A fantástica busca da música perfeita
Nunca sei como esquecer certas coisas. Sempre me esforço pra esquecer e acabo lembrando cada vez mais, e assim o exercício de esquecimento se torna um exercício de fixação, e fico sem tirar aquele assunto da minha cabeça em um loop infinito como a música que tocou no rádio do uber enquanto eu ia ao trabalho, logo após acabo cantarolando ela até a hora de voltar pra casa onde eu pego um ônibus e escuto uma música pior ainda que fica na minha cabeça até eu encontrar uma outra pior e depois outra, depois outra, depois outra e finalmente aos 37 anos percebo que nunca estive sem musica na cabeça, apenas mudei as melodias.
Assim, nunca estive sem uma mulher que teoricamente seria a mulher da minha vida, sempre estive com alguma e quando nós terminávamos, eu apenas a trocava por outra que durasse mais tempo na minha cabeça e assim segui até hoje.
Sabendo disso, hoje procuro a música que mereça ficar na minha cabeça eternamente. Abro o spotify e procuro nas descobertas músicas novas de estilos diferentes e gêneros totalmente contrários aos que eu já escutei em toda a minha vida, e assim escuto e leio suas letras, e a cada play eu penso se finalmente essa será a música, a verdadeira música que me acompanhará até meu leito de morte. Mas falho. Sempre me encontro com a pior música na cabeça, a que tem menos letra e mais bobagem enquanto as boas passaram por mim e eu nem liguei, ou se liguei foi só pra escutar uma vez e nada mais.
Não sei muito bem se meus métodos de encontrar a música ideal são certos. Talvez eu encontre a música ideal passeando no youtube, zapeando os canais de TV, numa confraternização da empresa onde todos estão bêbados ou voltando da aula de balé da filha que tive com a música errada.