8 livros pra entender o Rio de Janeiro

Victor Hugo Liporage
Revista Subjetiva
Published in
5 min readMay 10, 2020

7 editoras diferentes, escritos por gente das costas do Cristo, de favela, do lado de lá da Ponte Rio-Niterói, do subúrbio

Histórias do Rio de ontem, de hoje e do que pode vir a ser.

Diferentes experiências do que é ser carioca, do que faz e dos que fazem a cidade, apesar dos pesares, ser maravilhosa.

O corpo encantado das ruas, de Luiz Antonio Simas

Foto: Zo Guimarães

Simas é um glossário da cultura popular carioca. Se você acha que conhece o Rio de Janeiro, tira seu cavalinho da chuva e pede bença pra ele antes.

O professor de história tem livro sobre sambas de enredo, carnavalescos, futebol de várzea, macumbas, bairros da cidade…

Só pela capa de saquinho de Cosme e Damião, dá pra ver que “O Corpo Encantado” é um suco de Rio de Janeiro, um mini almanaque do que a cidade têm de melhor: seus festejos, seus hábitos de lazer, sua história e, sobretudo, sua gente.

O sol na cabeça, de Geovani Martins

Foto: Leo Aversa

O fenômeno literário brasileiro em 2018. Geovani esteve no Bial, nos maiores jornais cariocas, na lista de mais vendidos e, em breve, seu livro estará nos cinemas.

Geovani é cria da Festa Literária das Periferias, a Flup, evento que revela e convida escritores periféricos do Brasil e do mundo, os colocando em seu lugar de direito: o centro.

Nesse livro de contos, o autor vai de Bangu (tradicional bairro popular do Rio) à Rocinha (maior favela do país), passando pela orla e bairros ricos, mas também transita entre linguagens, indo da tradicional prosa poética à coloquialidade da expressão oral.

Fiel, de Jessé Andarilho

Foto: Ana Bustamente

Outra cria da Flup, Jessé é uma personalidade literária das margens do Rio. É criador do Sarau Marginow, protagonizando poetas de periferia.

Numa cidade que antagoniza territórios, sua literatura nasceu, ironicamente, da viagem entre esses dois opostos: “Fiel” foi escrito no trem, aproveitando as horas de viagem da região central à periferia em que morava.

O livro é uma jornada do herói visceral pelo crime carioca. Sua linguagem faz do livro um possível material didático, aproximando os alunos de uma leitura sem didatismos e verborragia, os aproximando do seu cotidiano.

Rio em Shamas, de Anderson França

Foto: Pablo Saborido

A página de Anderson ficou popular no Facebook por suas crônicas ácidas e debochadas, sobretudo, às hipocrisias da zona sul carioca, além de sua esquerda arrogante, egocêntrica e que fala mais do que faz.

Ironicamente, boa parte de seus leitores são o alvo de sua crítica, resultando em debates polêmicos nas suas postagens, mas que incentivam à autorreflexão.

O autor foi convidado da Flip em 2017, mas recebeu ameaças de morte, cancelou a ida e, hoje, mora em Portugal. Também é criador da Universidade da Correria, iniciativa educacional para empreendedores periféricos.

Fato curioso: já foi meu vizinho.

Profissão: Suburbano, de Leandro Leal

Outro autor que veio da internet, Leandro é talvez o mais engraçado da lista. Seu livro também traz crônicas que ficaram populares no Facebook, explorando o que tem de mais infame no carioca.

O selo Subúrbio Editorial também lançou várias autoras e autores suburbanos, dentre eles, Vitor Almeida, criador de uma das páginas mais populares sobre o Rio: a Suburbano da Depressão.

Li seu livro de uma vez só, num ônibus lotado, voltando da Bienal do Rio e rindo de passar vergonha. Quando tô triste, releio alguma das crônicas pra ficar animado.

Macumba, de Rodrigo Santos

Foto: Junior Franco

Em tempos de intolerância religiosa cada vez maior no Estado, Macumba é um thriller essencial e carioquíssimo: um detetive evangélico investiga crimes misteriosos em terreiros de umbanda e candomblé.

Rodrigo é de São Gonçalo, a cidade “representante” do subúrbio no outro lado da Baía de Guanabara, e também é cria da Flup. Com ritmo intenso e linguagem coloquial, “Macumba” é um dos mais divertidos da lista.

O livro é uma jornada de autoconhecimento, desconstrução e esclarecimento a respeito das religiões de matriz africana.

O crime no Cais do Valongo, de Eliane Alves Cruz

Foto: Literafro

Outro romance investigativo e histórico, já traz em seu título um dos maiores símbolos de memória da escravização na cidade: o Cais do Valongo.

Eliane é jornalista e fez uma dedicada pesquisa histórica para construir sua narrativa, com registros de jornais de época, indo do Moçambique ao Rio e contando os fatos sob uma perspectiva frequentemente ignorada: pessoas que, muito mais do que reduzidas a “escravos”, têm uma história.

Isso já é uma marca da autora em seus romances. Confira essas e outras publicações da editora Malê, dedicada à literatura afro brasileira.

Desde que o samba é samba, de Paulo Lins

Foto: G1

Paulo Lins é indispensável na lista. Autor de “Cidade de Deus” (muito melhor que o filme), escreveu esse que também é um romance histórico, mas focado nas raízes do samba, da Umbanda e do modo de viver dos anos 20 e 30.

A história de “Desde que o samba é samba” se passa na região central do Rio, mostrando a vida daqueles que sempre foram marginalizados pelo Estado.

Com narrativa ágil, explícita, intensa e bem humorada, já característica de seus trabalhos, Paulo entrega outro livro que fala de uma cidade que lida até hoje com as consequências do seu histórico.

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