A indiferença mata

Le Chieppe
Revista Subjetiva
Published in
2 min readMar 29, 2021
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Não se chocar com todo o horror que essa pandemia traz é normalizar o absurdo. E eu me recuso a crer que existem pessoas que não se afetam pela dor dos outros, que não se sensibilizam pelas mortes das pessoas que não conhecem, que não sentem a profunda tristeza das famílias que perderam alguém querido sem a chance de se despedir.

Me recuso a crer em uma humanidade indiferente, seca, fria e, ainda assim, me deparo com pessoas indiferentes. Com aglomerações de final de semana, festas clandestinas e bares lotados. Com gente que dá de ombros para os profissionais da saúde esgotados há mais de UM ANO se desdobrando para cuidar de nós.

Meu coração aperta só de escutar o jornal. Me emociono todas as vezes e dói muito saber que a gente não tem pra onde correr para se proteger de todo esse caos.

Vejo, assustada, que a empatia se reserva para posts em redes sociais. É bonito ser empático, né? Replicar uma frase bonita que carrega o vazio de não ser acompanhada de atitudes concretas. Escuto, completamente perplexa, algumas falas sobre esse período que são capazes de banalizar as milhares de mortes que a gente vem testemunhando.

Do lado de cá me limito a sentir em silêncio a saudade dos parentes que não posso ver porque estão longe, sem saber ao certo quando será meu reencontro com essas pessoas queridas.

Quero vê-los o quanto antes e para isso tenho que contar com o mínimo de bom senso de um tanto de gente que nem se incomoda se está ou não contaminando aqueles ao seu redor.

E fico repassando na minha cabeça a frase “Ainda que imposta há que rejeitar-se a normalização do absurdo” como um lembrete que pisca em letras luminosas. Como é que tem tanto absurdo sendo normalizado por aí?

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