A inevitabilidade das profecias em O Mundo de Quatorian

Lucas Machado
Revista Subjetiva
Published in
5 min readJan 17, 2018

Sobre

Autora: Cristina Pezel

Editora: Mundo Uno; Edição: 1ª (11 de setembro de 2017)

Capa comum: 280 páginas

Onde comprar: Amazon (Físico/E-book)

Resenha

Teriva de Khor é um jovem predestinado há um futuro glorioso desde o início de sua história, mesmo que seu choro anunciará a morte de seu pai há quilômetros de distancia do local de seu nascimento. Togevus de Khor perderá a vida no Post-Marana, uma batalha em que homens controlam feras colossais até a queda de um. Contudo, a família Khor não perderá apenas um membro, mas também todo seu prestígio social e sua fortuna. O algoz do pai de nosso jovem protagonista é Vorten Mibos, um forte e excêntrico cavalheiro que põe suas decisões e sua sede de poder acima de tudo e de todos.

Desde sua infância, o grande sonho de Teriva é chegar ao posto de guardião e cumprir os nove sóis azuis — anos na cultura de Quatorian — na Fronteira de Endi, no Castelo Branco. Mas, para alcançar o seu objetivo e devolver o prestígio a sua família, Teriva deve passar por outras etapas que todo jovem de Quatorian deve passar, medindo a sua força e também a grandeza de seu destino. Ao longo de seu caminho, nosso pequeno herói descobre não apenas o grande potencial que há dentro de si, mas também sentimentos que todo jovem descobre em certa idade. As primeiras borboletas no estomago, a primeira desavença com um amigo, encarar o primeiro “valentão”, dentre muitas outras acontecimentos que são retratados em sua trajetória.

“Vorten tinha a frieza de uma rocha estranhada em uma muralha, indiferente, alheia ao mundo e seus sofrimentos.”

O que Teriva não sabe é que por trás de todos os acontecimentos que o cercam, existem mistérios e profecias rondando não apenas sua aura, mas também a de todo os cidadãos de Quatorian. O destino de gerações está nas mãos de um plano maligno que pretende acabar com a paz que fora estabelecida desde a Guerra Última, em que o combate foi proibido. O retorno de bestas que não habitam mais as terras de Quatorian que foram banidas para além da Fronteira é o prenúncio do fim de uma Era e o início de uma nova Era.

Teriva e seus companheiros devem se preparar para o início do fim que se aproxima de suas almas, o seu primeiro objetivo é apenas algo pequeno perto do que estar por vir. O seu grande inimigo foge das fraquezas humanas, vai além da bestialidade e do sobrenatural. Sua chegada é anunciada pela vívida cor laranja da lava que percorre a montanha e acaba com tudo que está perto. A profecia irá se cumprir, mas será que seus envolvidos estão preparados? Descubra em “O Mundo de Quatorian”.

“A tristeza de Maron e dos viajantes no trecho final fora algo duro de suportas, e, três sóis-azuis depois, o retorno pela mesma estrada fazia as lembranças desagradáveis da perda dos rapazes que haviam cumprido sua missão leamente em Crystallos.”

Veredito

Em “O Mundo de Quatorian” temos uma envolvente e corajosa história que narra a trajetória do herói de Teriva de Khor em sua mais tradicional forma. A autora se faz corajosa por abdicar dos tradicionais combates que rondam livros de fantasia épica, pois a mesma opta por dar uma maior complexidade para os seus personagens, enchendo-os de bons diálogos e, o melhor, de vivências que se assemelham as nossas, fazendo com que nosso jovem protagonista fique cada vez mais perto de nós.

A escrita de Cristina é fluída, bem descritiva e consegue fazer com que você visualize bem Quatorian. Por mais que a narrativa seja lenta por conta da falta de acontecimentos grandiosos durante boa parte do livro, o mesmo constrói a sua proposta de forma eficaz, de “grão em grão”. Tanto que ao final do livro conseguimos visualizar toda a trajetória linear que nos é contada pela mesma, fazendo com que a jornada do leitor faça muito sentido.

O universo de Quatorian é muito bem aproveitado, somos levados de uma ponta a outra, a autora utiliza o mapa que a mesma criou ao longo da história de forma primorosa.

Os personagens são muito cativantes, eles possuem muitos questionamentos internos por serem crianças/adolescentes, por isso muitos possuímos muitos sentimentos em comum, gerando uma grande identificação. Até os coadjuvantes da história conseguem ter um destaque, fazendo com que eles façam sentido para a história, que suas contribuições não sejam em vão. O vilão possui um dos arcos mais bem construídos da história, pois no começo você o vê como um homem comum, com alguns excessos, mas ao longo de sua trajetória você acompanha a sua transformação, de “grão em grão”, até que no final seus excessos se transformaram em loucura total e você vê um grandioso vilão.

A edição do livro é confortável para a leitura, a capa do mesmo dispensa comentários, pois sem sombra de dúvidas é a mais bonita dos nacionais recém lançados. O trabalho do ilustrador “Camaleão” é primoroso e envolvente, conseguiu dar vida a um dos episódios do livro de forma muito eficaz e poderosa. Além da capa, há edições também durante a história, fazendo com que a sua imaginação ganhe mais ainda potência ao visualizar os personagens narrados.

“O Mundo de Quatorian” é um livro que consegue fazer com que o leitor cultive a nostalgia dos seus primeiros momentos ao mesmo tempo em que Teriva, Vinich e Julenis passam por eles. Os grandes mistérios a serem resolvidos e descobertos deixados para o Volume II faz que o primeiro livro seja um ótimo livro de apresentação do grandioso mundo de Quatorian e de seus personagens. O livro é, sem sombra de duvidas, uma narrativa que te cativa não pelo sangue que banha a espada, mas sim pelos bons sentimentos que a mesma gera em cada leitor.

Nota: 4.0/5

  • Trama — 0.5/1
  • Personagens — 1/1
  • Originalidade –1/1
  • Edição — 1/1
  • Ponto Extra — 0.5/1

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Lucas Machado
Revista Subjetiva

Cientista social, professor de Sociologia e criador da Revista Subjetiva