A polissemia é uma paixão antiga

Beruf, Arbeit.

Juliana Barreto Tavares
Revista Subjetiva
3 min readJul 28, 2017

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Nos conhecemos na pressa de uma encontro fortuito em um dia comum. Era uma tarefa de português que não havia feito, sem saída, colei de uma amiga. Conheci então um termo que iria me acompanhar em toda vida.

A pergunta era simples: Como se chama o fenômeno de uma palavra conter mais de um significado? Naquele momento — desconfio que talvez até hoje — não soube responder. Havia um significado único para as palavras? O que se queria dizer com aquilo, afinal?

Desconfio de minhas elucubrações desde muito antes de empregar essa expressão, acatei a sugestão da minha amiga e garanti o meu percentual da nota por cumprimento de atividades extra-classe. Ganhei uma palavra, mais uma para a minha coleção. Recebi com carinho, a desvirtuei muitas vezes, mas sempre lhe atribui novos sentidos, o que — imagino que — ela gosta.

A língua alemã é famosa pela sua exatidão de termos, pela sua precisão na forma e por palavras tão grandes como o seu PIB ou um cidadão médio. Não sei se por pequenez, confusão ou ambiguidade — talvez um pouco de tudo — , nunca aprendi alemão. Acho áspero e direto e na vida eu me contento em buscar delicadeza.

Mas hoje eu resolvi falar sobre escrita, uma palavra mais polissêmica que qualquer recurso semântico. Eu que penso, sofro e sorrio em português, acabei fraquejando e apelei para intervenção externa para falar do meu bem mais precioso.

Esses dias conheci um dos meus escritores preferidos. Na verdade, conhecer é uma palavra muito forte, porque para conhecer é preciso intimidade e cavucar na alma, eu apenas o vi pessoalmente — sejamos precisos, o assunto de hoje é precisão. Voltei empolgada e corri para contar tudo para as minhas melhores amigas, numa atitude bem quinta série, que é, na verdade, o estado mental em que me conservo até hoje.

Escolho meus amigos pelo brilho no olhar — ou esquisitice no trato — e me recuso a lidar com quem não entende o vibrar de almas, de conexão com as bruxas que sabemos não existir. Não tenho paciência para quem não entendeu o invisível.

Minha amiga entendeu o poder do invisível que me conecta com a escrita e me trouxe à tona um termo em alemão — acho chique gente poliglota, recomendo! Ela explicou: Em alemão, há a palavra beruf, que significa “chamado”, que é como a sua missão. Há também a palavra arbeit, que significa “ofício”. Os dois casos se referem a trabalho, sorte é poder juntar os dois.

Nesse exato momento quis me inscrever no Instituto Goethe, só para poder definir os significados escondidos nas palavras que uso levianamente. Mas esse texto não é sobre frustrações linguísticas, é sobre a escrita. Sobre poder ter um arbeit em harmonia com o seu beruf.

Esse texto poderia se resumir nos dois últimos parágrafos — já falei que sou prolixa? — , mas queria um pretexto a mais para escrever.

Mais uma dose, mais uma linha. No uso descomedido de polissemias, nas frases e crônicas sem fim de uma dia comemorativo.

Este texto faz parte do Especial: Dia do Escritor da Revista Subjetiva, que se inicia no dia 25 de julho.

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