11 mulheres e um filme: o drama de sair com um jornalista cinéfilo e adúltero

Victor Hugo Liporage
Revista Subjetiva
Published in
3 min readDec 27, 2019
Crônica livremente inspirada na thread: https://bit.ly/2QBRpEf

Algumas citações das mulheres que foram convidadas por Theo Vilaça — jornalista, cinéfilo, cineasta (e adúltero nas horas vagas) — , a assistir “O Irlandês”, um filme de 3h30 de duração, num cinema de Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro, em dias diferentes e religiosamente às 20h30 da noite — menos num dia, em que ele viu o filme três vezes seguidas, com três mulheres diferentes e em lugares distintos.

“Sinceramente, achei o filme bem legal. Já o date: uma merda. Depois que acabou, ele quis ir num bar chamado Bukowski. Eu falei que não, porque achava o Bukowski meio embuste. Ele disse que era importante ‘separar o artista da obra’. Aí eu perguntei se ele assiste filmes de cineastas assediadores, só porque gosta da tal ‘obra’. Ele disse que ‘o ‘ser’ artista transcende o ‘ser’ humano’. Mandei ele à merda, fui beber em casa, abri o Tinder e dei match num cara que fazia um estrogonofe delicioso. Nesse caso, tanto o artista quanto a obra não apenas eram éticos, como deliciosos. Estamos juntos até hoje.”

“Tava chovendo à beça nesse dia. Ele já tava lá no cinema, me mandou foto tomando café e tudo, com um filtro meio cafona de Instagram. Ainda escreveu um ‘tá atrasada rs’. Agora você vê, caindo meio mundo no Rio e ele tem a audácia de me dizer isso! Como eu já tava no ônibus, fui mesmo assim. Até que tava gostando do filme, mas fiquei puta porque queria fazer xixi no meio da sessão e ele não deixou, porque ‘estragava a experiência’. Fui mesmo assim, vi uma moça falando no banheiro que aquele filme tinha no Netflix, fiquei duplamente puta e voltei pra casa. ‘Experiência’ é o caralho.”

“Cara, ele não tem senso nenhum. Acabou a sessão meia noite e eu já fui pedir um Uber, né, porque Botafogo é longe à beça e eu moro na zona norte do Rio. Ele falou ‘não pega ônibus essa hora’. Falei que tava tranquilo, porque eu ia de Uber. Ele disse que Uber não tá indo mais em área de risco e que ia dar caro. Mas não é porque não é zona sul que é área de risco, caralho. E eu tenho dinheiro. Já fiquei puta. Aí lançou a pérola: ‘vai lá pra casa, é mais seguro. Esses caras de Uber não respeitam as mulheres’. Eu perguntei: ‘você tá preocupado com minha segurança ou quer me comer já essa noite?’. Ele respondeu ‘os dois. Não pode?’. E riu”

“Que filme merda, nossa senhora. Mais de 3 horas de lenga lenga e uma puta reciclagem de qualquer outro filme de velhos italianos criminosos. Mas o que mais me deixou puta é ele ter me aparecido de boina. 2019 e o cara me veste uma boina. Disse que era uma homenagem aos grandes personagens do cinema, mal sabe ele que eu tava doida pra chegar em casa e pegar um pedacinho de ‘A Dona do Pedaço’. Sim, eu assisto novela. Ir ver filme cult e usar boina é garantia de intelectualidade?”

“Ele fez um triatlo do adultério e mau caratismo. Primeiro, almoçou com a primeira e foi pra sessão. Convidou pra ir à casa dele à noite, mas ela tinha compromisso e recusou. Depois, foi no fim de tarde, comigo, em outro cinema. Eu disse que já tinha assistido o filme no metrô, em três dias, por partes, pelo aplicativo do Netflix. Ele ficou em choque e disse que aquilo tinha ‘dilacerado a obra’. Revi do jeito dele e continuei achando a mesma coisa: chato. Óbvio que não fui pra casa com ele, porque tinha outro date (não me julguem, não sou eu a casada da história). Por fim, ele foi assistir com a terceira do dia, no terceiro cinema diferente. Dormiu no meio da sessão e ela, a mais cinéfila de todas nós, disse que já até tinha aceitado ir pra casa com ele, mas ficou puta com ‘o desrespeito dele pela obra’ e o abandonou por lá. Quem diria, né? O feitiço virou contra o feiticeiro.”

Das 4 mulheres restantes, metade não foi encontrada e a outra metade não quis se pronunciar.

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