A incrível (ou não) opinião dos outros e eu

Ideias, desenhos e caraminholas

Regiane Folter
Revista Subjetiva

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Esse é um post com alguns desenhos sobre a relação entre bonecos de palito.

Essa sou eu, vivendo minha vida feliz de boneca de palito.

Um belo dia, chegou o Outro. O Outro pode vir no formato de amigo, familiar, colega de trabalho, etc etc etc. Claramente o Outro pode ser também a Outra, então a partir de agora direi Outrx.

Embora nossas estruturas sejam simples rabiscos, muitas interações complexas podem acontecer entre dois bonecos de palito. Com Outrx, posso ter conversas reveladoras, momentos alegres, crises de riso ou de choro, intercambios de ideias e muitas outras interações positivas.

Com o tempo, talvez a importância de Outrx cresça na minha vida e nos tornemos mais e mais queridos um para o outro. E eu vou apreciar quando essa pessoa pensar bem de mim, porque isso me faz feliz e porque valorizo sua opinião.

Por outro lado, Outrx pode ser uma pessoa não tão legal. Ou, simplesmente, possa ser muito diferente de mim. Ou pode acontecer da gente não ir muito com a cara um do outro. Por “n” razões, podemos não nos conectar. Bom, nem sempre dá pra se dar bem como tudo mundo, né?

Os resultados dessa falta de conexão podem variar desde “não ser amigos” até “ser inimigos mortais”. O fato é que nossas interações não serão muito positivas ou nem existirão. Estranhamente, o que essa pessoa pensar de mim também vai me afetar — provavelmente de maneira negativa.

Fazendo essa reflexão, um dia cheguei a uma conclusão terrível, uma revelação que sacudiu meus palitos e empalideceu o azul da caneta Bic: não importa quem seja Outrx, a sua opinião sempre vai ter importância para mim!!!

Boa ou má, construtiva ou depreciativa, cinzenta ou colorida: a opinião alheia, seja ela qual ou como for, sempre teve um significado importante na minha vida.

Algumas razões para isso são:

a) Querer ser bem vista, querida, admirada

b) Detestar confrontações

c) Mania de perfeição

d) …

Família, amigos, gente que eu gosto, gente que não gosto tanto, basicamente toda a galera que de alguma forma tem relação comigo, em algum momento pensaram ou pensam algo sobre mim. E muitas vezes o que elas pensavam ou pensam tem uma grande influência em minha pessoa. Suas opiniões podem me deixar feliz ou me entristecer, me enaltecer ou me nocautear, me ajudar ou me fazer chorar. E como são muitas as pessoas com que me relaciono todos os dias, às vezes me sinto numa montanha-russa de opiniões que me levantam ou me fazem cair.

Tudo isso é em parte muito natural. Viver num mundo cheio de bonecos de palito pensantes torna quase impossível não dar valor à opinião alheia. Isso porque conviver e criar laços com Outrxs, positivos ou negativos, significa abrir-nos à influência de ideias diferentes. E está bem valorizar o que pensam os demais, escutar, refletir e até buscar aprender a partir do que te dizem. O problema é quando a opinião delas começa a importar mais que a sua.

Acredito que há poucas pessoas que passaram pela minha vida cujas opiniões não me importaram nem um pouco. Na maioria das vezes, foi bem ao contrário. Por um lado, Outrxs queridos e o peso das suas expectativas sobre mim. Por outro lado, Outrxs tóxicos e seus pensamentos que machucam. E aqui vou eu, pulando de opinião a opinião, mudando o que sou ou o que quero ser de acordo com o que Outrxs querem escutar.

É desgastante. Escuto tantas vozes que não tenho tempo nem energia para ouvir o que a minha tem pra dizer. Justo a minha, que é a melhor conselheira já que é a única que me acompanha em tudo que sou, é a voz que prefiro calar. E todas essas tentativas frustradas de ser camaleão e moldar minha essência me fazem sentir pequenina, indefesa e inútil.

Felizmente, faz algum tempo que pensei tudo isso e percebi que era muito mais feliz quando colocava fones de ouvido para não escutar as vozes dos Outrxs pra me concentrar na que tenho dentro de mim. Sempre fui uma boa ouvinte e gosto de escutar os conselhos e ideias daqueles que sei que me querem bem. Mas precisei aprender a ser surda para opiniões que não trazem nada de bom. E, mais importante ainda, sigo aprendendo a seguir meu próprio caminho e a trilhar as rotas que meu instinto diz pra seguir, mesmo quando todos parecem pensar o contrário.

Só quero ser uma boneca de palito serena, feliz, em paz. Uma boneca de palito assim como sou, com meus defeitos e qualidades, e também a certeza inabalável que a gente pode falhar, acertar e continuar tentando. Nesse trajeto, as opiniões de Outrxs podem me ajudar a caminhar. Podem mostrar atalhos, ser ferramentas que necessito, incentivos para mudar sempre para melhor. Mas nunca poderão substituir minhas próprias ideias, planos e objetivos.

Não é fácil filtrar os comentários alheios por aí e não permitir que eles abalem minha estrutura. Se você se importa com a opinião dos Outrxs tanto como eu, sabe que é difícil ignorar ou fingir que não está nem aí. Mas aos poucos, um dia de cada vez, podemos alcançar pequenas vitórias e ir dando baby steps. Aprendendo a valorizar o que somos, entendendo que queremos e priorizando nossas ideias e certezas. É assim que vamos encontrando a liberdade luminosa que existe em ser apenas quem somos.

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Regiane Folter
Revista Subjetiva

Escritora brasileira vivendo no Uruguai 🌎 Escrevendo em português e espanhol 🖋️ Compre meus livros: https://www.regianefolter.com/livros