A grama do vizinho
Desde muito cedo fomos treinados a comparar tudo o que existe. Passamos a nossa vida inteira pensando que tudo é comparável e que tudo pode ser melhorado, dia após dia. Mas nem sempre o sentido desse melhoramento é tão benigno. Principalmente se ele vier acompanhado da desvalorização do que já somos, ou mesmo, temos.
Em tempos de descarte ao invés de reciclagem, nada pode ser imperfeito. Afinal, existem tantos recursos para chegar à perfeição. Desde filtros de redes sociais a fotos conceituais, passando por empregos perfeitos e remunerações surpreendentes, como convidados todos os dias a nos comparar com os outros. A vida do outro parece mais perfeita, organizada e feliz, em resumo, a grama do vizinho parece sempre mais verde que a nossa.
Ledo engano. Não é possível comparar, porque são gramas com histórias diferentes, elas foram regadas com recursos diferentes em tempos distintos. A grama do vizinho não é nossa, como o próprio nome já diz, é do vizinho. E não cabe a nós desejar a história do outro, seria mais uma vez um engano, abrir mão do que somos para viver a história ou a vida do outro. Além disso, todos nós sabemos que aquele verde vistoso nem sempre é real, algumas vezes é só um material sintético, artificial.
Por fim, não é que a grama do outro seja mais verde, isso depende do ponto de vista e de como ele tem regado a sua própria grama, fazendo crescer aquilo que soma e agrega, sem espaço para ervas daninhas. A grama é mais verde onde é regada e alimentada com aquilo que há de melhor, sem importar o lugar onde está.
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