13 Reasons Why: metáforas do sofrimento

Oi, é a Hannah. Hannah Baker.

Amadeus Delfino
Revista Subjetiva
6 min readApr 13, 2017

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Lançado no Brasil em 2009, com o nome Os 13 Porquês, o livro da escritora Jay Asher serviu de base para uma das mais icônicas séries de 2017. Provavelmente, Jay tivesse uma noção do impacto que seu livro teria, mas não que fosse recebido tão bem pelo público para se tornar uma série da Netflix.

Retratando temas de difícil exploração, Os 13 Porquês retrata a tristeza, sofrimento, depressão e suicídio entre adolescentes.

Tudo começa com Clay Jensen, de 17 anos, escutando uma fita k7 deixada pela sua colega, Hannah Beker, onde ela lista os 13 motivos que a levaram ao suicídio. Enquanto acompanhamos Clay na difícil jornada de entender todos os motivos que levaram a esse ato, ficamos imersos em uma pequena cidade, acompanhando a rotina dos estudantes da Liberty High School e dos espaços ao redor da escola.

Falando assim pode até parecer que essa vai ser mais uma série que retrata dramas adolescentes, mas você está completamente enganado se acha isso. A série consegue desenvolver de forma profunda e tocante assuntos importantes que são negligenciados por pais, professores e pela sociedade em geral.

Com certeza você já ouviu falar de casos de tiroteios em escolas nos EUA, porém, você já se perguntou por que esses tiroteios ocorrem? Bullying, perseguição, assédio moral e físico, dentre vários outros fatores. Não pense que esse é um problema localizado nos EUA, pois essas coisas acontecem ao nosso redor, só que com consequências diferentes: depressão, automutilação, violência e assassinatos.

Fugindo do papel de apenas diversão, Os 13 Porquês tem uma narrativa informativa e reflexiva sobre depressão e os seus caminhos, tomando um rumo informativo e de prevenção. Na série, podemos ver sinais que muitas pessoas ignoram, metáforas de sofrimento, sofrimento velado e a consequência de quando todos esses sinais são reprimidos e ignorados.

Um caso bem famoso foi o de Columbine. A tragédia que inspirou o grupo Foster The People na música Pumped Up Kicks. A mãe de Dylan Klebold, um dos adolescentes responsáveis pelo ataque de 1999, se culpa por não ter percebido os sinais de que algo não estava indo bem.

“Seus amigos mais próximos, garotos com quem ele conviveu todos os dias durante anos, não sabiam quanto ele estava desesperado. Alguns se recusam a acreditar nessa caracterização até hoje. Mas eu era a mãe dele. Eu deveria saber” — Sue Klebold no livro “O Acerto de Contas de uma Mãe — A Vida Após a Tragédia de Columbine’”

Voltando para os acontecimentos da série, o suicídio nos leva a fazer vários questionamentos. Acho que a principal dúvida é o motivo que leva alguém que gostamos a tirar a própria vida. Tanto que em determinado momento da série, Olivia, mãe de Hannah, lamenta não existir um bilhete de despedida ou de justificação para a decisão da filha.

O suicídio é o desfecho de uma série de fatores que se acumulam na história do indivíduo”, esclarece a Associação Brasileira de Psiquiatria. Isso é mostrado em Os 13 Porquês, onde cada fita (motivo) vai levando Hannah a um estado de falta de perspectiva e visão de futuro. A consequência não foi simplesmente o fim de um único ato, mas sim de uma sequência deles, que foi levando a jovem cada vez mais para um estado depressivo.

Imagine uma jarra. Ela tem um espaço finito dentro dela, ou seja: há um limite para essa jarra. Todos os dias um pouco de água é colocada dentro dessa jarra. Obviamente, vai chegar um momento que a água vai transbordar. Essa é a ideia que a série nos passa. Uma analogia semelhante pode ser feita a gota d’água que pode fazer alguém perder o controle, como foi dito pela CVV (Centro de Valorização da Vida) em uma matéria para a HuffPost Brasil.

O passo mais importante para esvaziar a jarra, é perceber quando ela está cheia. Porém, na adolescência que os sentimentos são reprimidos, escondidos e subjugados, só se percebe que a jarra está cheia quando ela transborda, e isso acontece sem um aviso prévio. Sinais que poderiam indicar que algo não vai tão bem são taxados como “da idade”, criando um ciclo onde a culpa é sempre o momento e da idade, mas nunca o meio.

No mundo dos adultos é normal ficar estressado, ter ansiedade por boletos atrasados e todos os males do século, porém, quando regredimos para a adolescência, parece que esses problemas não deveriam estar lá. Estamos falando de um momento que é a transição da etapa “criança” para a etapa “vida adulta”. Um momento de redescobrimento, deixar de gostar de algumas coisas e começar a gostar de outras e até mesmo pensar mais na saúde. Então, por que os problemas da transição de momentos não são tratados com a mesma importância que os problemas do momento adulto?

Ofensas e ataques tem diferentes efeitos em diferentes pessoas e momentos. Uma ofensa em um momento de fragilidade e de mudança de personalidade pode trazer consequências avassaladoras, que pode ecoar por anos.

Hannah com suas 12 fitas tenta por em outras palavras as suas motivações, para destinatários específicos. Mesmo que no final da fita de número 12 seja possível perceber que Hannah sente alguma vontade de viver, o que acontece é a impossibilidade de conseguir conversar com as pessoas ao seu redor sobre o que sente, culminando na fim de sua vida. Em nenhum momento ela encontrou um ouvinte para os seus problemas e, pela dificuldade em se expressar, não insistiu em encontrá-lo.

No geral, crianças usam jogos de palavras e brincadeiras para expressar seus sentimentos. Adolescentes, por sua vez, conseguem se expressar de forma melhor, mas não de forma ideal quando o assunto é sentimentos, dor, sofrimento e medo. No caso da série, percebemos uma grave falha por parte da escola em perceber sinais de sofrimento de alguém que não consegue se expressar de forma objetiva.

Eu arrisco dizer que uma das coisas mais marcantes da série é como ela consegue demonstrar que a falta de comunicação tem efeitos devastadores.

Redes sociais, por exemplo, que são excelentes formas de facilitar a comunicação, na série, foram usadas para a prática deliberada de cyberbulling e exposição de Hannah. Nesse caso, a rede social perdeu seu caráter de socialização e passou a ser mais uma fonte de sofrimento, onde a exposição publica não se importa com o lado humano da pessoa exposta, como se os pixels das fotos, por exemplo, não representassem uma pessoa.

Outro ponto importante sobre comunicação, é visto com Clay. Ele é extremamente reservado, apenas deixando escapar momentos de choro no banheiro e explosões de raiva ao se deparar com a ruína da sua vida pessoal.

Muitas pessoas não gostam de tocar no assunto suicídio, porém, falar sobre isso é falar sobre prevenção e a salvação de vidas. É inegável que esse é o principal problema do século, ceifando mais de 800 mil vidas por anos, sem contar as tentativas, que chegam a ser 20 vez o número de mortes. Segundo dados do Ministério da Saúde e da OMS, por dia, 32 brasileiros se matam.

Você ainda duvida que falar sobre suicídio é falar sobre prevenção? Segundo o CVV, após o lançamento da série, o número de procura por ajuda aumentou em mais de 100%, com 25 mensagens mencionando Os 13 Porquês.

Mesmo se tratando de uma série de temática adolescente, Os 13 Porquês não deixa de ser uma ajuda no meio da escuridão que é a depressão e o suicídio. Falar sobre esse tema é salvar vidas.

“O que a ficção da série consegue é um debruçar nosso sobre o insuportável da realidade, sobre aquilo que não se diz, nem tampouco se escreve. Sobre a angústia da ausência de respostas, e sobre a inibição de perguntas que podem apontar novos caminhos diante do sofrimento insuportável, porém, reversível” — HuffPost Brasil

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Amadeus Delfino
Revista Subjetiva

22 anos. São Paulo — São Paulo / Brasil. Leva um mundo em sua cabeça. Somos tão jovens.