A Herança de Drik Barbosa

Rafael Moreno
Revista Subjetiva
Published in
4 min readOct 1, 2020
Direitos de Imagem: Bruno Trindade

“Drik Barbosa, não se esqueça, se os outro é de tirar o chapéu, nóis é de arrancar a cabeça”

Mandume foi, e é, uma das músicas mais poderosas que escutei em toda a minha vida. Imagine a responsa, e a força, em abrir essa música depois daquela introdução igualmente poderosa?

Pensei, “mano do céu, o que tá acontecendo aqui?”. Na sequência de combos do vindo de Drik Barbosa, Amiri, Rico Dalasam, Muzzike, Raphão Alaafin e Emicida, vi que tinha muita coisa ainda para aprender. Muita coisa ainda para escutar.

Mandume é um acontecimento.

Na sequência, Drik alçou voo mandando o que tava por vir no single Avua, acompanhada por Rael, Kamau, Coruja, Emicida e Fióti.

Sou preta, sou gueto, sou rap, força
Disseram que eu não deveria sonhar
Sonhei alto que nem Maya Angelou
Sou pássaro livre e tô pra cantar, mulher do fim do mundo
Eu sigo e vou
Como diz minha mana Alt Niss
Se eu for pra essas mina um espelho eu venci

Mais selvagem como nunca, com barulho de moto, estouro de doze, clicando as fotos e parando pra pose, tava mandando suas ideias single Selvagem, do lado da Dory de Oliveira, Souto Mc, Stefanie, Emicida e Fióti.

Sô hidra, se mata o perigo dobra
Buscando no som algo que me nutra
Proteja os meus do bote das cobra
Nem lycra, nem like, hoje sou lucra
O dever me chama, então mãos à obra

Foi quando, em 2019, ano seguinte do lançamento do seu EP Espelho, fui apresentado para seu álbum, Drik Barbosa. Voo solo, chamando todos para o rolê.

De corpo e alma rimadas em cada verso da história que nos contou sobre ela mesma, Drik Barbosa.

Os capítulos do álbum Drik Barbosa

Acredito que um álbum funcione como uma história em quadrinhos, onde cada canção é uma capítulo para se entender a obra completa.

Desde o título de cada faixa, as batidas, sua letra e seus refrões, tudo é montado para se contar uma história.

Drik nos apresenta um grande arco, envolvendo tudo que uma boa história em quadrinhos têm a oferecer: uma história de origem, tramas, batalhas, diversidade, liberdade, conquistas e um final esperançoso.

Nosso papo é sobre a primeira edição desse encadernado.

Herança

Não poderia ter título mais certeiro que esse. Na mosca! Quando ela manda o verso meu super poder é arte na minha mão”, me pego refletindo sobre as passagens dessa música e em como as mãos possuem um papel fundamental:

Elas estão presentes nas lembranças maternas “Te olho e vejo flores, mãe. No abraço acalanto, no olhar resume o quanto sua vivência foi difícil. São ossos do ofício, mãe. Enquanto me assume como cria, nove meses respirei junto contigo e ainda respiro.”

Estão presentes nas lembranças paternas “Das mãos calejadas, pai. Das roça às baquetas. Tocando a vida, na estrada é guia. Abraço, conselho, de coração gigante. Presente e distante, suor pra por a comida na mesa.”.

As mãos também funcionam como uma metáfora para a apoio e companheirismo. Com as bençãos da vó Deus te ilumine”, e o amor das irmãs “Abençoada por quem sou. Porque só sou porque elas são minha maior fonte de amor”, Drik, enfim, se faz sonhadora com o foco na missão:

Sonhadora, viva!
Veja o tempo passar sem dó
Nessa viva dura busco fazer o feliz durar
Vida que escorrega das mãos
Se não nos dermos as mãos é dor, é dor, é dor
Eles seguram minha mão
Mas não me impedirão de voar
Vamos sorrir pra guerra cessar

Por fim, a temos poderosa, heroína, aprendiz do rap ao samba, da vila pro palco, dotada do seu superpoder “baby, tudo que eu tocar faço virar canção”.

Mano, ela é genial! Olha a sutileza que vemos a seguir, no melhor estilo Tio Ben que diz “com grandes poderes vem grandes responsabilidades”

Mil vezes mais forte
Mil vezes mais ágil
Mil vezes mais forte
Mil vezes mais alvo
Mil vezes mais ágil

Ela se coloca na linha de frente. Muito mais forte, muito mais ágil, disposta a fazer e acontecer. Abençoada pela herança que recebeu da sua família e ciente de que passará a ser um alvo daqueles que não conseguem aceitar o quão grandiosa ela nasceu pra ser.

Drik Barbosa ao vivo e a cores

Nem preciso falar que precisa ouvir esse álbum pra ontem, não é mesmo? Isso porque esse só foi o primeiro capítulo desse encadernado que leva o mesmo nome da nossa heroína.

Outra parada, rapidão. Depois de ouvir, dá um pulo no canal dela e dá uma ligada no álbum visual. O cenário, o jogo de cores, as participações, cada pedaço daquele ambiente que, por vezes fica mais claro, por vezes é iluminado pelas luzes que refletem, em cada música, uma sensação.

Seu álbum visual é pura poesia colorida.

E aí, cê tá esperando o que?

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