A cocaína não é a química que você procura

Ariel Freitas
Revista Subjetiva
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3 min readMay 11, 2020
PixaBay / Divulgação

Há tempos que escrevo sobre o ponto de vista de quem possui a Maldição de Aquiles: próximo das drogas e violências, mas protegido das consequências e os impactos diários dela na vida pessoal. Ao menos era o que acreditava até sentir a tristeza inconfundível de quem busca a felicidade em pinos de cocaína.

Esse texto não é de um usuário de pó, branca, raio ou qualquer outro sinônimo do produto obtido das folhas de coca, mas sim, de um amigo e parente que carrega a culpa de ver aquelas cápsulas vazias. E por isso, é importante registrar que a cocaína não é a química que você procura.

Em tempos que a romantização de entorpecentes e substâncias prejudiciais à saúde é um discurso frequente em diversas esferas da sociedade, não consigo deixar de lado a sensação de impotência que sinto quando vejo aquele olhar vidrado e acelerado de familiares e amigos.

Relato de um ex (?) usuário de Cocaína na música Cocaína — Sabotage

Nas palavras deles, a presença das linhas brancas — e que aqui não estamos falando da marca Adidas — traz sensações ótimas como a de prazer, autoconfiança, adrenalina, poder e outras paradas que só quem busca o significado de pertencimento ao local ou grupo social que está inserido compreende.

Relato de um ex (?) usuário de Cocaína na música Cocaína — Sabotage

Para quem atua na área de saúde, cuidados e tratamento de dependentes químicos, como a psicóloga Camila Cabral, de 27 anos, a substância encoraja pensamentos e sensações de grandiosidade, euforia e bem-estar. Aumentando e facilitando a atenção do usuário com os estímulos externos e seus reflexos.

Além destes efeitos que na primeira impressão soam como positivos, a cocaína prejudica a capacidade de raciocinar e tomar decisões, diminui a necessidade de sono e de apetite, possui alto potencial de gerar paranoia, delírios e alucinações nos usuários que já estão em um nível desenvolvido de perda da realidade e potencializa a desconfiança, agressividade e irritabilidade nos mesmos.

Relato de um ex (?) usuário de Cocaína na música Aquela Fé — Don L

Para quem escreve esse texto, é mais do que necessário o debate sério a respeito do uso, dos efeitos e das mudanças que ela traz para o cotidiano do usuário porque vejo personalidades sendo alteradas, rostos adquirindo uma finura parecida com a das carreiras que são inaladas, famílias preenchidas pelo desespero e outras sensações que só quem passa sabe.

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Ariel Freitas
Revista Subjetiva

Jornalista e escritor. Colaboro com o Noticia Preta, Revista Subjetiva, New Order e Escola de Poesia. Já colaborei com o Alma Preta e o Perestroika.