2008: o ano que me apaixonei pelo futebol e chorei #MulheresNoFutebol
Aos oito anos de idade decidi ser Tricolor Carioca no meio de uma discussão sobre futebol na sala de aula. Estávamos falando sobre os times de futebol do Rio, mas como eu meio que ignorava futebol, apenas fiquei ouvindo.
Na minha vida, o futebol era existente apenas quando me perguntavam de que time era, e essa questão sempre foi difícil, pois devo ter dito que fui cerca de 10 times diferentes, já fui flamenguista — por causa da minha mãe — ; botafoguense — porque meu tio me colocava com a camisa alvinegra —; vascaína — porque queria fazer birra com a minha mãe; e por ser argentina, já tinha sido River, Boca, Belgrano e outros. Como Raul Seixas cantava: “eu prefiro ser essa Metamorfose Ambulante”, logo após me apresentarem o Fluminense Football Club, resolvi experimentar ser tricolor e acabei gostando.
Depois de alguns anos desta pequena revelação na minha vida, em 2007, depois de muito sofrimento, o Fluminense conquistou finalmente a Copa do Brasil e com isso também conquistou a vaga para a tão venerada Libertadores da América. Desde de que comecei a gostar de futebol, a Libertadores sempre virou algo que acompanhava, mesmo com o Fluminense não jogando, achava muito legal por ser uma competição com times da América do Sul, com um clima bem quente sempre em campo. Como amava os jogos entre times argentinos e brasileiros — desculpa Brasil — , mas acabava torcendo pro time Argentino, pela a entrega que os jogadores davam, acho que isso que me fez amar a Libertadores.
A Libertadores dura meio ano, mas com bastante intervalo entre os jogos, começava em Fevereiro e acabava em Julho, com um total, se chegar à final, de 14 jogos e, a partir das oitavas, dois jogos: um jogo de ida e outro de volta — a partir de 2017, a Conmebol ampliou a duração de Fevereiro à Novembro.
Para cada jogo era uma preparação diferente, principalmente quando se aproximava das fases finais. No dia do jogo já acordava focada, pensando como seria esperar o dia todo passar pra chegar na hora do jogo, que geralmente eram às 22 horas. Entrava na van escolar e a conversa era só futebol, na escola não era diferente, conversávamos apenas disso e os amigos dos outros times tentavam nos diminuir, mas ignorávamos e ficávamos especulando a escalação que o Renato Gaúcho iria fazer, se ele iria aloprar ou seguiria a lógica dos últimos jogos.
Chegava do colégio e já colocava no SporTV para saber o que tava rolando, pois como qualquer coisa que faço se eu estou dando meu tempo para algo, eu vou fazer perfeitamente, então o futebol se tornou um cotidiano pra mim.
A noite chegava e começava a bolar planos para poder ficar até meia noite acordada vendo o jogo, minha mãe flamenguista relutava, mas eu acabava conseguindo o que queria.
Antes de começar a partida já estava pronta, vendo o aquecimento dos times, o show das torcidas e desde o primeiro jogo da Libertadores, eu sentava em uma posição especifica, que era sentar no chão e cima de uma perna e só me permitia mexer no intervalo, se não isso poderia dar azar — coisas de uma pisciana supersticiosa.
Os primeiros jogos do campeonato foram bons, o Tricolor Carioca teve a melhor campanha dos primeiros colocados, assim sendo isso lhe dava o direito de decidir o mata-mata em casa. Mas é claro que isso não me dava tranquilidade, porque o Fluminense é conhecido por levantar time que está praticamente morto, pois aposto que se o Fluminense jogasse contra o Íbis — considerado o pior time do mundo — o Fluminense perderia.
Com uma folga dos resultados da fase de grupos, foi a partir da tensão das quartas de final que a paixão do futebol me conquistou de vez e finalmente chegamos ao ponto principal, “O” jogo, o que me definiu amante de futebol, a partida entre Fluminense e São Paulo no Maracanã — o velho Estádio e não esse “padrão FIFA”.
No jogo de ida, perdemos por 1 x 0, então tínhamos que reverter o placar. Até hoje lembro a escalação: Fernando Henrique, Gabriel (entrou Allan), Thiago Silva, Luiz Alberto, Júnior César, Ygor (entrou Maurício), Arouca (entrou Dodô), Conca, Cícero, Thiago Neves e Washington “Coração Valente”.
Neste jogo, com o Maracanã lotado, o Flu começou com tudo, aos 11 minutos Washington já abriu o placar de canela, destruindo a pequena vantagem que o São Paulo possuía. E mesmo com o gol, o Fluminense é quem ia atrás do jogo e tentando ampliar o placar, mas o primeiro tempo acaba. No segundo tempo, o São Paulo volta melhor, propondo mais jogadas e consegue empatar com o Adriano Imperador, mas um minuto depois o Fluminense vira no jogo e empata no placar contando com o jogo de ida.
O tempo regulamentar finalmente chega ao fim, 45 minutos e iriam ter mais 3 de acréscimo, por um milagre, a bola vai parar no escanteio para o Fluminense bater. Thiago Neves coloca a bola com todo carinho na marca, e eu junto minhas mãos, fecho meus olhos e apenas ouço a narração:
“Vem a bola, Thiago Neves no escanteio. Thiago Neves na bola, a cabeçada e pro goooooooool!”
Neste momento, abro meus olhos, vejo o Coração Valente correndo e comemorando, assim finalmente me permito sair daquela posição que estava desde o início do jogo. Levantei e comecei a pular sozinha, me segurado para não gritar, apenas chorei. Naquele momento comecei a entender a tal paixão pelo futebol.
Após o jogo de tanta adrenalina e choro, nem dormi, fui virada pro colégio e pensando como o futebol pode ser tão mágico, ao ponto de me fazer chorar como eu estivesse jogando.
Infelizmente com a final o choro foi de tristeza, pois o Fluminense perdeu nos pênaltis para a LDU depois de um jogaço. É claro que aquele resultado doeu muito, afinal era meu primeiro encontro com a experiência juntando o futebol e a paixão. Fui pra cama da minha mãe chorar e ela teve que me consolar até eu cair no sono. Porém a partir daquele momento, eu virei Tricolor de coração pro resto da vida e aprendi admirar a arte imprevisível que é o futebol.
Este é um projeto idealizado pela página Ativismo de Sofá. Fomos convidados pela Thaís Campolina e estamos tendo o prazer imenso de participar. E se você, mulher, tem algum relato sobre, use a hashtag #MulheresNoFutebol e conte sua história. Fale daquele jogo inesquecível, o amor pelo esporte ou o machismo no meio e compartilhe nas redes sociais.