A escrita fez de mim uma mulher livre

e não há borracha que apague isso.

Luana Silva
Revista Subjetiva
2 min readDec 29, 2020

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Quarenta e quatro mil palavras: Essa foi a quantidade que escrevi nos últimos meses. É muito mais do que um dia achei que fosse ser possível. É algo que realmente só as palavras podem dizer.

Foto retirada do We Heart It

Comecei a escrever meu primeiro romance* em Agosto. Foi uma experiência nova, e eu sabia que não bastava apenas sentar e começar a escrever: Era preciso planejamento, aulas de escrita criativa, dicas, conselhos, leitura sobre o que fazer (e não fazer), e muita, — muita mesmo — vontade de fazer acontecer.

Eu sempre quis escrever uma história, mas a ideia de escrever era muito solta, como um desejo que a gente adia ou abandona por medo de desistir no meio. E isso me aconteceu em 2014, 2016 e 2018. Eu começava, escrevia até cansar os dedos e no fim largava. Tenho uma coletânea de histórias incompletas, esperando algo de mim que não faço a mínima ideia do que é. Ou pelo menos não tinha ideia, até Agosto.

Investiguei qual era a raiz do problema, e após muitas madrugadas sem sonhos: Escrever um livro é um processo. Há erros, acertos, vidas em jogo. Há um enorme coração por trás das pulsações existentes em cada linha. E eu estava, mesmo que sem querer, pulando esse processo. Pulando a aventura de imaginar cada cena, evitando sentir direito a dor dos personagens, os dilemas, as alegrias e a vulnerabilidade deles — se é que isso é realmente possível.

Quando me dispus a olhar para dentro, a ensaiar cada diálogo e a deixar minhas emoções escreverem por mim, a história ganhou humanidade, e fez de mim uma mulher livre. Eu estava com medo de me expor, e isso também é uma armadilha.

Escrever com o coração é diferente de simplesmente escrever. É regar as palavras, eleger personagens favoritos e se permitir sentir cada frase.

Estou escrevendo uma ficção histórica que trata sobre repressão, algo contrário à liberdade. A repressão é algo presente nas nossas vidas hoje, mesmo que seja de forma sutil. É por isso que através da escrita me esforço para encontrar minha voz. A voz de alguém que quer ser livre das amarras que nos sufocam, nos rotulam, nos manipulam. É preciso coragem para colocar nossas palavras no mundo, e mesmo com medo, estou indo adiante.

Estou permitindo que a escrita me ajude a me libertar. À passos de jazz solo, se preciso for. Mas já sinto que a escrita fez de mim uma mulher livre, e isso é algo que nenhuma borracha ou corretivo é capaz de apagar.

*Por romance, entende-se sendo uma narrativa longa.

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