiosidade o que pode estragar meu dia. Embora existam dias que tudo falha. Eu falho, e retorno para a cegueira.

12- “Dói olhar para as nuvens, mas é bom. Como todas as coisas que causam dor”. Não acredito, embora numa madrugada de fevereiro quente como o inferno, você vandalizou minhas artérias como ninguém. Sangrei pelo chão do quarto até o torpor ceder a letargia. No outro dia, o sangue permanecia correndo como se a catarse não houvesse ocorrido.

13- Mas você já amou alguém que não ama você, assim desse jeito?

14- Você é irromanceável. Mas eu romanceio.

15- Quando estamos a sós, me induz a contar todos os meus segredos, embora não me obrigue a nada. Sinto meu charme escapando dos meus lábios como vapor. O mais perto que cheguei de um confidente (estava quase lá). E naquela tarde, me abri como um crisântemo tímido, que especialmente floresce fugazmente quando o sol vai embora. E te escutei, te entendi e soube: você nunca poderia me dar o que quero. Não tem como e é esperar demais de outra pessoa. Você não me entende.

16- Quando acaba, tem fim?

17- “I’m torn between obsession and hate
For the mess that he made me make
[…]
And I could only have you in my dreams

18- O que você quer nem sempre é o que você precisa — Tanta gente querendo ser amado e você renegando amor. Não é um julgamento, é uma perspectiva.

19-Penso que te amei como nunca amei ninguém antes. O próprio ato, verbo, conjunção, adjetivo. Embora ressoe um tanto estranho, sem recorrência na prática, embora velho conhecido em projeções, ideias e desejos. “Prática”, pois pode o amor, quando a dois, ser decorrente de um?

20- Você é meu presente perfeito: não um objeto embrulhado, mas um tempo verbal. Um grande evento que começou e continua acontecendo (mas tudo tem um fim, sabe?). Permanece nos meus vocábulos, é quase uma sentença, um julgamento. Uso as letras para falar-te e elas sempre me lembram (lembrarão?)você (entende?).

21- Dois meses foi muito pouco, de modo que teremos que adiar nosso reencontro. Estou orbitando, estou orbitando… E, um dia, quem sabe, irei aterrissar. É sobre gravidade, física e escala de emergência.

22- Tomei decisões, ponderei como um conselho de guerra, olhei para bem longe perpassando qualquer matéria sólida até que, refletido, bem longe de onde estou, encontrei-me com um sorriso saudoso refletido em uma adaga.

23- E só sei ser assim, metade faca, metade veludo e, às vezes, tento cortar com o lado errado. Só sei derramar, expurgar, proclamar e dar vazão as minhas resoluções em uma tela de 64bits. Eu lhe disse que te amo. Disse os contras. Até citei sobre uma certa situação com uma certa pessoa e você não pegou nada. Mas lhe disse. Tenho esse hábito de não falar com seriedade. Me perdoe. Espero você perguntar aquilo, para dizer sinceramente, em voz alta, afirmando (depois de muito ensaio com as paredes do meu quarto) não só para você, mas para mim, o que já sei, mas não consigo tirar do papel. Esse roteiro, esse enredo batido, mastigado. Perdão, nunca fui tão fosco, dissonante, tão… facínora. Te peço perdão pelas inúmeras palavras. É o perdão mais sincero que já intencionei a alguém.

24- Adeus, boa vida e gratidão pelas ovelhas. O endereço? Você. Como se tudo tivesse o seu derradeiro fim. Todavia, começa e termina comigo. Amanhã, para você tudo permanecerá o mesmo, embora para mim a vida recomece. O sol está brilhando lá fora. E isso vai ser só uma história, que te conto alguns anos mais tarde. Eu te amo forte, com intenção, apesar de tudo.

25-Um brinde ao homicídio das (des)paixões.

III — Fim.

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Rafael Oliveira
Revista Subjetiva

Você está nos meus dedos e nos meus pensamentos, embora só escreva de você para falar de mim. Rafaeloljs@gmail.com