INCONTÁVEIS II — A Gata Borralheira
Naquela época, a gente era burro, eu era burra. Quando entrei na escola e aprendi a escrever, começava a frase aqui e terminava lá embaixo.
A professora pegava na nossa mão, sabe? Fazia junto, palavra por palavra. Até a gente aprender. Mas aí, quando chegou a formatura da quarta série, eu era a melhor aluna da turma. Mas era boa mesmo, sabe? A nota máxima era 100 e eu fiquei com 95. Por causa disso, ganhei o livro da Gata Borralheira, tipo um prêmio. Li e reli várias vezes, encantada com a história. Sonhava que fosse acontecer comigo, sabe? Achava que era possível. Não é bem burrice, é mais uma inocência, né?
Um dia, na roça, achei um ninho de ratos. Quando vi aquele monte de filhotes já pensei que fosse acontecer igual no livro, que eu fosse ganhar um vestido lindo, igual o dela. Pois eu peguei os melhores ramos e preparei o melhor ninho possível. Coloquei até mais perto da casa, pra poder ir sempre conferir. Agora você não imagina o quanto que eu chorei quando o Nego, meu irmão mais novo, chegou contando que “deu um jeito” numa ninhada de ratinhos.
