8 autoras contemporâneas pra conhecer

Victor Hugo Liporage
Revista Subjetiva
Published in
5 min readApr 26, 2020

Escritoras com publicações recentes, poucos livros traduzidos para o português ou que ainda são relativamente desconhecidas no país. Autoras promissoras para conhecer e esperar por novos lançamentos.

Yaa Gyasi, Gana

Livro de destaque: O caminho de casa (2017)

Foto: Gabriela Hasbun

Uma verdadeira epopeia da ancestralidade, indo da Gana no período das criminosas colonizações, aos Estados Unidos contemporâneo.

Yaa Gyasi trabalhou anos em seu romance de estreia, que fala da árvore genealógica de uma família que foi separada pela guerra e se reencontra em outro continente, tendo tido trajetórias distintas mas com muitas similaridades. É o livro mais completo que já li.

Cada capítulo fala de um personagem e todos os personagens são interligados. São como contos que se encontram num grande romance.

Leïla Slimani, Marrocos/França

Livro de destaque: Canção de ninar (2018)

Foto: Getty

O vencedor do Goncourt, maior prêmio literário da França, é a história de uma família comum em vários países: querem dar tudo aos filhos, mas acabam não conseguindo oferecer nada.

A babá contratada, de coadjuvante na relação, vira protagonista da família, mas numa França sob a sombra do preconceito e medo do estrangeiro (desde Camus), o desfecho é tragédia.

Leïla fez história na literatura francesa, sendo a primeira marroquina a ganhar o Goncourt. Para conhecê-la melhor, leia a entrevista na íntegra para o El País: “não se deve ignorar que a miséria provoca violência e loucura”.

Ottessa Moshfegh, EUA

Livro de destaque: Meu ano de descanso e relaxamento (2019)

Foto: Time

O livro é tipo um encontro entre as séries “Fleabag” e “Girls”, só que bem mais engraçada que a primeira e com autocrítica mais eficiente que a segunda.

Têm ótimos coadjuvantes: uma terapeuta que precisa de terapia, uma melhor amiga sequelada e um artista superestimado alucinado.

Através de uma escrita sensível e debochada, Ottessa retrata uma geração privilegiada, mas psicologicamente frágil em igual medida.

Ayòbámi Adébáyò, Nigéria

Livro de destaque: Fique comigo (2018)

Foto: Aké Festival

Um livro sobre os efeitos da cultura nigeriana em uma família fragilizada pelo luto e pelas dificuldades da maternidade. É o livro mais poético da lista, com uma delicadeza que contrapõe o peso da história.

Ayòbámi é mais uma do grupo de autores que fazem da Nigéria um dos países mais importantes pra literatura no mundo, junto com Chimamanda, Buchi Emecheta, Chinua Achebe e companhia.

Ana Paula Maia, Brasil

Livro de destaque: Enterre seus mortos (2018)

Foto: Marcelo Correa

Um homem que trabalha recolhendo animais mortos, um ex-padre que distribui extrema unção a acidentados, um capitão do mato/carcereiro, um funcionário de matadouro de gado… Homens simples, à serviço da brutalidade da vida.

O trabalho de Ana Paula Maia (duas vezes seguidas vencedora do Prêmio São Paulo de Literatura) é como um estudo sobre o que tem de mais animal no ser humano — e as situações que explicitam isso.

O suspense, comum em suas obras, também será retratado na nova série de terror a estrear pela Globo, da qual a autora é roteirista.

Celeste Ng, EUA

Livro de destaque: Pequenos incêndios por toda parte (2018)

Foto: The New York Times

Uma família programada, perfeita, rica e saudável, mas estéril em emoções e sustentada por relações artificiais.

A realidade por trás das aparências é revelada aos poucos, como característica das histórias de Celeste Ng (bem similar à Slimani), e nessa, o pano de fundo é uma briga judicial marcada por disputas raciais e de classe.

Impressiona o domínio da autora no desenvolvimento psicológico de suas personagens, seus segredos e as diferentes personas que as habitam. O livro em destaque foi adaptado em uma ótima minissérie do Hulu.

Tayari Jones, EUA

Livro de destaque: Um casamento americano (2019)

Foto: Nina Subin

O encarceramento injusto de um homem e seu efeito em seu casamento.

Aqui é o avesso do estereótipo de amor romântico. É um livro que representa como é difícil sustentar um amor atacado pelo racismo estrutural, na forma da solidão da mulher negra e desumanização do homem negro.

O trabalho de Tayari é muito similar ao de Ayòbámi, não por acaso, ambas fazem parte da curadoria da TAG Livros.

Zadie Smith, Inglaterra

Livro de destaque: Sobre a beleza (2007)

Foto: Dominique Nabokov

O livro é sobre o embate entre dois especialistas em história da arte: um famoso autor negro conservador, contra um não tão famoso branco progressista.

É um livro sobre a hipocrisia da intelectualidade e o contraditório dos indivíduos. Aqui, não há vilão ou herói. Todos são reféns de seus egos e inseguranças mal resolvidas.

Zadie Smith é uma das escritoras mais provocativas da sua geração, tanto em seus temas quanto em suas obras com escrita experimental, mostrando o lado B da Inglaterra contemporânea.

Menção honrosa:

Chimamanda, porque, bom: é Chimamanda. Caso ainda não tenha lido, recomendo começar por “No seu pescoço”, porque sintetiza a maior parte dos temas que aborda em outras obras e vai além. É o melhor livro de contos que já li.

Boa leitura.

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