A Banalidade do Mal perante os “cidadãos de bem”
Em uma conversa casual entre amigos, ocorreu a discussão a respeito de um texto que eu escrevi. O tema era política.
Meu texto falava sobre a incitação ao ódio e estagnação no jovem brasileiro, ao qual me incluo e tenho espaço de fala, e como se mantém o sentimento de inferioridade perante à velha política e nossos atuais representantes, somado ao sentimento de impotência e revolta.
Um dos maiores exemplos de como estamos sedentos de raiva mas sem nenhuma atitude é essa dicotomia entre esquerda e direita, e o radicalismo partidário concentrado em duas figuras. Pois bem, onde centralizo minha questão é em um conceito vindo de Friedrich Nietzsche.
O julgamento somente ao que consideramos superiores
A política, o Bolsonaro, e todo o radicalismo, está representando buracos culturais de uma história que foi apagada nas escolas. Não se fala, não se explica, não se ensina, NÃO SE MOSTRA!
Ditadura
Não ocorreu somente no Brasil, no Chile por exemplo foi brutal. E quando retomamos discursos falhos e pobres, assim como o de pleito eleitoral, temos a consciência que a doença social está em toda a massa populacional brasileira. A raiva perante à corrupção já vem de nós desde a era da Ditadura Militar, aliás, onde de fato se começou todo o sucateamento educacional. Porém, nossa estruturada democracia não-prática carrega resquícios de um sistema republicano oriundo da Guerra Fria e dos regimes políticos intolerantes e autoritários europeus. Dentro deste “omelete”, podemos abrir o recheio e entender que muito antes de uma campanha com discursos de ódio existe o sentimento.
Sentimento esse guardado por décadas. E no ganho da oportunidade de purga do mesmo é que cresceu essa onda caótica sociopolítica. Grande retrato estratégico do tempo perante histórias silenciadas. Esse é o mal. A filósofa Hannah Arendt, no seu princípio da banalidade do mal, consegue remeter exatamente nossa atual situação. Em seu livro Eichmann em Jerusalém — um relato sobre a banalidade do mal (1963), ela nos traz o seu conceito.
No meu ponto de vista, seria banalização do mal dentro de um sistema republicano e seus reflexos sociais mortais e brutais.
“Será que a natureza da atividade de pensar, o hábito de examinar, refletir sobre qualquer acontecimento, poderia condicionar as pessoas a não fazer o mal? Estará entre os atributos da atividade do pensar, em sua natureza intrínseca, a possibilidade de evitar que se faça o mal? Ou será que podemos detectar uma das expressões do mal, qual seja, o mal banal, como fruto do não-exercício do pensar?” (ARENDT, 2008).
Para a teórica, o regime do totalitarismo chega a um ápice alienador, conseguindo modificar as massas para o total ato de não existência moral, abdicando do desenvolvimento de criar julgamentos para com os próprios atos. Platão, em seu conceito de o homem e a natureza humana, poderia nos contradizer, já que o mesmo como ser pensante necessariamente e naturalmente, possui toda a capacidade ética e moral. Kant em seu ensaio sobre as faculdades do juízo também.
Porém, a mídia abutre, ganhou um novo êxito: Alienação
Creio que Arendt, novamente, alcança uma sociedade junto ao seu conceito, que deveras encaixaria. Os ditos “cidadãos de bem” são pessoas que até então não praticavam atos violentos, nem discursos claramente de ódio, porém, consumiam e gozavam de todo um sistema capitalista de desigualdade. Quando se surgiu uma mídia alienadora de fake news e frases prontas e rasas sobre os problemas da máquina pública, as máscaras caíram no teatro.
Então, temos um caso ainda mais grave e peculiar perante o conceito que a mesma nos traz.
Concluindo, mantenho as seguintes perguntas:
Seria então, os eleitores de Bolsonaro simplemente pessoas em um estado profundo de rancor(fruto de um sistema sociopolítico elitista), alienados por uma máquina midiática “corrosiva” e ultrapassada de fake news, ou, pessoas com total consciência de seus discursos e opiniões, vangloriando-se em cima da oportunidade de banalização da maldade?