A pior parte de escrever é colocar o ponto final

Vitor Duplomalte
Revista Subjetiva
Published in
2 min readJan 12, 2022

Sou péssimo em pontuação gráfica em todos os sentidos. De vez em quando eu até consigo pôr umas vírgulas aqui ou ali, mas geralmente a minha maior dificuldade é em pôr ponto final. Sinto que o parágrafo poderia continuar um pouquinho mais se eu me esforçar e conseguir dar uma boa continuação pra essa história mais ou menos, ou se eu criar uma reviravolta que te deixe sem ar de tão incrível que essa reviravolta foi e você não queira mais parar de ler nem pra respirar, meu deus, eu preciso respirar de vez em quando porque quando eu escrevo eu leio três vezes e tenho asma então acho que é aqui que devo pausar. Então respiro. E penso no próximo parágrafo.

Meu professor dizia que o parágrafo era o momento de respirar, silenciar e voltar, mas não voltar do começo e sim da parte mais relevante, a parte que não toque no assunto tão delicado que eu tô evitando tocar. E não sei se eu disse, mas seu sorriso tá lindo hoje. Fez alguma coisa no cabelo? Não, é que eu tô te sentindo diferente, mas de um jeito bom. Sei lá, faz tempo que eu não te vejo bem, não que eu imaginasse que você morreria sem mim, mas sinceramente e adianto logo minhas desculpas, mas uma parte de mim ficaria feliz em saber que você morreria sem mim. Mas isso é impossível né? Tudo bem se disser que fui só uma linha quase irrelevante na sua vida, vou acostumar meu ego com a maldita ideia que não existe aquele papo de feitos um pro outro, afinal não nascemos grudados, mas eu facilmente morreria do seu lado e dividiria a mesma cama do IML e até aceitaria ser enterrado num fim de mundo qualquer que a sua família comprou o jazigo porque tava mais em conta. Mil perdões, eu deveria ter colocado um ponto final no primeiro parágrafo logo e postado o que havia escrito, ido dormir, chorado e percebido que não devia ter colocado um ponto final naquele dia que você pediu um tempo e eu acatei porque eu realmente achei que você viria, e como se fosse uma trama cômica de um romance você também achou que eu iria até você, mas surpreendentemente ninguém foi até ninguém e morremos pelo que não foi dito, logo nós que sempre falamos demais decidimos silenciar. Ironia né?

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