A fé e o medo caminham lado a lado em “Corações nas Sombras”

Resenha

Lucas Machado
Revista Subjetiva
4 min readDec 20, 2017

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Reprodução: Internet

Ficha Técnica

Título: Corações nas Sombras — Vol 1 : Presságios de Guerra
Autor: Allan Francis Salgado
Ano de Lançamento: 2016
Nº de Páginas: 736
Editora: Chiado
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Resenha

Em “Corações nas Sombras”, somos levados ao típico universo que desfruta da paz, que foi conquistada com muito esforço em uma união entre as raças para combater um terrível mal que os assolou há 200 anos atrás e selando-o em outro universo chamado de “Agonia”. Os responsáveis pela manutenção dessa paz são os membros do Alto Conselho, que resguardam pelo pacto entre raças em prol da paz.

Ao longo do livro, somos apresentados a diversos personagens, cada qual com suas características específicas e suas cicatrizes particulares também. Mas o que os une é um grande dragão negro, que corta o céu como o presságio do caos, mostrando seu sorriso maléfico como a morte. Este sinal é o início de toda uma conspiração por trás dessa paz que fora construída até então, por trás dessa reviravolta está o mago Tanor, a feiticeira Alessandra e Goldax, “O Imortal”, um orc mitológico que consegue junto a essas dois primeiros atravessar o selo e avançar em prol da liberdade e glória de sua raça que até então havia sido banida.

“O dragão não tinha compaixão em seu olhar, mas uma maldade refinada pelos séculos de existência. Mas o que mais se destacava era o sorriso — já havia visto algumas dezenas de dragões, mas nenhum que sorrisse de fora dissimulada e amedrontadora.”

Os personagens mais frequentes na história são Alfris e Selene, o primeiro é o guardião de um castelo e a segunda é uma grande feiticeira protetora de uma dos seis talismãs mágicos que foram utilizados para selar os inimigos dos reinos. O segundo é Tallis e Itzanami, dois jovens pertencentes ao grupo dos viajantes, o primeiro é um “caçador”, lendário guerreiro deste grupo, a segunda é sua irmã e vista como “inútil” por grande parte da população pois a mesma detém um defeito físico em sua perna, ambos são surpreendidos com a morte de um ente querido pelas chamas do dragão sorridente. Ilron e Alásia são jovens discípulos do Templo da Luz, um local que prepara jovens para o combate e a mágia, ele é sobrinho de Cirdan, o elfo presidente do Alto Conselho, ela é futura rainha de Vescra, que tem sua independência tirada por conta de um casamento arranjado por seus pais.

Outros personagens frequentas em “Corações nas Sombras” são o comandante Leon, a subcomandante Sarah e o misterioso elfo Cogar, os dois primeiros são responsáveis pela segurança de Abak, um reino intransponível que está nas mãos do corrupto prefeito Sorog, que a todo momento tenta tirar Sarah e Leon de sua “jogada”. O terceiro foi encontrado na Ilha de Sisam, uma das ilhas atacadas pelos orcs de Goldax e que Leon fora investigar o ocorrido, entre todos os mortos, ele foi o único sobrevivente. O último personagem tido como “protagonista” é o humano Gael, um inventor que constrói maquinas colossais que substituem a magia, ascendendo o debate sobre a necessidade da mesma naquele universo e criando diversos inimigos pela sua frente, incluindo Tirdan, o rei de Lessália e de todos os elfos.

“Havia poucas pessoas nas ruas. [Leon] Conhecia todas — senhoras, comerciantes, guardas. Em seu coração uma sensação de desolação surgiu. Temeu perder tudo aquilo, temeu que sua cidade fosse destruída.”

Após os cruéis episódios, todos se encontram no conclave do Alto Conselho, em que os problemas são apresentados e soluções prévias também, mas o futuro de Ifíanor até então se mostra com os dias contados, fazendo com que àqueles de coração puro se curvem as sombras em movimentos desesperados e com que a esperança seja apenas uma mera luz no fim do ano. A salvação para este universo depende de muitos fatores, entre eles o cumprimento de algumas profecias que serão reveladas durante o livro e da resolução de muitas intrigas palacianas e de mistérios que assolam figuras veneradas como deuses. Portanto, embarque em “Corações nas Sombras” e encare o fim de tudo.

“A fé é o que move este mundo.” — Tirdan, rei de Lessália

Veredito

Se pudesse definir “Corações nas Sombras” em uma palavra com certeza seria “completo”, de inúmeras formas, tanto na trama, quanto nos personagens apresentados e no universo que é construído de forma bem “amarrada”.

É difícil não criar afinidade com os personagens que nos são apresentados, inclusive com os vilões como Goldax, “O Imortal”, pois o mesmo toma atitudes drásticas pelo bem de sua raça, além disso ele também luta pelo “equilíbrio” dos orcs, para que os mesmos combatam a sua fúria interior e hajam com maior racionalidade.

Emerson “Camaleão”

A história não se limita a espada-sangue-espada, existe todo um debate sobre moral e ética por trás das ações, fazendo com que estes sejam recusados na hora do desespero, mostrando que estamos mais próximo da irracionalidade do que da racionalidade quando nos tiram tudo.

A edição e revisão do livro falham em alguns momentos, tendo alguns erros ortográficos por exemplo em algumas partes do livro, mas posso lhes assegurar que isso não diminui a experiência de forma alguma.

Para quem curte alta literatura e uma história bem amarrada, com muitas referências clássicas do gênero, “Corações nas Sombras” é o livro certo para você, o autor Allan Francis acerta em todos dos pontos, entregando uma obra-prima da literatura nacional.

Nota: 4,5

  • Originalidade: 1
  • Trama: 1
  • Personagens: 1
  • Edição: 0,5
  • Extra: 1

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Lucas Machado
Revista Subjetiva

Cientista social, professor de Sociologia e criador da Revista Subjetiva