A dopamina que habita nas redes (não cura a sua “dor”)

Eliel Oliveira
Revista Subjetiva
Published in
3 min readJul 14, 2022

IV sintomas e I (possível) solução.

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Sintoma I: A busca incessante por mais (do mesmo)

Causa: A curiosidade e a procura pela novidade - características inerentes a muitos de nós - é o combustível principal dos meios de comunicação. Se você parar para analisar, vai perceber que há um “loop algorítmico” (ou bolha) do qual você faz parte — sem ao menos ter a opção de "escolha”. Cada ação ou comportamento seu é milimetricamente calculado e armazenado no big data. Essa informação é então aproveitada para sugerir a você apenas o que lhe convém (mais do mesmo).

Consequência: Atrofiamento de ideias ou manipulação da sua forma de ver o mundo ao seu redor. Em outras palavras, você passa a enxergar as coisas distorcidamente, pois o estreitamento de ideias não permite que a visão “do outro” exista. Preocupante, não?

Sintoma II: A perda de tempo (ou a ilusão de que ele passa rápido)

Causa: Tédio. Ficar sem algo para fazer automaticamente nos induz a pegar o celular para checar as últimas. Você contabiliza o tempo que passa na frente das telas? Isso pode estar literalmente afetando o seu cérebro (seu bom funcionamento depende exclusivamente do que você 'injeta' nele).

Consequência: No artigo “Screen Time versus Productivity” você pode conferir um estudo que foi realizado especificamente para esse dilema. De acordo com a psiquiatra Victoria L. Duckley do Psychology Today, o uso excessivo de aparelhos eletrônicos com tela afeta diretamente o lobo frontal do cérebro, que envolve o processamento emocional, atenção executiva, tomada de decisão, e controle cognitivo. Após o escaneamento dos cérebros de adolescentes que apresentavam o que ela chama de Electronic Screen Syndrome — ou Síndrome de Aparelhos Eletrônicos com Tela, foram detectadas atrofia na substância cinzenta, comprometimento da integridade da substância branca, redução da espessura cortical, alterações no funcionamento cognitivo, disfunção de dopamina e ânsias.

É nítido o quanto do nosso foco vai para o ralo cada vez que cedemos aos “encantos” dos nossos smartphones.

Sintoma III: Altas expectativas (e a gratificação instantânea)

Causa: Validação e estímulos sensoriais. As redes sociais só são bem-sucedidas pois quem as utiliza obtém um "ganho", uma recompensa - seja em forma de entretenimento gratuito, likes, reações, comentários ou seguidores. Uma vez que o cérebro se acostuma a esses estímulos, não consegue mais viver sem eles. Pergunte para um adolescente se é fácil/possível ficar sem celular, por exemplo. [Disclaimer] Para as páginas que promovem algum tipo de negócio ou serviço, o engajamento é traduzido em $$$. Por esse motivo, daremos um desconto (perdão pelo trocadilho). Mas o cuidado também deve ser o mesmo.

Consequência: Se esperar demais causa ansiedade e se frustrar demais causa tristeza, você já sabe onde isso vai dar…

Próximo sintoma.

Sintoma IV: A “dor” (que nunca passa)

Causa: Fuga de si mesmo. Estar “conectado” significa não ter que lidar com os problemas da vida. Se distrair com alguns memes e com a vida alheia significa não ter que olhar para dentro de si e tocar na ferida. É mais confortável fugir, e por isso continuamos a buscar mais (do mesmo).

Consequência: Sensação de vazio. É como se fosse uma roda de hamster, onde o “loop algorítmico” te faz afundar cada vez mais naquilo que você “gosta”. E assim, o vazio existencial ao invés de ser preenchido, ganha proporções ainda maiores. “Onde está a felicidade?” Você se pergunta. Ela se distancia cada vez que você ignora a sua própria voz e se anula com as infinitas distrações.

Solução: Nenhuma mudança de atitude ocorre da noite para o dia. Caso apresente todos os sintomas acima, reflita sobre eles e o quanto você já perdeu por não se educar quanto ao uso das redes sociais. Não hesite em buscar um profissional da saúde mental, se julgar necessário. Cuide-se. Policie-se. Busque melhorar os seus hábitos diários. Esse é o passo #1.

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