É preciso se amar em primeiro lugar

Me sentir insuficiente para alguém me fez perceber que eu precisava ser o autossuficiente antes

Grazie S
Revista Subjetiva
4 min readMay 2, 2019

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Reprodução: Pinterest

Eu sou uma pessoa romântica. Sempre fui e acredito que sempre serei. Eu gosto de romance, gosto da ideia de ter alguém com quem compartilhar a vida e alguém para quem dedicar as músicas da Anavitória. Eu também sempre me apaixonei fácil. E me apaixonei muito. Mas quando paro para analisar minhas antigas paixões, acabo percebendo que a maioria delas era idealizada. Eu sabia pouca coisa das pessoas de quem gostei e criava tudo dentro da minha cabeça. Lá tudo sempre deu certo, então não havia motivos para eu externalizar esses sentimentos.

Minha última paixão não foi fácil. Também foi idealizada — eu criei outra realidade dentro da minha cabeça e fechei os olhos para a verdade: de que nós nunca daríamos certo; mas de uma forma diferente. Eu sabia muito da outra pessoa. Sabia o suficiente para sentir atração por tudo o que ela representava e me apaixonar por tudo o que poderíamos ser. A pessoa em questão nunca afirmou querer o mesmo que eu, mas também nunca negou. Existiu zero responsabilidade afetiva por parte dela e cem por cento de ilusão da minha parte. E quando tudo acabou, de uma hora para a outra, eu fiquei sem chão. Eu quis aquilo com tanta intensidade, que não soube compreender, em um primeiro momento, que a culpa não era apenas minha.

Eu idealizei em partes. Mas a pessoa me deu motivos para esperar mais, sem ter a intenção de se doar.

Quando analiso aquela quase relação, eu percebo que não era saudável. Eu era muito dependente. Praticamente obcecada. Falávamos-nos todos os dias, a todo instante. Era a primeira pessoa para quem eu mandava ‘bom dia’ e a última a quem eu respondia antes de dormir. E quando essa pessoa sumia e ficava algum tempo sem falar comigo, eu surtava. Passava horas nervosa, preocupada, mandando mensagens e perguntando o que estava acontecendo. Se estava tudo bem. Estava tudo bem com ela, mas não estava tudo bem comigo. Quando eu pensava no futuro, nem que fossem coisas para o final de semana, não fazia planos individuais. Era tudo em conjunto. Eu não conseguia me ver sozinha e isso não me fez bem. Porque quando tudo acabou e eu me dei conta de que não seríamos juntos, me senti insuficiente. Senti que havia algo errado comigo, que alguma parte de mim era ruim e por isso a pessoa havia abandonado a ideia de existir um nós.

Para ela, um nós nunca havia sido uma possibilidade. Para mim, havia sido tudo.

Eu passei dias terríveis após perceber que seria apenas eu dali para frente. E disso para eu finalmente perceber que tentei preencher vazios dentro de mim com outra pessoa, levou meses. Nesses meses, eu aprendi a ser autossuficiente. Por escolha minha? Não. Eu não queria estar sozinha. Mas permaneci. Primeiro por medo de sofrer. E depois porque entendi que havia necessidades dentro de mim, que eu precisava atender antes de voltar a me relacionar.

Porque eu não podia depender de ninguém. Eu não podia me apaixonar, me entregar e dar meu coração na mão de outra pessoa que poderia não cuidar dele e machucá-lo novamente. Eu não queria sofrer de novo. Então me obriguei a me fechar e me cuidar. Eu só podia confiar em mim mesma, para evitar uma nova decepção.

Quem melhor do que eu, para evitar que meu coração fosse quebrado?

Eu comecei a me ver sozinha e aceitar isso. Amar isso. Amar minha companhia, aceitar meus gostos, amar meus defeitos e exaltar minhas qualidades. Eu passei a preencher meu tempo livre comigo. Eu não tinha uma paixão, alguém em quem pensar, com quem conversar ou idealizar um futuro juntos. Eu tinha apenas a mim. E isso foi necessário perceber que eu era o suficiente. Que na verdade, eu era muito mais. Eu transbordava.

Eu me apaixonei pelos meus gostos. Abracei minha identidade, sem medo e sem máscaras. Abri meu coração para as coisas que me faziam realmente feliz, ao invés de dá-lo para alguém. Eu não preciso mais passar o dia todo falando com outra pessoa. Eu não preciso mais imaginar meus finais de semana com outro alguém para que eles valham a pena. Eu não preciso mais imaginar um futuro onde eu não esteja sozinha para me sentir feliz. Eu não vou falhar na vida, caso um relacionamento não dê certo novamente. Eu não vou morrer sozinha.

E não digo isso porque encontrei um novo alguém. Digo por que eu não me sinto mais sozinha, porque tenho a mim. Ter medo de ser insuficiente para alguém novamente, me tornou suficiente para mim mesma.

Eu não preciso de ninguém para dedicar músicas da Anavitória. Prefiro passar um tempo comigo e o meu amor próprio, obrigada.

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